
Quem tenta fugir das multidões de turistas que assola todos os bocadinhos do planeta durante os meses de Verão, escolhe as suas férias para os meses menos procurados. São aqueles turistas que não têm filhos, não têm paciência para multidões e que preferem preços que não requeiram um rim para pagar os valores exorbitantes que só o Verão proporciona. Para nós os meses em alta, relativamente a viagens, costuma ser de novembro até inícios de junho, mas com grande foco entre novembro e fevereiro. Isto porque há aniversários e ocasiões especiais que pedem uma escapadinha para fora do país. Mas viajar nos meses mais propícios a chuva e frio leva sempre a grandes percalços. Quando acontecem o que é preciso é ter alguma flexibilidade e aceitar que nem sempre os planos correm como o esperado. Apesar de reconhecer que às vezes é preciso batalhar contra aquele sentimento de frustração.

E nesta viagem foi preciso muita luta. Mas no final foi uma boa viagem e como sempre prefiro ter ido a Itália, pela segunda vez em 2023, mesmo com precalços do que não ter ido de todo (dá para perceber o pensamento do ‘copo meio cheio’, nāo dá?). O ponto principal pelo qual escolhemos este destino foi Pompeia. E vimos Pompeia, por isso ao menos essa parte foi conquistada. Há medida que for mencionando os vários pontos pelos quais fomos passando, vou explicando os preparativos antes da viagem e como foi a experiência. Partimos numa sexta de manhã (bem cedo) e voltámos na terça a meio da tarde. A intenção ao chegar ao final desta viagem é o de voltar para visitar outros sítios e talvez termos oportunidade de fazermos o que não conseguimos desta vez.
Assim comecemos por Pompeia
Preparativos
- Comprar os bilhetes. Em novembro não há grandes filas, mas para alturas com mais pessoas a querem também visitar Pompeia aconselha-se a comprar os bilhetes com antecedência. Comprámos os bilhetes no site oficial: http://pompeiisites.org/en/. Quando estiverem a fazê-lo o próprio website leva-vos para um outro (https://www.ticketone.it/en/artist/scavi-pompei/) onde poderão efetuar a compra. O preço do bilhete por adulto custa 22 euros. No website oficial podem verificar as horas em que abrem e em que encerram, uma vez que os horários sāo diferentes durantes os meses de Verão e os meses de Inverno.
- Transporte. Os transportes em Itália são muito bons. E isto é algo de muito positivo deste país, para além de uma série de outras coisas claro. Tanto quando fomos ao Lago Como quando visitámos Milão, como agora do aeroporto de Nápoles para Pompeia, os transportes foram pontuais e partiam da estação com bastante frequência.


Para ir de Nápoles a Pompeia apanha-se o comboio em Napoli Centrale diretamente para Pompeia. Nós como partimos do aeroporto ainda tivemos de apanhar um autocarro para o centro de Nápoles. Podem apanhar o Alibus que são 5 euros e que sai do aeroporto a cada 15 minutos. Existem outros autocarros que talvez fiquem mais em conta, mas que param em todas as paragens e como estávamos um tanto como que apressados para podermos aproveitar Pompeia esta foi a melhor opção. Nós não tínhamos comprado os bilhetes nem de autocarro nem de comboio adiantadamente, mas podem comprar os bilhetes eletrónicos que provavelmente será mais rápido e mais cómodo. Antes de comprar tenham a certeza de que conseguem apanhar o comboio à hora que escolherem. Talvez assim, sem ter que ir às máquinas, não tenham que ouvir a mesma voz a avisar vezes sem conta sobre os potenciais roubos.
- Acomodação: Ficámos na Maison De Luxe e não poderia recomendar mais este local. Acabou por ser o melhor sítio em que ficámos hospedados em toda a viagem! Como sempre usámos o booking.com para fazer a reserva: https://www.booking.com/hotel/it/maison-de-luxe.fr.html. A localização era ótima, fomos recebidos por uma senhora muito simpática, o quarto estava limpo e nāo se ouviu barulho durante a noite toda. Acreditem que a ‘falta de barulho’ faz muita diferença, especialmente comparando com a noite seguinte em Nápoles. O pequeno-almoço então fez-nos arregalar os olhos. A nossa mesa de pequeno-almoço dava e bem para 6 pessoas. Quando cheguei à sala pensei que essa era a mesa de onde se ia buscar a comida, mas não, afinal era a nossa mesa. Infelizmente eu de manhã não sou muito de doces, mas mesmo se fosse nunca tinha visto uma coisa assim. E ainda nos deram sacos de plásticos para levarmos a comida connosco. Nós só levámos dois bolos para o dia. Uma completa loucura de coisas boas numa mesa de pequeno-almoço!


Agora a nossa experiência em Pompeia. E porquê Pompeia?

Pompeia é uma cidade com uma atmosfera de vila, onde se guarda um grande tesouro cultural, a antiga cidade de Pompeia que foi devastada pelo vulcão do Monte Vesúvio. A antiga cidade de Pompeia faz parte do Património Cultural da Unesco e a preservação das suas estruturas permitem aos visitantes conhecer como era a vida no ano 79 Depois de Cristo (DC). Foi neste ano, no dia 24 de Agosto (não há um ditado em Portugal em que se diz que neste dia o diabo anda a solta?) que a erupção destrutiva do vulcão eliminou grande parte da vida humana na cidade de Pompeia preservando-a coberta por um manto de cinzas incandescentes. Ao contrário do que se pensa a erupção não aconteceu no vulcão Vesúvio, mas sim na montanha adjacente, o monte Somma. O vulcão Vesúvio dos dias de hoje resultou de erupções do monte Somma. Durante a erupção de 79DC que levou a terramotos, edifícios foram destruídos e a população esmagada pelos detritos vulcânicos que atingiu a cidade. Para aqueles que sobreviveram encontram um final terrível – asfixiação pelas nuvens de gases extremamente quentes que se libertaram. Foi neste manto de cinzas e pedras-pomes que a cidade permaneceu adormecida durante séculos. Conta-se que das 13.000 pessoas que viviam em Pompeia 15% a 20% morreu neste desastre.


Em 1748, um grande grupo de exploradores descobriram Pompeia debaixo da camada de cinzas e pedra-pomes. Ali encontraram uma sofisticada cidade greco-romana congelada no tempo. Villas, anfiteatro, teatros, praça central, casas, bordéis, lavandarias são apenas alguns dos muitos edifícios que foram sendo descobertos. E dentro destes edifícios encontraram os moldes feitos em cinzas agora endurecidas dos corpos humanos. A matéria biológica tinha desaparecido tendo sido ocupada pelas cinzas que mantiveram as formas dos corpos. O que é ainda mais incrível é que depois de tantos anos ainda exista 1/3 da cidade que não foi explorado. Para além do desejo de explorar mais, há uma prioridade que se sobrepõe, a necessidade de preservar o que já foi encontrado. Ainda em 2023 foram encontrados dois corpos de dois homens. Os restos mortais revelaram que estes dois homens não morreram asfixiados pelas cinzas, mas sim esmagados durante a destruição de edifícios.


Conseguem imaginar os segredos enterrados naquele 1/3 de cidade ainda não explorado? Quanto a isso só podemos esperar. E enquanto se espera nada como aproveitar para visitar as secções abertas ao público. E não é assim tão pouco como isso, mesmo depois de um dia a explorar chega-se ao fim sem se ter conseguido visitar todos os recantos e sem se ter visto todas as curiosidades.


Agora da minha experiência pessoal – o que encontrei foi diferente do que esperava? – Sim, em alguns aspetos, por exemplo pensava que tinham mantido os corpos dentro das casas onde estes foram encontrados. Mas é claro que não é preciso pensar muito que num local onde famílias percorrem com crianças aquelas ruas e pessoas mais suscetíveis a explorar Pompeia é preciso sensibilidade para não chocar, para a todos dar uma experiência única sem traumatizar. No entanto não se enganem, se procurarem irão encontrar aqueles que ficaram paralisados durante séculos por um vulcão que a população em 79DC nem sabia que existia até a destruição se abater sobre a cidade de Pompeia.
Algumas curiosidades extra:
- Antes da erupção de 79DC, o vulcão não tinha entrado em atividade havia cerca de 1800 anos e por isso a população não sabia que estava a viver perto de um vulcão
- Os corpos que se encontram em Pompeia não são mesmo corpos, mas sim moldes de gesso. Durante as escavações em 1860 aperceberam-se que os espaços vazios que continham os restos humanos eram as formas dos corpos. Para as preservar foi injetado gesso de forma a preencher os espaços vazios e assim preservar a forma dos corpos no momento da sua morte.
- Outra cidade, esta mais pequena, que também foi devastada pela mesma erupção foi Herculaneum. Eu não tive oportunidade de a visitar, mas apesar de ser mais pequena, o seu estado de preservação é ainda mais notável do que em Pompeia. Uma sugestão para a vossa e para a minha próxima viagem ao Monte Vesúvio.
Nós decidimos ficar uma noite em Pompeia tanto porque achámos que voltar para Nápoles ia ser cansativo e porque queríamos visitar o Monte Vesúvio no dia seguinte. Mas é possível fazê-lo. A viagem de comboio entre Pompeia e Nápoles dura cerca de meia hora. Não aconselho é a tentarem fazer o Vesúvio e Pompeia no mesmo dia, vão ficar de rastos.



Agora em relação à comida! Para almoçar queríamos uma coisa rápida e Nápoles é conhecida pela sua tradicional comida de rua (street food). Como podem imaginar eu tinha uma grande lista de comidas que queria experimentar – e, apesar de não ter dado para tudo, começámos o almoço com uma pizza frita. Aviso já que a comida de Nápoles não é para um coração fraco. Mas anda-se muito, por isso quase que um contrabalança o outro. A comida é deliciosa e mesmo o que soa menos bom é delicioso como acabou por ser a pizza frita num estabelecimento mesmo em frente de uma das entradas para a antiga cidade de Pompeia, ‘Pizzeria da zio Carmine di fagà Adolfo e Paolo‘. Itália consegue o subtil sucesso que é a pizza frita o que não foi bem-sucedido durante a nossa estadia na Escócia cuja experiência não consistiu só em pizza (congelada) frita, mas também em Mars frito. Não se pode comparar experiências. A Escócia que se deixe estar com o seu black pudding e haggis. Para acabar fomos provar um gelado à pastelaria De Vivo, mas ficámos meio desapontados. Apesar do bom aspeto os gelados não eram nada de especial, aliás um dos gelados nem sequer muito sabor tinha. Uma pena, pois a expectative era enorme.


Depois de passearmos um pouco pela cidade, passando pela praça principal onde se encontra o Santuário de Nossa Senhora do Rosário e de uma paragem no nosso quarto, escolhemos o local para jantar e um bar para descontrair. Acabámos por ir ao bar antes e depois do jantar. Fomos ao Pub27, um bar com bom ambiente e uma boa coleção de bebidas, especialmente de cervejas. No dia em que fomos era o aniversário do bar e por isso havia promoções especiais para celebrar a data. É que já nem se quis experimentar mais nenhum bar. E o ambiente, a música e as bebidas puxavam-nos para ficar. Bebemos uma cerveja e depois fomos jantar, já com a ideia de voltar.


Acabámos no restaurante Le Delizie Pompei via Roma 83. Esta foi uma decisão escolhida já em Pompeia pela promoção que oferecem. Dois pratos, mais dois acompanhamentos, pão e uma garrafa de água a 15 euros. Acreditem que para a comida que foi valeu bem o preço. Nós experimentámos gnocchi alla sorrentina, tagliatelle alla bolognese, parmagiana di melenzane e scaloppina al limone. No início ainda andámos a mirar os doces, mas depois desta grande refeição já não havia espaço para mais!


No final do jantar mais uma ida para o pub27. Não ficámos até muito tarde que o dia seguinte começava cedo. Era a nossa ida até ao monte Vesúvio antes de irmos para Nápoles.
Monte Vesúvio
Com um pequeno-almoço de leões ou mais de transformar gladiadores em diabéticos de uma só assentada eis que nos víamos prontos para deixar Pompeia e partir até ao monte Vesúvio. Tínhamos já o percurso feito e as horas contadas. Quando estávamos a chegar à paragem de autocarro os empregados do posto de turismo que ficava ao lado da estação disseram-nos que o topo do Monte Vesúvio estava fechado devido ao mau tempo. No início duvidámos, sim tinha chovido no dia anterior, mas não tinha sido nada de especial (a nosso ver), para além que o dia se apresentava limpo e o sol brilhava. Mas perguntámos tantas vezes que acabaram por nos convencer. Sem plano juntámo-nos a uma daquelas excursões que incluía a subida ao vulcão. A excursão parava num miradouro, num local para provar limoncello e ainda ia ao cimo do vulcão, a zona onde fica o tal posto de turismo. Custou-nos 20 euros e não penso que tenha valido a pena. Já que estava fechado mais valia termos feito uma paragem para visitar Herculaneum. Eu não achei o miradouro nada de especial, apesar de haver imensas pessoas a tirar fotografias à costa napolitana. Mas suponho que se está num miradouro mais vale tirar a fotografia. Quanto à prova de limoncello foi interessante, havia limoncello de vários sabores, o meu preferido foi o de melão. Havia limoncello de queijo mozzarella que eu detestei, mas o meu marido disse que era bom, talvez seja eu que tenha mau gosto.


O posto de turismo de onde se parte para o topo do vulcão estava mesmo fechado. Foi uma grande desilusão e ficou assim marcado uma re-visita ao vulcão (esperemos que dessa vez aberto). E esta foi a nossa primeira desilusão da viagem (sim, porque houve mais). Se também planearem vir ao topo do Monte Vesúvio lembrem-se que têm de comprar o bilhete primeiro, ainda antes de entrar no autocarro. Então acabo este post com os preparativos necessários para a visita à caldeira do vulcão do Monte Vesúvio.


- Comprar bilhetes com antecedência. No posto de turismo no topo do vulcão onde se entra para o último trecho até à caldeira não vendem bilhetes e a conexão de internet é bastante fraca. Se vierem de carro dão de caras com este problema neste ponto. Se vierem de autocarro desde Pompeia como nós, o motorista só vos deixa entrar já com bilhete. comprado Para comprar os bilhetes visitem o website oficial: https://vesuviopark.vivaticket.it/
- Os bilhetes têm hora marcada mas podem entrar 40 minutos antes e até 100 minutos depois da hora marcada
- O autocarro para o Vesúvio desde Pompeia é o 808 e o custo do bilhete é 3 euros. O autocarro demora cerca de 50 minutos o que têm de considerar dependendo da hora que marcaram a visita à caldeira. Se essa parte estiver encerrada, como aconteceu quando o visitámos, o autocarro não vai à paragem que fica ao lado do posto de turismo.
- Infelizmente não sei quanto tempo se demora a subir, a descer e a tirar fotografias. Espero que tenham a sorte que nós não tivemos, mas não se pode esperar sempre bom tempo quando se viaja em Novembro. Pelo que ouvi ir no Verão também tem as suas complicações, pois o calor é bastante forte.

Próximo post será sobre Capri, uma ilha lindíssima, e depois passaremos a Nápoles e sobre esta cidade só posso dizer WOW, é um outro estado de vida! Mas isso fica para mais tarde.
One thought on “Os precalços de viajar em Novembro – 1ª parte em Pompeia”