A quem visita Lisboa eu sempre recomendo sempre tirarem um dia (pelo menos) para visitarem Sintra. Eu até diria que Sintra merece para aí uns 3 dias para se puder ver tudo ao pormenor, mas qualquer que seja o tempo passado nesta vila é certamente tempo bem passado.

Do centro de Lisboa a Sintra a viagem fica a cerca de 1 hora. O mais fácil é apanhar o comboio da CP para Sintra que parte várias vezes durante o dia do Rossio. Será mais tempo em dias de greve que visto estarmos a falar de Portugal é sempre um bom costume verificar. A estação de comboios em Sintra fica a cerca de 5-10 minutos do centro da vila e desde o momento em que saímos do comboio percebemos o porquê de Sintra ser tão aclamado. A casa amarela de estilo castelo levanta a ponta do véu do que Sintra tem para oferecer (fotografia em baixo à esquerda).


Se podem vir de carro? Podem, mas apenas se tiverem paciência e alguma teimosia. A maior parte da cidade está interdita à circulação de carros, não contando com os milhares de pessoas que acham que andar a passo lento no meio da estrada é de bom gosto. Depois também há aqueles ruazinhas que se forem de duas direções é para os tempos em que o que circulava eram carroças e dois burros. Ou quatro, dependendo de quem ia em cima das carroças.
O meu conselho é – se vierem para visitar a vila e a floresta venham de transportes. Se quiserem apenas visitar algo em particular que não tenha de passar pelo centro da Sintra podem trazer o carro. A última vez que estive em Sintra deslocamo-nos de comboio e depois com a ajuda de um Uber. Foi uma viagem muita mais fácil de fazer do que quando se veio de carro em vezes anteriores.
Padaria Saloia

Agora chegam a Sintra e o que têm de fazer? Eu diria que tomar o pequeno-almoço na Padaria Saloia – o pão de queijo e fiambre feito na hora é de morrer e chorar por mais, mas para mim nada bate o pão com farinheira. Para alguns pode ser uma escolha inadequada para o pequeno-almoço mas que põe um sorriso na cara, ai isso podem crer. Ainda antes de lambuça fomos ao posto de turismo a cerca de 5 minutos, ou talvez menos, da estação de comboios onde comprámos os bilhetes para o que queríamos visitar nesse dia. A escolha é difícil entre o Palácio Nacional de Sintra, o Palácio da Pena, o Palácio de Monserrate e a Quinta da Regaleira. Falarei de todos porque felizmente já tive oportunidade de visitá-los alguns até mais do que uma vez.

Palácio Nacional
E comecemos pelo Palácio Nacional de Sintra, mesmo no coração da cidade, também conhecido como Palácio da Vila. Há uma maneira muito fácil de reconhecer este palácio, pelas suas duas grandes chaminés.

Apesar de se desconhecer a data certa de quando foi construído o primeiro edifício deste palácio, pensa-se que foi por volta do século X ou XI, quando Sintra pertencia ao domínio islâmico. Sendo Sintra uma zona de muita caça e com um clima mais fresco do que a capital, este era um local de eleição de monarcas portugueses. A visita acaba num pequeno jardim e em frente têm uma maravilhosa vista para o castelo dos Mouros, outro ponto importante na cidade que falarei mais a frente.
Piriquita
Estando no centro de Sintra depois da visita ao Palácio era altura de recarregar energias e nada melhor que a Piriquita. Numa estrada apertada eis que encontram este pequeno paraíso da doçaria portuguesa. Entre várias escolhas como as queijadas e pastéis de Sintra às nozes douradas tudo enche o olho. Os doces mais tradicionais neste local são os travesseiros de Sintra e foi isso que escolhemos – massa folhada polvilhada com açúcar, uma fantástica delícia ali no meio de uma vila repleta de história e beleza.


A Piriquita é talvez a padaria mais conhecida da vila fundada em 1862. O nome da padaria veio da alcunha atribuída ao reio D. Carlos I devido à sua baixa estatura. Este rei era um grande apreciador de queijadas que se tornaram um sucesso imediato da padaria. O travesseiro de Sintra foi criado na década de 40 e tal como nós, muitos são os fãs do doce de ovos envolto numa massa folhada polvilhada de açúcar. É impossível resistir.
Quinta da Regaleira


Antes de nos aventurarmos por dentro da Serra de Sintra existe outro local cheio de simbolismo, a Quinta da Regaleira. Já visitei este local duas vezes e não me parece que vá ficar por aqui. António Augusto de Carvalho Monteiro, também conhecido por “Monteiro dos Milhões”, foi quem mandou construir esta quinta cuja construção teve início em 1904 até 1910. Nesta quinta estão espelhados os interesses culturais, filosóficos e científicos do proprietário milionário. O simbolismo e esotérica da Quinta da Regaleira ainda esconde mistérios que muitos tentam descobrir, adivinhar ou idealizar.


O palácio em si é o edifício mais imponente da quinta, mas há outros pontos interessantes como a torre, a capela da Santíssima Trindade, o patamar dos deus e talvez o mais conhecido e falado, o poço iniciático. A escadaria leva a 9 andares que se acredita fazer alusão ao 9 círculos do Inferno referenciado na obra da “Divina Comédia” de Dante. Também pensa-se que neste poço aconteciam rituais de iniciação à maçonaria, o que deu o nome ao poço. Pouco interessa se visitam a quinta para descobrir símbolos, encontrar pistas ou simplesmente para visitar um local de beleza imensa. Uma coisa é certa, a Quinta da Regaleira nunca pode ser deixada de lado para quem tem a sorte de se encontrar em Sintra.


Dentro da Mata de Sintra
Depois de meio-dia feito nesta maravilhosa vila, eis que nos embrenhámos na serra e “fugimos” ao centro da vila. Primeiro fomos até ao Palácio de Monserrate. Há várias maneiras de ir lá ter a partir do centro de Sintra – podem ir a pé que foi o que fizemos no regresso do palácio ao centro de Sintra, podem apanhar um Uber que foi a nossa escolha ou então podem aproveitar os autocarros turísticos que fazem o percurso entre as várias zonas da serra de Sintra. Existem dois autocarros o 435 e o 434. O 434 faz o percurso até ao Palácio da Pena. O percurso começa na estação de comboios e pára em vários pontos como o Castelo dos Mouros, Palácio da Pena, centro da vila e de volta à estação. Este é chamado “Percurso da Pena”. O 435 chama-se “Vila Express 4 Palácios”. O percurso também começa na estação de comboios de Sintra e passa pelo centro da vila, Quinta da Regaleira, Palácio de Seteais que hoje é um hotel e o Palácio de Monserrate. Tal como o autocarro 434 este faz a volta até à estação de comboios. O preço de cada bilhete de autocarro fica a cerca de 8 euros para o 434 e 6 para o 435. Mais barato ficará se juntarem o passe diário comboios CP e autocarros da Scotturb por 16 euros que inclui todos os circuitos da companhia. Qualquer que seja o percurso que escolham podem sair e entrar as vezes que quiserem nas paragens incluídas no vosso itinerário escolhido. Usar este serviço foi a nossa primeira opção, apenas alterado pela fila enorme de pessoas que esperavam por estes autocarros na paragem da vila. Desistimos logo e escolhemos um Uber, até porque ficou bem mais barato uma vez que pagamos menos de 10 euros por 3 pessoas até ao Palácio de Monserrate. Mas se quiserem visitar vários sítios fora do centro de Sintra no mesmo dia, talvez os autocarros não sejam uma ma opção. Eu deixo aqui o link para vossa consideração: https://scotturb.com/pt/.
Palácio de Monserrate

Já há bastante tempo que queria visitar este palácio de arquitetura magnífica. A história do palácio começa em 1540 quando o Frei Gaspar Preto mandou construir uma ermida dedicada à Nossa Senhora de Monserrate. A sua construção foi baseada no mosteiro de Montserrat na Catalunha. Desde o seculo XVII até 1846, o palácio e jardins envolventes passaram por diversos donos e vários anos de abandono. Mas mesmo em abandono muitos estrangeiros eram atraídos pela magnífica arquitetura do edifício. Em 1846 Francis Cook um comerciante e colecionador de arte inglês tornou-se dono da Quinta de Monserrate e torna-se o primeiro Visconde de Monserrate. E foi assim que nasceu o edifício que podemos hoje visitar, um edifício cheio de influências góticas, indianas e mouriscas.


Os jardins também tiveram uma transformação enorme onde espécies de várias partes do mundo foram trazidas para aqui e organizadas por áreas geográficas. Passear pelos vários jardins e pelo palácio com as suas diversas salas como a sala da música e pelos corredores com os seus muitos rendilhados é uma das melhores experiências que se pode aproveitar em Sintra.


Queijadas da Sapa
A meio da tarde nada como ir até ao Palácio da Pena. Se estiverem a passear em Sintra através da rota de autocarros Scotturb, recomendo que façam uma pequena paragem no centro da vila para comer uma Queijadas da Sapa. Este lugar reclama ser a origem das queijadas, criando este maravilhoso pastel desde 1756. As queijadas deliciosas e estaladiças fazem um pequeno lanche perfeito para quem está “entre palácios”.


Se tiverem no meio de Sintra num daqueles dias abrasadores nada como ir aos Gelados de Portugal onde podem escolher sabores tradicionais portugueses como ovos moles de Aveiro, Pastel de Nata e Bolacha Maria. O difícil é escolher.
Castelo dos Mouros


Do centro da vila até ao Palácio da Pena e Castelo do Mouros é possível aventurarem-se por entre o bosque da serra. Se estiverem com tempo ou melhor ainda se estiverem a dedicar um fim-de-semana inteiro a Sintra, subir a serra é algo que recomendo imenso. Fi-lo várias vezes e não vale a pena pôr paninhos quentes – custa mas vale a pena. E podem sempre ir fazendo intervalos pelo caminho, aproveitando também para tirar fotografias à paisagem que se estende até ao mar. O Castelo dos Mouros ergue-se em cima da encosta que tal como o nome indica foi construído pelos Mouros no século X. É bastante bonito passear por esta fortificação e explorar os vários caminhos à volta do castelo.
Palácio da Pena
E chegamos ao Palácio da Pena – a joia de Sintra – o colorido palácio que também ele esconde simbolismos, mistérios e beleza dentro de si. Este maravilhoso palácio foi classificado como Monumento Nacional em 1910 e desde 1995 como Património Mundial da Humanidade pela UNESCO. Desde 2013 o Palácio da Pena faz parte da Rede de Residências Reais Europeias e em 2020 começa a fazer parte da “Rota Europeia de Jardins Históricos” que integra as “Rotas Culturais do Conselho da Europa”.

Acho que não me preciso estender muito o porquê deste ser o mais famoso palácio de Sintra. O palácio é um dos melhores exemplos do revivalismo romântico do século XIX em Portugal. Este foi construído onde antigamente estava erguido um mosteiro pertencente à Ordem de São Jerónimo. Foi o rei consorte, D. Fernando de Saxe Coburg-Gotha casado com a rainha D. Maria II, que adotou as formas arquitetónicas e decorativas que hoje se refletem no palácio juntando vários tipos arquitetónicos como neogótico, neomanuelino, neoislâmico e neorrenascentista. Se puderem, aconselho a verem de aqui o pôr do sol, no topo da serra, com a vila a vossos pés num palácio próprio de rainhas e reis.
Casa do Fauno
Se conseguirem passar a noite em Sintra, tenho duas sugestões para vos fazer. Na verdade, é mais uma sugestão misturada com uma segunda. Bem vou-me deixar de rodeios e passar ao que interessa.
Casa do Fauno fica num recanto escondido, numa rua estreita e inclinada ao pé da Quinta da Regaleira. A Casa do Fauno é um pub medieval onde podem experimentar vários tipos de hidromel desde o tradicional ao hidromel com maçã, groselha, especiarias e até a versão picante, o chamado Bafo de Dragão. Neste pub há uma intensa atmosfera de ocultismo e magnetismo revolvendo sobre o facto de a serra de Sintra ser considerada sagrada. Este é um dos sítios que eu recomendo para passar uma noite em Sintra com uma refeição leve e bebidas diversas. A segunda sugestão que mencionei acima é organizada pela Casa do Fauno, uma caminhada guiada à noite pela Serra de Sintra.

Nós fizemos a tal Caminha Nocturna que começou na Casa do Fauno até ao interior da serra e de volta ao ponto de partida. Durante a caminhada a guia vai parando e contando lendas e histórias de fantasmas ou de mistérios que aconteceram nos vários pontos. Digo já que não é nada assustador e quando fomos até crianças se juntaram ao grupo. É giro caminhar pela serra à noite, um local onde desde pequena ouvia que se faziam rituais satânicos e bruxas dançavam à volta de fogueiras. Para se juntarem à próxima caminhada é preciso proceder a inscrição prévia e cada pessoa paga 15 euros. Normalmente estas caminhadas são feitas à Sexta-Feira entre as 9 e as 11 da noite. Passarão um serão diferente, mas nada é mais apropriado para a serra de Sintra.
Sugestões para itinerários
Eu fiz este post como se fosse para um dia só, mas para aproveitarem bem Sintra e a serra eu diria que 3 dias é o ideal. Para verem Sintra com calma, recomendo:
Primeiro dia
- Padaria Saloia
- Palácio Nacional de Sintra
- Quinta da Regaleira
- Queijadas da Sapa
Segundo dia
- Caminhada pela serra de Sintra até ao Castelo dos Mouros
- Palácio da Pena
- Casa do Fauno
Terceiro dia
- Piriquita
- Palácio de Monserrate
- Costa do Estoril: Cabo da Roca, passeio marítimo de Oeiras e Cascais (tudo no próximo post!)
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One thought on “Sintra, uma vila de esoterismo e magnetismo”