Primeiro dia
O primeiro dia, Sábado, começou cedo, pelo menos para os nossos padrões. Gente que gosta de dormir até ao meio-dia tudo que seja levantar antes das 9 é igual a espetar pregos nos olhos. O pequeno-almoço foi tomado às 9 da manhã e às 9 e meia estávamos prontos para ir apanhar o autocarro. O pequeno-almoço foi simples mas mais do que suficiente que para além do pequeno-almoço continental com cereais. queijos, fiambres e afins ainda comemos umas torradas com ovos mexidos. Como eu nunca tomo pequeno-almoço sem ser durante as férias, este é normalmente um dos momentos mais apreciados pela sua raridade. E sim, também é verdade que se acordo ao meio-dia não preciso de pequeno-almoço.

Chegámos ao centro de Oxford ainda não eram 10 e fomos logo para uma das partes centrais da cidade, talvez um dos locais mais fotografados, a praça onde se encontra a Câmara Radcliffe. O edifício funciona como biblioteca e faz parte do complexo das bibliotecas Bodleian que falarei já de seguida. Esta livraria faz parte da universidade de Oxford, como basicamente 90% da cidade. À volta deste edifício que é um ponto obrigatório de paragem encontra-se a Igreja da Virgem Maria, a qual tivemos oportunidade de visitar. Lembro que a igreja também pertence à faculdade (esse vai ser o tema de qualquer local que tenhamos visitado, não seria a universidade de Oxford uma das mais conceituadas e conhecidas mundialmente).


Apesar de não termos entrado dentro da Câmara Radcliffe fomos visitar a biblioteca Duke Humfrey, que fica mesmo ali ao lado e que também pertence ao conjunto das bibliotecas Bodleian. Para visitar a biblioteca apenas com guia e o preço do bilhete da tour que demora meia hora custa 9 libras por adulto. Outra particularidade desta tour é que é proibido tirar fotografias no interior da biblioteca. Eu sei que para os instragrammers e aficionados do facebook a partir deste momento a biblioteca já foi retirada da lista. Mas aconselho a visitá-la de qualquer das formas. E não para ir tirando fotografias à socapa para depois se ir gabar publicamente que conseguiram tirar fotografias onde é proibido o que apenas mostra que deve ficar em casa quem não sabe seguir regras básicas.

Esta biblioteca é a mais antiga de Oxford tendo sido construída entre 1610 e 1612. As grandes mesas de madeira escura, os vitrais e as altas prateleiras cheias de livros antigos, raros e valiosos são um conjunto que vai fazer suspirar qualquer aficionado da leitura. Não vale a pena pensarem que se não conseguem tirar uma fotografia ao menos que levem um livro, porque todos os livros tem alarme. Esta biblioteca também tem a particularidade e, talvez esta seja a razão de muitas pessoas virem até cá, de ter sido palco de gravações dos filmes do Harry Potter. É nesta biblioteca onde se encontra a “secção restrita” da biblioteca em Hogwarts. Pelas histórias que se contam, o ator não ficou muito bem visto quando ao primeiro dia tirou um livro da prateleira e fez soar os alarmes.
Uma sugestão é visitar esta livraria ao Sábado porque não há estudantes na biblioteca. Ou se pelo contrário quiserem ter contacto com a vida estudantil da universidade de Oxford visitem-na durante a semana chatear quem anda a fazer trabalhos e a estudar para exames.

Outro ponto da cidade a não perder, apesar de ser só de passagem é a ponte dos suspiros (Bridge of Sighs). Apesar de ser um ponto turístico, há muitas histórias (falsas) relacionadas com a ponte. Uma das lendas conta que a ponte foi erguida em 1914 como réplica da ponte dos suspiros em Veneza. No entanto, essa nunca foi a intenção. Na verdade, a ponte é mais parecida com a ponte Rialto em Veneza do que a ponte que partilha o mesmo nome. Outra história que também é falsa conta que a ponte foi construída por se considerarem que os alunos de Hertford College eram mais pesados do que alunos em qualquer outro colégio. A resposta da universidade foi construir esta ponte fazendo com os alunos tivessem que subir mais escadas e portanto fazer mais exercício físico. Esta história não só é falsa como facilmente é comprovada a sua falsidade, uma vez que o não uso da ponte faz com que os alunos tenham que subir mais escadas.Qualquer que seja a razão para a construção desta ponte, vale a pena passar por aqui e tirar uma fotografia.
Seguimos para Magdalen College. Há inúmeros colégios em Oxford e demoraria bem mais que um fim-de-semana se os quisesse visitar a todos. Não fiquem admirados, mas também este colégio faz parte da universidade de Oxford e como tal é extremamente competitivo estudar em Magladen College. Atualmente Magdalen College é o quarto colégio mais rico com doações de cerca de 332,1 milhões de libras. Sim, eu também acho uma ninharia, o que uma pessoa faz só com 332 milhões de libras? O Magdalen College foi construído num terreno vasto de 100 hectares e inclui parque de veados, a ribeira Addison e pequenos recantos pitorescos. Eu também quando andava na faculdade tinha o parque das Nações, aquele caminho da universidade ate à estação de comboios no Oriente, o rio Tejo e peixes mutantes. Acho que consigo comparar a minha experiência com a dos estudantes deste colégio. E nem tive de ter grandes notas para entrar para a universidade. Lisboa 1, Oxford 0.


Para visitar o colégio é preciso pagar bilhete de entrada, mas nós tivemos 10 minutos ali parados enquanto dois guardas olhavam e mexiam e remexiam na máquina dos bilhetes mas não conseguiram atinar com aquilo. O que para nós foi ótimo porque acabaram por desistir e deixar-nos entrar de graça. Foi pena termos visitado o colégio num dia de chuva, porque ao frio e molhados não conseguimos apreciar bem a parte exterior do colégio. Assim a nossa visita ao Magdalen College foi mais curta do que o seu potencial.
Com isto chegava a hora do almoço e não há sítio melhor e mais barato do que o mercado Oxford Covered Market. Na intensa pesquisa antes da viagem li em vários sites que o mercado era o local certo para quem gosta de comer bem e não ficar depenado. A nós só o facto de ser um edifício coberto já fez com que adorássemos, uma vez que naquela altura as nuvens tinham largado uma chuvada de fazer lembrar o porquê da fama do tempo de Inglaterra. Um dos restaurantes mais mencionados do mercado chama-se Sasi’s Thai.


O restaurante está muito bem avaliado na internet e ao chegarmos havia uma fila enorme. Para dizer a verdade o restaurante estava a abarrotar e talvez por isso eles também tenham a opção de take-away. Havia bastante escolha entre caris, noodles, arroz, pratos tradicionais chineses e as porções são bastante generosas. Um prato bem aviado ficou a cerca de 10 euros. Se fiquei fã? Nem por isso, mas consigo perceber o porquê de este restaurante ser a escolha de muita gente. Afinal boa quantidade e barato chama sempre clientela. Mas não foi nada de especial, não achei a comida particularmente saborosa e o arroz estava um bocadinho para o lado do peganhento. Se voltava aqui? Não sei se sim, talvez para experimentar o Pad Thai. Para digerir a comida fomos dar uma volta pelos corredores do mercado que existe desde 1770. Há lojas para vários gostos de roupa, joalharia, restaurantes, floristas e gelatarias. Parámos na gelataria IScream onde o gelado era bastante bom e onde se encontram vários doces de encher o olho. Nada como um bolo gelado de pistachio para alegrar o dia chuvoso como aquele.
O museu de Ashmolean é o museu de arte e de arqueologia da universidade de Oxford. O seu primeiro edifício foi erguido em 1678-1683 e fundado em 1683. Este museu é especial não só porque foi o primeiro museu público da Grã-Bretanha mas pelas coleções expostas que contam com mais de 120.000 objectos, principalmente de origem arqueológica e obras de arte.


Durante a vossa visita poderão ter a oportunidade de ver uma das melhores coleções de pinturas pré-rafaelitas, de cerâmica majólica (faiança italiana da época do Renascimento) e prata inglesa. O departamento de arqueologia pertencente ao museu possui o legado de Arthur Evans e como tal tem uma fascinante coleção de cerâmica grega. Por último também posso salientar que há uma extensa e diversa coleção de antiguidades do Egipto Antigo. Este é daqueles museus que mesmo para quem não gosta muito de viagens centradas em cultura e de passar muito tempo dentro de museus não se vai importar de caminhar por um par de horas, horas através das várias salas e exposições. A visita ao museu é gratuita, no entanto doações de valor simbólico é encorajada.


Uma das peças mais valiosas do museu é a jóia de Alfred (Alfredo em português). Este é talvez o objeto arqueológico mais famoso de Inglaterra. É composto por uma peça de esmalte cloisonnè onde está representada uma figura humana, o que se considera simbolizar o sentido da visão. O esmalte está coberto por uma peça polida de cristal e encaixado numa moldura plissada que se finaliza na cabeça de uma fera. A inscrição recortada na moldura está escrita em inglês antigo e lê-se “AELFRED MEC HEHT GEWYRCAN” (“Foi Alfred que ordenou que eu fosse feito”).


Depois de atravessar diferentes civilizações saímos para a rua onde já anoitecia (uma das maravilhas de viajar no Inverno) e com a escuridão vinha o frio cortante. Por isso ainda eram 4 da tarde quando nos sentámos numa mesa no Turf Tavern. E sim, quando o tempo está mau fica de noite às 3 e meia. E foi aqui que ficámos pela tarde fora. O Turf Tavern é um pub histórico de Oxford aberto desde 1381. Uma das paredes do pub é original da antiga muralha da cidade. O pub é principalmente frequentado por estudantes, o que confirmámos enquanto aqui estivemos, mas também foi palco de um recorde mundial em 1954 quando o primeiro-ministro australiano Bob Hawke bebeu 1.4L de cerveja em 11 segundos. Também era neste bar que o elenco e equipa de filmagens dos filmes Harry Potter costumava parar. Talvez seja por isso que têm ainda hoje no seu menu cerveja de manteiga (Butter Beer), uma das bebidas muito consumidas em Hogsmead. E quem não sabe onde é Hogsmead e a que se refere não merece respeito.
Acabámos por também jantar por aqui e para uma coisa mais ligeira, ou assim pensávamos, pedimos 3 entradas para partilhar. Pedimos halloumi, argolas de lulas e nachos. Tudo que nos apareceu à mesa era ótimo. E como estávamos em Inglaterra e fazia frio e chovia nada como um mulled wine para aquecer o espírito. Mulled wine é vinho aquecido com muitas especiarias como canela e anis. Eu sempre pensei que iria odiar a bebida, mas há nada melhor para uma noite fria. Quando me deram a definição de “sangria quente” torci o nariz, mas vale a pena experimentar e voltar a experimentar e experimentar mais umas vezes só para confirmar se gostam ou não.


Neste dia celebrava-se algo especial em Inglaterra, Fawkes Night, também conhecida por Bonfire Night. Nesta noite celebra-se o facto de em 1605 se ter falhado a “conspiração da pólvora” que se focava em destruir o Parlamento e assassinar o rei James I. Nas cidades e vilas por toda a Inglaterra se celebra esta noite com fogo de artifício, música e comida. Em Oxford o melhor sítio para ver o fogo de artifício é no South Park (parque do Sul). O fogo de artifício estava marcado para as 7 e meia e eram já 7 quando nos pusemos a caminho. Mas tal como era esperado toda a população de Oxford em peso também quis ver o espetáculo. E, portanto, as ruas estavam cheias de gente, mais ainda perto do parque. Chegámos ao local já eram 7 e meia e apesar de não termos visto o espetáculo inteiro ainda conseguimos ver parte do fogo incluindo tirar uma fotografias para a posterioridade.


E com este episódio acabo o primeiro dia a explorar a cidade de muitos pináculos e é por isso que a Oxford é conhecida como “City of the Dreaming Spires” mas também conhecida pela universidade onde reina história, saber e opulência.
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