Aqui vamos ao nosso terceiro e último dia na ilha de Skye. Uma coisa que tivemos sorte tanto nesta viagem no início de junho, como na viagem que fizemos a Invernes em janeiro foi o sol resplandecente que surgia todos os dias. Contando mais com chuva do que sol acabámos por sair da ilha com um bronzeado digno de um destino paradisíaco.
Hoje o percurso era focado no lado oeste da ilha. Depois de pequeno-almoço tomado no The Red Brick Cafe @Jans do qual já tinha falado no post anterior fomos para o castelo Dunvegan. O castelo está apenas aberto de 1 de abril a 15 de outubro. Os bilhetes para visitar ao castelo e aos jardins custam 14 libras e para visitar apenas os jardins custam 12 (por pessoa). Nós escolhemos ficarmo-nos somente pelos jardins sem ainda saber a história por trás destes e o trabalho que ainda está a ser feito atualmente. O jardim é composto por várias partes, temos o jardim da água com uma cascata, o jardim redondo entre outros. Os jardins têm um aspecto cuidado e mais impressionados ficámos ao ler um pouco sobre a história por trás destes jardins que começa com uma frase de desacreditação sobre a possibilidade de estes jardins alguma vez existirem.

História dos jardins do Castelo Dunvegan
Em 1773, a mãe do 23º Chefe disse ao doutor Johnson e Boswell “there was not and never could be a good garden at Dunvegan” (que não havia e nunca iria haver um bom jardim em Dunvegan). Talvez esta previsão fosse relacionada com o castelo se encontrar à beira de água salgada. No entanto, a sua previsão estava incorreta e mesmo de algumas paragens e recomeços o jardim evoluiu para o que é hoje um dos jardins mais importantes das Highlands.


O começo do jardim do Castelo de Dunvegan remonta ao século XVII embora o seu desenvolvimento tenha sido interrompido pelas revoluções sociais e económicas antes e depois da rebelião Jacobita que se deu em 1745. Nos arquivos do Castelo de Dunvegan no início do século XVIII existem documentos de pagamentos feitos a um jardineiro que em 1712 foi demitido, mas o motivo nunca foi registado. É possível que o jardineiro fosse considerado uma despesa extravagante, pois o 22º Chefe tinha na altura apenas 6 anos e o seu interesse pelos jardins ainda não tivesse aparecido. Em 1650 foi publicado um mapa da ilha de Skye que a mostra coberta por florestas naturais. A história/lenda diz que grande parte destas florestas foram derrubadas pois os bandos de ladrões escondiam-se nestas florestas, o que pode explicar a escassez de florestas na ilha ainda hoje.

Em 1811, John Norman, o 24º Chefe começou a plantar árvores em grande escala, e mais tarde criou o Walled Garden com uma arquitetura paisagística típica das casas escocesas do período Vitoriano. O seu filho, Norman, o 25º Chefe, criou posteriormente o Round Garden. Ambos jardins ainda estão aqui presentes e cuidados. No entanto, a devastação causada pelo Grande Fome de 1847-1851 interrompeu o desenvolvimento dos jardins, uma vez que os campos eram cultivados para alimentar a família do chefe e o seu povo.


A última grande plantação foi realizada no final da década 20 por Sir Reginald MacLeod, mas infelizmente muito dos esforços foram perdidos devido a mau tempo e ação animal. Em 1978, John MacLeod decidiu seguir o exemplo dos seus ancestrais que tentaram vezes sem conta criar um jardim magnífico no Castelo de Dunvegan. Desde então que tem havido uma quantidade considerável de replaneamento e investimento para restaurar os jardins à sua antiga glória. O atual chefe, Hugh MacLeod e a sua dedicada equipa de jardineiros continuam a construir este legado único.


Depois de se conhecer a história por detrás destes jardins ganha-se um novo respeito – não são apenas flores, árvores e terra, são na verdade esforços de muitas gerações para conseguir aquilo que é hoje os jardins do Castelo de Dunvegan.
Neist Point Lighthouse
Em seguida fomos para o Neist Point Lighthouse.
Neist Point Lighthouse é um dos faróis mais conhecidos da Escócia e encontra-se no ponto mais Ocidental da ilha de Skye.

Existe um trilho que vos leva do parque de estacionamento até ao farol e o trilho é fácil de seguir embora que em algumas partes se torne bastante íngreme. O trilho percorre uma distância de 2.2 Km e demora-se cerca de 1 hora a completá-lo, especialmente com paragens para fotografias (e também para descansar). No entanto, a paisagem sobre as altas falésias e o farol são espetaculares. Nós tivemos aqui a meio da tarde, mas imagino que seja quase mágico ao pôr do sol.

O farol não está aberto ao público. O edifício constituído pela torre branca de 19 metros de altura, a uma altitude de 43 metros no topo da falésia, foi erguido em 1909. A luz do farol entrou em funcionamento a 1 de novembro de 1909 e a buzina a 25 de junho de 1910. O farol foi automatizado em 1990 e ainda hoje está em funcionamento e preservado pelo Northern Light Board.

Já sendo meio da tarde começámos a fazer o caminho de volta para Portree mas ainda com tempo para parar sempre que a paisagem assim o merecia. Ainda parámos no Bog Myrtle Skye, um café de estilo vintage com imensos livros interessantes.
Voltámos para a nossa cabana (lodge) e fomos até Portree para passearmos um pouco pela vila, uma vez que até então só a tínhamos visto de passagem. Aproveitámos para adoçar a boca e fomos até ao único supermercado de Portree para umas bebidas que acompanhariam a nossa pizza.

Depois das 7 horas com as pizzas da “Pizza in the Skye” debaixo do braço fomos comer no nosso alojamento, aproveitando a mesa e os bancos de madeira ao ar livre. Nada é como jantar sobre a luz brilhante do pôr do sol.


E foi mesmo essa luz brilhante que nos levou a voltar a Sligachan para tirar as fotografias às montanhas Cuillin naquela luz dourada que tanto nós gostamos.

Eilean Donan Castle
No dia seguinte deixando para trás a ilha e indo em direção a Ben Nevis, que foi incluído no primeiro post, passámos a ponte de Skye e parámos num dos castelos mais conhecidos da Escócia, o castelo Eilean Donan. O castelo é conhecido por ter aparecido em diversos filmes, por exemplo no Highlander (1986) e no filme do James Bond, The World is Not Enough (1999).
O nome da ilha onde o castelo se encontra, a ilha de Donan, pensa-se ser homenagem ao santo irlandês, o bispo Donan, que viajou para a Escócia por volta do ano 580 D.C. De facto, existem várias igrejas na região dedicadas ao bispo Donan e pensa-se que ele tenha formado uma pequena comunidade na ilha no final do século VII. No entanto, a primeira estrutura fortificada do castelo foi construída apenas no início do século XIII para defesa. Hoje em dia, o castelo de Eilean Donan recebe turistas de todo o mundo. Também aqui encontrámos o café fechado devido à falta de pessoal, mas havia um stand no exterior onde tivemos oportunidade de comer o “Nevis Roll”, uma sandes com praticamente o full english breakfast enfiado no meio. Mas ficámos logo ali resolvidos para o dia todo.

Umas horas em Glasgow
Estivemos na cidade poucas horas até à hora do nosso voo, e por isso não tivemos muito tempo para a explorar. Mas do que vi, um conselho – visitem Edimburgo em vez de Glasgow. Os edifícios de cor tijolo e as multidões que passeavam nas ruas não deixarão saudade. Mas talvez tenha sido por ter passado 5 dias com paisagens de natureza espetaculares. Qualquer cidade teria dificuldade em lutar contra isso. E há bastante para ver, como o Jardim Botânico, o Museu e Galeria de Arte de Kelvingrove, o George Square. Mas nada bate as Highlands.
Catedral

Mas no fundo tenho que dar a mão à palmatória – a necrópole em cima to topo da colina é deveras impressionante. Porque tendo algumas horas livres fomos do aeroporto de Glasgow até ao centro da cidade. O bilhete de autocarro de ida e volta no mesmo dia custou 13.80 libras. Depois de passarmos por uma das ruas principais da cidade, a rua Buchanan, fomos visitar a catedral e a necrópole.


A catedral de Glasgow foi fundada por volta de 1200 e era originalmente pertencente à religião católica. Após a Reforma Protestante em 1560, tornou-se uma igreja Protestante e ainda o é hoje. Esta é a única catedral medieval no continente escocês que sobreviveu praticamente de forma intacta à Reforma. A entrada para a catedral é gratuita.
Necrópole
Quando se olha para a necrópole a primeira coisa que se destaca é o monumento de John Knox. Tem uma altura de aproximadamente 3 metros e meio e representa Knox vestido com a sua toga segurando a bíblia com a sua mão direita. John Knox foi uma figura proeminente na sociedade Escocesa – Knox foi ministro, teólogo, escritor e liderou a Reforma Protestante.

A necrópole foi aberta em 1833 depois do cemitério Père Lachaise em Paris (que visitámos durante a nossa visita a Paris, ver mais aqui). A necrópole surgiu pela pressão de uma mudança na lei de forma a permitir enterros com fins lucrativos. Até então a igreja era a única entidade responsável por enterrar os mortos, mas havia uma necessidade crescente de uma alternativa. Isto porque no início de 1800 Glasgow cresceu como uma grande cidade industrial. Vieram comerciantes e empresários que faziam grandes fortunas no tabaco, especiarias, café e algodão. Em 1831, 2 anos antes da necrópole ser aberta, a população de Glasgow triplicou de 70.000 para mais de 200.000 pessoas. A estrutura urbana inundada por imigrantes, principalmente irlandeses e Highlanders (das terras altas), que já era considerada inadequada não conseguiu lidar com este influxo rápido de pessoas. As classes trabalhadoras sofreram consideráveis condições de privação, agravadas por habitações inadequadas, pobreza extrema, saneamento precário e contaminação do abastecimento de água. Este aumento súbito da população em Glasglow afetou diretamente os cemitérios, a pobreza e a miséria resultaram em grandes epidemias de cólera e tifo. Na década de 1830 mais de 5.000 pessoas morriam anualmente e eram enterradas em condições não higiénicas, em cemitérios urbanos. Preocupações crescentes com higiene e saneamento levaram à decisão que o enterro em cemitérios urbanos deveria ser evitado. E daí a criação da necrópole de Glasgow.

Esta necrópole foi descrita como representação única da sociedade de Glasgow no período Vitoriano, construída quando esta era a segunda cidade do Império. Este é um memorial aos patriarcas da cidade e aqui se encontram os restos mortais de quase todos cidadãos prominentes da sociedade de Glasgow.

Quando se vagueia pelo meu dos vários monumentos da necrópole nota-se que muitos deles têm grades. Estas grades chamam-se “mortsafe”. O mortsafe foi criado por volta de 1816 e isto porque se andavam a roubar os cadáveres dos túmulos para estudo anatómico do corpo por parte de médicos e estudantes de medicina. Havia de tal forma uma procura por estes cadáveres que havia estudantes de Medicina que pagavam as suas propinas com cadáveres roubados dos seus túmulos. Esta escassez em cadáveres foi vista com uma oportunidade de negócio lucrativo para Burke e Hare. Burke e Hare assassinaram 16 pessoas no período de 10 meses em 1828 e venderam os corpos para Robert Knox que os usava nas suas palestras de anatomia.
Estes homicídios são de tal forma famosos que em 2010 foi lançado um filme sobre Burke and Hare.
E assim acaba a nossa viagem à parte Noroeste da Escócia – Glasgow, Glencoe, Fort Williams e Ilha de Skye. Mais uma vez a Escócia deixou-nos preciosas memórias deste país lindíssimo. E não pensamos que a Escócia acabou por aqui, ainda há muito mais para explorar. Numa futura viagem.
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