Se quiser aceder a tudo sobre a nossa viagem ao parque nacional do Gerês incluindo preparativos e sugestões, veja a nossa página em: Parque nacional Peneda-Gerês
Começamos assim a nossa viagem pelo Gerês, depois de vos ter dado todos os preparativos que fizemos antes de partir (ver post anterior). Como fizemos o percurso Inglaterra -> Porto -> Gerês, já chegámos ao nosso destino perto do fim da tarde. Mas ainda antes de chegarmos à nossa primeira estadia tivemos um rápido vislumbre de como seria a nossa viagem através das aldeias e estradas no Gerês. Nada como uma paragem forçada por um rebanho de cabras para se saber que se chegou a outro mundo.

Outeiro do Moinho
O local onde íamos passar a primeira noite, perto da aldeia de Covide, o Outeiro do Moinho, recebeu-nos com o melhor que o Gerês pode oferecer, a natureza. Ficámos instalados num dos quartos do rés-do-chão, mesmo em frente à piscina com as montanhas como plano de fundo. Fizemos o check-in e entrámos no quarto ‘Portela do Homem’.
Engraçado como cada quarto tinha o seu próprio nome, nome esse com um valor histórico e cultural da zona. Por exemplo, a Portela do Homem era um importante local de ligação entre Portugal e Espanha. E foi devido a esta fronteira que os moradores das Terras do Bouro foram obrigados por um contracto oneroso a serem defensores da Portela do Homem por conta própria. Os moradores desta região foram proibidos de se alistar para soldados, fazerem contribuições com as suas fazendas para a guerra, ou de as utilizar como trabalhos de fortificação ou de mantimentos durante os reinados de D. Dinis até D. João V.


A nós, no Outeiro do Moinho, o único problema foi a internet, a qual não conseguíamos aceder no nosso quarto. Problemas de primeiro mundo. Mas quando resolvemos finalmente dizer alguma coisa aos proprietários, já depois do jantar, eles trataram do problema rapidamente e eis que havia internet no quarto! O Outeiro do Moinho, um local sossegado e isolado, foi como uma abertura relaxante para o Gerês. Mais ainda porque eramos os únicos hospedados no Outeiro do Moinho nessa noite.
Restaurante Turismo
Depois de posarmos as malas, quisemos fazer o primeiro reconhecimento da área. Estávamos naquela hora que não é bem hora de jantar, mas que também já não dava para grandes aventuras. E queríamos esticar as pernas nem que fosse por um bocadinho, que as horas de viagem tinham sido longas. Como queríamos levantar dinheiro, afinal nem todos os locais no parque nacional aceitam cartão, como por exemplo o Outeiro do Moinho, onde ainda nos faltava pagar uma parte da estadia, decidimos caminhar até à vila Campo do Gerês. O Campo do Gerês e Covide são ambas as vilas mais próximas do Outeiro do Moinho, mas como o multibanco mais próximo ficava no Campo do Gerês e dava para ir a pé a escolha foi fácil. Foi um passeio rápido de cerca de 10 a 15 minutos para cada lado, mas que nos abriu o apetite e quando chegámos ao hotel foi altura de procurar onde ir jantar.
Havia algumas opções mas acabámos por escolher o restaurante Turismo, mesmo ao pé da vila de Covide. O restaurante estava bem avaliado e estava aberto. Talvez seja diferente no Verão, mas na altura em que visitámos o Gerês grande parte dos restaurantes nesta zona fechavam bastante cedo. Por exemplo, como o caso do restaurante Turismo que fechava às 9 da noite. O nome do restaurante deixou-me em dúvida se estávamos a fazer a escolha certa, mais ainda quando chegámos ao restaurante e vimos que estava vazio. No entanto no dia seguinte descobrimos que é neste restaurante que algumas tours turísticas param para almoçar e que à hora de almoço o restaurante enche. Como vínhamos para jantar, acabámos por ter o restaurante só para nós durante toda a refeição.


Para a primeira refeição, e como a esta altura a fome já estava a apertar, atacámos as entradas que incluiu chouriça assada, queijo seco e pão. Posso já dizer que estas entradas estiveram presentes em quase todos os nossos jantares.
Para prato principal, a escolha acabou por ser difícil, mas a acertada. Fomos para a alheira com ovo, batata frita e salada. Estivemos ainda indecisos no bacalhau e na posta, dois pratos tradicionais da região, mas acabámos por escolher a alheira e houve oportunidades mais que suficientes para experimentar os outros dois pratos. Acabando a refeição com o doce da casa que no Norte é um doce de natas com bocadinhos de chocolate voltámos para o Outeiro do Moinho, onde então resolvemos o problema da internet e começámos a preparar-nos para o dia seguinte. Aliás, todas as noites acabaram assim, a preparar o trilho para o dia seguinte, fazendo o download do mapa, confirmar onde deixar o carro, etc.

Primeiro dia
Com o amanhecer do primeiro dia chegou também o primeiro trilho. Mas primeiro a refeição mais importante do dia como muitos dizem, que para nós só o é durante as férias – o pequeno-almoço.
O pequeno-almoço em si foi o que esperávamos, mas foi mais que suficiente; havia queijo, fiambre, manteiga, cereais, pão, croissants, uns folhados em miniatura, uns pastéis de nata que talvez tenha sido o menos normal, e claro café e chá. Foi o suficiente e ainda restou duas carcaças às quais juntámos queijo (o meu marido também fiambre e ananás) e embrulhámos-lhas em guardanapos para o nosso almoço. E nós nem sabíamos o bem que nos ia saber!

PR1 – Trilho da Cidade da Calcedónia
Depois do pequeno-almoço tomado e o check-out feito, que incluiu um episódio meio estranho em a senhora que nos recebeu as chaves insistiu em perguntar várias vezes se tínhamos tirado alguma coisa do mini-frigorífico (não tínhamos!), fomos para o nosso primeiro trilho, o PR1 Trilho da Cidade da Calcedónia, que cobre uma distância de 7Km.

O desafio deste trilho não é a distância, mas sim o percurso em si. Já se sabe que quando se tem de rastear, usar as mãos para subir e descer rochas, o percurso não se pode dizer fácil. Mas tínhamos sido avisados – para quem procurava aventuras no Gerês este é o trilho indicado para tal.
Tinha feito o download do percurso (imagem abaixo) que está disponível neste website: https://turismo.cm-terrasdebouro.pt/listings/pr1-trilho-da-calcedonia/ na noite anterior. Neste mapa encontra-se informação sobre pontes de interesse durante o percurso e também os significados dos símbolos usando as linhas amarela e vermelha que vão indicando o caminho correcto.

Até que começámos o dia bem visto que ainda nem eram 9 e meia da manhã. Estacionámos o carro ao pé do restaurante Turismo, onde começa o percurso, e assim fomos pela fresca. No início o caminho era fácil, sim era um caminho era de terra, mas isso não era nada que não esperássemos. Pouco depois de começarmos já passávamos pelo primeiro ponto de interesse, a milha XXVI (Ponto 1 no mapa acima), o também chamado de Jeirinha: Lugar das Várzeas. Esta milha faz parte de um percurso romano, tendo assim o seu próprio valor histórico. E estávamos impressionados, tínhamos feito esta parte do percurso em bom tempo. Afinal o percurso dizia que durava 4 horas, mas indo naquele ritmo devíamos acabar mais cedo. O quanto estávamos enganados! O que isso significa é que íamos encontrar uma parte do caminho onde íamos demorar imenso tempo. E não devíamos nós já saber isso?


E o terreno mudou, especialmente depois da barragem (a imagem no mapa acima com uma espécie de quadrado e umas ondas), onde começámos a subir. E ainda bem que viemos cedo, que mesmo aquela hora o calor já começava a apertar. O caminho não é muito difícil durante a subida até nos encontrarmos entre as rochas, mais ou menos no ponto 2 do mapa. A partir daqui o caminho começava a estreitar, tendo-se mesmo de passar pelo meio das rochas que formam túneis. A parte mais difícil deste trilho, diria eu, é num túnel onde se tem de se escalar para continuar o trilho. Não sei bem como teria conseguido subir aquilo sem uma mãozinha do marido. Mas as vistas são magníficas e estas acompanharam-nos por todo o caminho. Agora uma coisa é certa, não pensem que descer é melhor que subir.


A expressão ‘todos os santos ajudam’ não significa que é mais fácil descer, significa é que todos têm de dar uma mão para não se escorregar e cair. Claro que foi na descida que mais se teve de dar uso às mãos para não cair, ter cuidado onde meter os pés para não escorregar e até rastejar para descer as pedras com mais segurança.
Nem parece que viemos de férias não é verdade? Mas fizemos os 7Km em cerca de 3 horas e meia. Ainda antes de chegar ao carro tivemos tempo para tirar a minha primeira foto aos espigueiros que são casinhas engraçadas muito típicas da zona e que servem para secar cereais (imagem abaixo).

Sei eu isto agora que na altura não sabia e já tínhamos várias teorias sobre a sua funcionalidade. Teorias essas que incluía uma em que estas casinhas eram na verdade galinheiros e estavam altos para os lobos não chegarem às galinhas. Vá pronto, confesso, essa era a MINHA teoria. Mas agora já sei para que servem e que se chamam espigueiros ou canastros, sendo que o nome depende da zona da região onde se esteja.
PR5 – Trilho da Águia do Sarilhão
Depois de fazer o trilho PR1, que não tinha sido nada fácil, o que devíamos ter feito? Escolhido uma outra actividade, descansar um bocado, ir a banhos, mas claro que não. O que fomos fazer foi outro trilho, o PR5 – Trilho da Águia do Sarilhão, um trilho de 9Km que pensámos ser fácil – mas que de fácil afinal não tinha nada.
De toda a viagem provavelmente este é o trilho que não repetiria. Talvez tivesse outra opinião se o tivesse feito noutro dia, ou neste dia, mas só este trilho. Não me interpretem mal, o trilho é bonito, entram pela floresta adentro acompanhados em algumas partes pelo Rio Homem, mas sem nunca chegarem à sua margem, e conseguem mesmo ver a Barragem de Vilarinho de Furnas em alguns dos trechos. Mas apesar de tudo não sei se valeu a pena, o terreno em algumas zonas era difícil de percorrer, mas o pior foi estarmos sempre a subir e a descer como podem verificar no mapa abaixo.

Talvez tenha sido pior porque estávamos convencidos que encontraríamos fontes ao percorrer estes trilhos, mas nem no da Calcedónia nem neste encontrámos onde encher as garrafas e nos últimos quilómetros já estávamos a poupar na água, o que como sabem, principalmente aqueles que fazem trilhos regularmente, não é uma situação onde nos queiramos encontrar. E aprendemos com esta experiência, nos dias seguintes em vez de 1 garrafa de 1.5L por pessoa, levamos quase o dobro.


Claro que no final fizemos o trilho todo (que remédio!) e ainda houve tempo e paciência para tirar algumas fotografias pelo caminho. Quando chegámos ao final, já ao pé do Museu Etnográfico de Campo do Gerês, íamos cegos à procura de água. Quando estacionámos o carro tínhamos reparado que à frente havia um parque das merendas, mas infelizmente das torneiras não corriam água. Seguimos em frente entrando pelo Núcleo Museológico do Campo do Gerês onde encontrámos um café, o café Desafios, onde perguntámos se podíamos encher as nossas garrafas. Abençoadas mulheres! Deram-nos duas garrafas de água de graça que tinham enchido na vila! Disseram-nos que as garrafas não estavam lacradas, mas que eram delas que elas todas bebiam durante o dia.
Não é preciso dizer que matámos a sede logo que pudemos e como também precisávamos de descansar e comer, sentámo-nos nas mesas de pedra no parque das merendas, onde não só a água como a sandes feita ao pequeno-almoço nos alegrou o espírito, que estava a precisar de ressuscitação depois de percorrer dois trilhos. Nada como exagerar logo no primeiro dia!

Miradouro da Boneca
Nessa noite, a nossa estadia era no hotel Adelaide na Vila do Gerês, a vila principal e mais movimentada do parque nacional. Pensámos em ir parando nos vários miradouros pelo caminho de Covide até à Vila do Gerês. Mas ao contrário do que pensávamos também para chegar aos miradouros era preciso andar! A primeira tentativa foi o Miradouro da Junceda, mas quando vimos que se tinha de andar 3Km para cada lado decidimos deixar para outro dia. Nunca cá voltámos (e já explico porquê). Mas este miradouro talvez seja possível visitar de carro, se tiverem um carro alto que consiga passar facilmente por estradas de terra, o que não era o nosso caso. Assim fomos em seguida para o Miradouro da Boneca, e acabámos por o visitar uma vez que do local onde estacionámos o carro, ao pé da fonte de Lamas, até ao miradouro era 1.7Km (para cada lado).


Fomos pelo caminho que segue até ao miradouro e apesar de ser um caminho de terra era de fácil caminhada. A vista que se tem do miradouro a uma altura de 750 metros tinha valido a pena o esforço extra, mas o corpo a esta altura já só pedia descanso. Começámos o caminho de volta para o nosso carro quando encontrámos um boi parado no meio da estrada. Foi aqui que realmente começou as nossas aventuras com os animais durante esta viagem. O boi não saia do meio da estrada, os cornos eram pontiagudos e sem saber o que fazer saímos do caminho e fizemos um desvio pelo meio do mato. Com o boi sempre a seguir-nos com o olhar.

Mal sabíamos nós que este encontro tinha sido o mais ‘manso’ de todos daqueles que viríamos a ter. Chegámos ao carro e seguimos para a vila do Gerês. Passar pela estrada que liga este miradouro à Vila do Gerês é em si uma experiência; curvas muito apertadas numa estrada que mal dá para um carro (mas que é dos dois sentidos) levou-nos a tomar a decisão quando estacionámos no hotel de que se não tínhamos feito os miradouros também já não os faríamos. A evitar aquela estrada a todo o custo.
Sobre o hotel Adelaide, a deliciosa refeição que aqui tivemos e o que se seguiu será contado no próximo post. Afinal depois de voltar a reviver este dia, volto a precisar de uns segundos de descanso.
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