Um taster dos North York Moors e um ‘até breve’ a York

O nosso terceiro dia a visitar o norte de Inglaterra, mais especificamente a zona de York, foi um bocadinho diferente. Deixámos a cidade, desviámo-nos para Este e fomos até North York Moors, um dos parques nacionais de Inglaterra. O parque é enorme, com uma área de 2.2 Km2, com imensos trilhos, onde se pode perder horas a andar sempre acompanhados por paisagens magníficas, vivendo uma experiência à volta da natureza. Como nós estávamos em York decidimos que não iríamos até à zona mais a norte do parque nacional, uma vez que a zona sul (a mais perto de York) ficava a uma hora de distância. E como era uma viagem de um dia só, não queríamos perder muito tempo útil dentro do carro. Ainda pensámos que visitar o Castle Howard seria uma boa opção, pois incluiria uma visita à casa e aos seus jardins, mas o castelo encontrava-se encerrado durante esta altura do ano, e foi assim que escolhemos o trilho circular de Rosadale.

Na verdade, agora procurando bem na net, acabo de me aperceber que fizemos um trilho diferente do que tínhamos planeado, fizemos o trilho em Rosadale mas acabámos por fazer um caminho mais longo que nos deu problemas, mas já lá vamos. Então o trilho circular de Rosadale é cerca de milha e meia (2.4Km) e demora mais ou menos 50 minutos a percorrer (figura em baixo à esquerda), mas nós fizemos o chamado de Rosadale Abbey, Blakey Ridge and Ironstone railway que percorre 16.4Km e que leva 4 horas e meia a percorrer (imagem em baixo à direita), o que foi mais ou menos o quanto levámos. Eu acho que o primeiro trilho também era pouco tempo, mas o segundo foi demais. Deixámos o carro perto Rosadale Abbey, num dia solarengo, numa rua onde não se pagava estacionamento. O primeiro problema foi que não sabíamos onde começava o trilho, porque surpresa das surpresas não tínhamos acesso à internet, sim, nem mesmo à de dados e. E o que somos hoje nós sem acesso ao Google Maps? Humanos perdidos à deriva!

Fomos ao salão de chá da pequena vila de Rosadale perguntar onde começava o trilho. A senhora lá nos deu as direções mas também perguntou ironicamente se eram aqueles os sapatos que íamos levar? Devíamos ter aqui suspeitado que o caminho não devia estar famoso. Mas com a mania que somos caminhantes fanáticos, seguimos as instruções e primeiro foi subir e subir e subir. Para agora, aqui sentada, descobrir que se tivéssemos feito o nosso trilho, o que tínhamos inicialmente planeado, tínhamos encontrado um parque de estacionamento no topo da subida e que não era preciso termos começado o trilho a suar como estivesse dentro de uma sauna. O que mais odeio é subir desalmadamente especialmente se desnecessário…se quiserem confirmação basta perguntarem ao meu marido como o meu humor fica depois de uma subida ou melhor quando ainda vou na subida. Mas lá finalmente descobrimos onde começava o ‘bom’ caminho onde ficava o primeiro ponto de interesse do trilho; as ruínas dos fornos de calcinação em Bank Top. Se calhar convém situar o valor histórico deste trilho.

Hoje em dia Rosadale oferece vistas deslumbrantes do vale, onde a natureza perdura e onde se encontra uma pequena e sossegada vila com a sua pequena Abadia, a Rosadale Abbey. No entanto, há 160 anos a história era outra. Há 160 anos devido à fervorosa ‘corrida ao ferro’ o ar ali seria descrito como uma mistura de fuligem e vapor. A mineração em Rosadale começou em 1856, com o minério a ser retirado das minas de Hollins e transportado por uma máquina a vapor até estes fornos por uma via férrea, em Bank Top (fotografia em baixo). Mais de 300.000 toneladas por ano de minério eram retiradas destas minas e depois processadas nos fornos gigantes. Em Bank Top encontravam-se também depósitos de carvão, as casas onde moravam os trabalhadores e um barracão para as máquinas. As minas foram abandonadas 29 anos depois quando as reservas de ferro nas minas se terem esgotado. E é aos ‘restos’ desta época que este trilho nos leva.

O que resta dos fornos em Bank Top

Depois de passarmos pelas ruínas continuámos em frente, agora num caminho sempre a direito e de bom pavimento. Era aqui que passava a antiga linha férrea, apesar de ser difícil imaginar o actual trilho com a linha férrea de há 160 anos. Outros sinais permanecem desta era como o Sheriff’s Pit que começou em 1857 como uma mina flutuante para fechar passado dois anos e reabrir em 1875 como um poço de mineração (fotografia em baixo à esquerda). Os restos do poço são acompanhados por um canto da casa do gerente da minha que resistiu ao tempo. Uma nota; a mineração começou em 1857, mas só em 1861 a linha férrea foi construída, sendo inicialmente feito o percurso entre as minas e os fornos com o recurso de animais, o que tornava o percurso muito longo e não rentável. Daí que Sheriff’s Pit abriu, fechou e reabriu depois da linha férrea já estar a ser usada por vários anos.

A diferença dos dois percursos, o nosso que queríamos fazer e o que fizemos, é que no mais curto a certa altura volta-se para trás para depois apanhar um caminho mais a norte que leva de volta ao parque de estacionamento de Chimney Bank (aquele que fica no cimo da montanha). No entanto, nós continuámos pela antiga linha férrea de Ferndale até descermos para apanhar o percurso de volta em direção a Rosadale Abbey mas agora pelo sopé da montanha. Foi um erro, não seria um erro se tivéssemos vindo no verão ou não tivesse chovido há tipo duas semanas, mas um dia de sol não foi o suficiente para secar o terreno. E quanto mais andávamos mais lama encontrávamos, e cada vez mais era preciso ter atenção aonde púnhamos os pés. E claro que passado uns metros já estava com os sapatos todos enlameados, já era mais lama do que sapato. É que já nem houve mais fotografias até quase ao final do percurso quando já estávamos a chegar ao carro. agora em estrada alcatroada. Como podem ver o sol estava a desaparecer e acreditem que a esta altura já só queríamos era chegar ao carro. Principalmente depois de passar por um bocado tão mau que tivemos de fazer de acrobatas e passar por cima de um muro rústico e, no mínimo instável, para não ficarmos atolados na lama. No final de tudo o nosso percurso ainda foi mais que os 16.4Km porque a certa altura depois de já estarmos em estrada alcatroada o percurso indicava de novo seguirmos em direcção à lama. Nem pensámos duas vezes, continuámos pela estrada. Podia ser mais longe mas pelo menos não haveria mais aventuras indesejadas.

Vejam só que tínhamos planeado sair dos North Moors por volta das 3 no máximo, para ainda irmos comer ao mercado das Shambles que fecha às 4 e meia, mas já chegámos a York por volta das 6 e tal. Basicamente uma das nossas típicas caminhadas!

Para jantar acabámos por ir ao Fat Hippo York, um local de hambúrgueres. Os preços são os normais da atualidade, onde se paga 13 libras por um hambúrguer. Eu gostei do meu, pedi o ‘Swiss Tony’ com bacon, cogumelos e cebola. O meu marido, no entanto, pediu o ‘Fat Hippo’ e achou-o muito gorduroso. Achamos que foram os aros de cebola que estando afogados em óleo estragaram o hambúrguer, mas também pelo nome não se podia esperar uma coisa saudável. O que foi a grande surpresa foram os acompanhamentos, os Tater Tots, eu tinha pedido as batatas fritas normais, mas devia ter ido para os Tater Tots como o meu marido.

Para acabar o dia e para não destoar acabámos por experimentar mais uns pubs e bares. Fomos primeiro ao Ye Old Shambles Tavern, que nos tinha sido aconselhado por locais, por terem uma boa seleção de cervejas não só locais, mas também internacionais. Não ficámos muito tempo porque havia uma atuação na parte exterior e o abrir e fechar constante das portas tinha feito descer consideralvemente a temperatura no seu interior.

Depois fomos a um local para cocktails, Evil Eye, onde há uma ennnnooooorrrrrmmmeeee seleção de cocktails, o difícil é mesmo escolher – é que tivemos mais de 10 minutos para escolhermos o que queríamos. O meu marido foi para um com absinto e depois admirou-se que era forte (rolar de olhos), enquanto eu fui para – eu acho que foi para o que se chama ‘Meet your maker‘ – mas para dizer a verdade eu estava indecisa entre tantos que já nem sei bem o que acabei por escolher. Eu podia ter experimentado uns 10 cocktails diferentes (mas na boa), no entanto a 10 libras cada tive de me conter e como ainda estava meio com frio do pub anterior pedi um Black Forest, um chocolate quente alcoólico que me fez muito feliz (é a velha dentro de mim a falar). No final, já se sabe, Valhalla, afinal era a nossa última noite em York. E claro que os hidroméis não faltaram na nossa mesa. No final da noite, demos uma voltinha rápida pela cidade até ao nosso hotel. A volta foi rapidíssima porque durante os dias que tivemos em York as temperaturas foram baixando rapidamente a cada dia que passava e na última noite já se faziam sentir temperaturas negativas.

Neste post vou também incluir as últimas horas em York já no dia seguinte. Depois do nosso terceiro pequeno-almoço inglês, fomos explorar a parte final das muralhas que acabámos por não fazer no sábado, depois da visita ao museu do castelo. Entrámos pelo portão, Bootham Bar, e não é que é desta secção das muralhas que se tem a paisagem mais bonita sobre York?

Depois de percorrida a última parte das muralhas que nos faltava, fomos andando sem destino pelas ruas da cidade, passeando pelo caminho junto ao rio, acabando por visitar a igreja de St Martin’s Le Grand. Tal como a igreja de St Olave, esta também se encontrava vazia até que numa certa zona ouviu-se uns baques…eu desta vez digo que eram ratos.


Para acabar a viagem fomos finalmente experimentar a comida do Shambles Market! Uma pequena, mas deliciosa food tour. E no momento em que experimentámos a comida soubemos logo ali que devíamos ter aproveitado e vindo aqui todos os dias! O mercado em si abre às 9 da manhã, mas o food court, os balcões de comida abrem pelas 11. Há várias escolhas e se fosse por nós tínhamos dobrado o volume do estômago para poder provar de tudo. Como não deu e também depois de termos comido um grande pequeno-almoço escolhemos dois sítios – primeiro o Ambrosia Greek Street Food York para um souvlaki; com pão super macio e mistura de carne com salada e molho tzatziki, completamente delicioso. Só foi mesmo por não haver mais espaço que não pedimos mais um, mas já tínhamos dividido este a meias para dar oportunidade a outras experiências culinárias. Um dos locais que queria ir, já um pouco desviado do mercado, mas ainda nas Shambles era a Shambles Kitchen para provar uma das sandes deles. Fui para a sandes de beef barbacoa chamada de ‘Guy Fawkes’ que se quiserem levam uma pequena vela, não sei como se chama, é daquelas velas que fazem faíscas quando se acende. Cada sandes ficou a 8 euros, o que é muito bom, especialmente comparado com a qualidade da comida.

Ficaram dois locais por experimentar, o NaNa noodles bar e o Smokehouse Burrito. Apesar de não saber quando voltarei a esta zona de Inglaterra (não é se, é uma questão de quando) já tenho uma lista de coisas para fazer. E a lista inclui também uma visita a Whitby, uma cidade costeira ao pé dos North York Moors, onde se diz encontrar o melhor fish and chips do país (o prato tradicional britânico de peixe frito com batatas fritas).

No mercado as mesas são ao ar livre, mas cobertas, no entanto, o frio era tanto que chegou a uma altura que nem conseguia sentir os dedos para agarrar na sandes. De forma a nos aquecermos antes de deixarmos esta cidade fantástica fomos então dizer adeus ao Cocoa Joe’s onde pedimos um chocolate quente com o chocolate negro da Tanzânia.

E assim fica a nossa primeira viagem de 2024 e a primeira visita a York. Já tenho dito, Inglaterra é muito mais que Londres, é um país de contrastes com aldeias, vilas e cidades onde se encontram os mais diversos tesourinhos escondidos. Se tiverem oportunidade de virem a York venham e sairão daqui de coração cheio.


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