7ª Paragem no Gerês: Pitões das Júnias, aldeia, mosteiro e cascata

Para ver toda a nossa viagem no Gerês veja a nossa página: Parque nacional Peneda-Gerês


Depois de fazermos o check-out no Hotel Vista Bela do Gerês ao pé da aldeia do Outeiro (ver post anterior), seguimos para Pitões das Júnias, a aldeia mais a oeste no parque nacional que iríamos explorar. Não só iríamos fazer o trilho que passa pela cascata de Pitões das Júnias e pelo Mosteiro de Santa Maria das Júnias, mas também passaríamos aquela noite na aldeia, na Casa d’Campo Ferreira.

Aldeia Pitões das Júnias

Trilho de Pitões da Júnias

O trilho de 4.3Km percorre um trajecto circular que começa (e acaba) no Anjo, ao pé do cemitério de Pitões das Júnias. O percurso não é difícil, a parte onde se terá maior dificuldade é na do caminho de terra que sai do trilho principal até às ruínas do mosteiro. Essa parte do caminho não é circular, ou seja desce-se até ao mosteiro e depois sobe-se pelo mesmo caminho para chegar outra vez ao trilho principal.

Estacionámos assim o carro ao lado do cemitério, debaixo de uma árvore, para proteger o carro do sol – que mesmo àquela hora matinal o calor já se fazia sentir. Começámos a descer pelo trilho até encontrarmos um cruzamento, virámos à esquerda para o mosteiro (para a direita o caminho vai dar à cascata) e descemos o estreito trilho de terra batida.


Mosteiro de Santa Maria das Júnias

Chegada ao mosteiro de Santa Maria das Júnias

Apesar de não se ter certezas, pensa-se que o mosteiro surgiu a partir de um eremitério no século IX. Em termos arquitetónicos, o mosteiro enquadra-se no estilo românico juntamento com características do estilo gótico. O mosteiro de Santa Maria das Júnias é considerado monumento nacional.

Até meados do século XII, os monges que viviam neste mosteiro seguiam a regra de São Bento (regra beneditina), tendo adoptado posteriormente a regra da Ordem de Císter. O mosteiro esteve afiliado, durante período alternados, ao mosteiro de Oseira, na Galiza, e ao mosteiro de Santa Maria do Bouro, no Gerês.

Igreja do mosteiro de Santa Maria das Júnias

Existe apenas uma inscrição neste mosteiro com uma data específica, inscrição essa que se traduz por ‘Era Hispânica de 1185, Anno Domini de 1147‘. É curioso que esta é também a data de quando D. Afonso Henriques conquistou a cidade de Lisboa aos mouros, conseguindo-o com a ajuda do Bispo do Porto, D. Pedro Pitões.

No século XV, o mosteiro entra em decadência depois da morte do abade D. Gonçalo Coelho e é abandonado em 1820. Apesar de várias partes do mosteiro estarem em elevado grau de degradação, em 1566 retomava-se a vida monástica com a presença do abade D. Valeriano de Villada. De acordo com vários documentos, houve várias campanhas de reforma durante 1726 a 1728, contudo as precárias condições do mosteiro levaram ao seu encerramento em 1834/1835.

Nas ruínas do mosteiro da Santa Maria das Júnias

Hoje, o mosteiro encontra-se em ruínas e como tal existem vários avisos de perigo alertando para a possibilidade de derrocadas. É possível passear por dentro das ruínas, mas não é possível visitar o interior da igreja. Mesmo em ruínas, o mosteiro ainda tem um ar majestoso.

Ao lado do mosteiro fica um ribeiro que faz parte da ribeira de campesinho; águas essas que alimentam a cascata de Pitões das Júnias.

E era para visitar a cascata que voltámos a subir pelo caminho de terra batida até ao trilho, virando agora no entroncamento para o lado contrário.


Passadiços e miradouro da cascata de Pitões das Júnias

A certa altura o trilho é substituído por passadiços que estão em óptimo estado depois da sua restauração parte de um projecto de 60.000 euros. Este projecto piloto do parque nacional da Peneda-Gerês dá-se pelo nome de ‘Substituição e melhoria infraestrutural e de usufruição do passadiço de Pitões das Júnias’. O projecto foi financiado pelo Fundo Ambiental e teve apoio logístico do município de Montalegre e da junta de freguesa de Pitões das Júnias. Os passadiços não levam até ao pé da cascata e não dá para ir à cascata desde o ponto em que os passadiços terminam, que é no miradouro da cascata de Pitões das Júnias.

Passadiços para o miradouro da cascata de Pitões das Júnias

A cascata tem uma altura de 30 metros e encontra-se entre fracturas das rochas graníticas envolventes. Há uma maneira de chegar ao topo da cascata por um trilho muito estreito, mas para além de perigoso não é aconselhado para aqueles que têm medos de alturas. Para além disso, a paisagem que o miradouro oferece é bastante bonita sem ser necessário correr riscos desnecessários.

Voltando a subir os passadiços e seguindo pela estrada chega-se à entrada da aldeia de Pitões das Júnias.

Para quem quiser estender o trilho há um que passa pela igreja de São João, uma igreja branca que fica no cimo do monte, que é possível avistar da aldeia. Se assim pretenderem contem em percorrer uma distância de cerca de 17.7Km. O mapa e as indicações para este percurso podem ser acedidos através do link: https://pt.wikiloc.com/trilhas-trekking/pitoes-das-junias-capela-de-sao-joao-mosteiro-de-santa-maria-cascata-de-pitoes-85489955


Montalegre – uma paragem útil

Quando chegámos ao carro ainda era bastante cedo para a hora do check-in, que tinha sido combinado para as 4 da tarde, e por isso decidimos que esta era a melhor altura de ir até Montalegre. Até teríamos feito primeiro uma pausa na ‘Taberna de Caskais‘, um restaurante mesmo ao lado do cemitério, que nos pareceu com potencial para se tornar uma surpresa tão boa como o café em Fafião, mas infelizmente fecha às segundas-feiras.

Montalegre fica a cerca de 20 a 30 minutos de Pitões das Júnias e não chegámos a explorar a vila ficando-nos pelo supermercado à sua entrada para pôr gasóleo e comprar mantimentos pois o alojamento em Pitões das Júnias não incluía pequeno-almoço. Apesar de não ter muito para dizer sobre Montalegre, esta deve ser uma paragem a considerar especialmente para meter gasolina, não havendo muitas oportunidades dentro do parque nacional do Gerês.


Aldeia e Casa d’Campo Ferreira

Cozinha da Casa d’Campo Ferreira

Voltámos para Pitões das Júnias e deixámos o carro no largo que fica à entrada da aldeia, no fim da rua de Chães. Isto porque as estradas dentro da aldeia são bastante estreitas e não quisemos ter mais aventuras. Também a Casa d’Campo Ferreira, onde íamos ficar alojados, ficava apenas a cerca de 5 a 10 minutos a andar. Às 4 da tarde fomos recebidos no nosso alojamento e como não havia mais hóspedes para aquela noite ficámos com a casa inteira para nós. A casa está dividida em duas partes – a parte debaixo que antes devia ser a loja ou o curral dos animais, está agora dividida em quartos individuais. A parte de cima, a casa em si é normalmente alugada a famílias. A casa tem 4 quartos, sala e cozinha. Penso que 2 dos quartos tem casa-de-banho privativa, pelo menos o nosso tinha, e outra na zona partilhada.

A casa foi restaurada e tem todas as comodidades precisas, mas mesmo assim o seu carácter rústico de uma casa por onde já passaram muitas gerações foi mantido.

A única coisa que estava a faltar era acesso ao WiFi. Pelo que nos disseram não havia internet porque na semana anterior tinha havido uma trovoada fortíssima que tinha queimado alguns cabos. E pelos vistos, as trovoadas são comuns naquela região. E eu não duvido, porque apesar de estarmos no final de maio não deixámos de acender a lareira depois do jantar, para nos aquecermos, para tornar a casa mais confortável enquanto aproveitávamos aquele prazer lânguido com algumas das bebidas que que tínhamos trazido de Montalegre.


Restaurante Casa do Preto

Não havia muitos restaurantes à escolha, mas havia um e era esse que eu queria experimentar depois de ler que era aqui que se comia o melhor bolo de chocolate do mundo – o restaurante Casa do Preto.

Bem não sei se assim será, mas o bolo de chocolate é realmente famoso neste restaurante e foi no final uma das refeições que mais nos ficou na memória desta viagem. E não só pelo bolo.

Restaurante Casa do Preto

Fizemos o caminho a pé e apesar de não termos marcação tivemos mesa. Aliás tivemos todo o restaurante. Eu acredito que quem vá passear no Gerês durante o Verão não ache possível que todos os restaurantes estejam vazios em época baixa. Mas assim foi mais uma vez, tivemos o restaurante inteiro para nós! Até chegámos a perguntar se era sempre assim, mas tal como no restaurante em Covide, Turismo, também aqui é a hora de almoço que o restaurante tem mais movimento.

E como as férias estavam quase a acabar mandamo-nos de cabeça para a comida, começado nas entradas – chouriça assada e queijo. O queijo vinha acompanhado com um doce, eu penso que era doce de marmelo ou de abóbora, que complementava o queijo maravilhosamente. Para prato principal decidimos dividir uma feijoada à transmontana. A feijoada em si era deliciosa, mesmo muito boa. Disseram-nos depois que os enchidos são locais, feitos pelo próprio restaurante.

Mas agora feijoada ao jantar não sei se terá sido a escolha mais acertada. Nem fazendo os 17.7Km nos livrava do quanto tínhamos comido. Mas claro, como sempre, no final havia um estômago especial reservado para as sobremesas, pois tínhamos de experimentar o bolo de chocolate. E valeu imenso a pena, mesmo saindo empanturradíssimos do restaurante.

Aconselho imenso a virem a este restaurante – bom ambiente, boa vista, bom atendimento e o melhor – boa comida.

No final, já a pagar, perguntámos o porquê do nome do restaurante. Até porque na nossa aldeia há famílias com essa alcunha devido à cor morena da pele. E é exactamente o mesmo aqui, como a família era conhecida como os pretos por terem uma pele morena foi esse o nome que deram ao restaurante. É engraçado como aldeias tão distantes tem um pensamento cultural tão semelhante.

Não sei explicar porquê, mas esta foi a aldeia que mais me marcou de todas aquelas que visitei no Gerês. Não sei se foi pela sua atmosfera sombria ou por ser um local recatado como se estivéssemos separados do mundo. Talvez por ambas razões, talvez por nenhuma, mas o que é certo é que Pitões das Júnias me marcou.

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