Veneza, Itália

O nome ‘Veneza’ evoca várias emoções – para os amantes de viagens, de fotografias, poetas, sonhadores e pintores. Em cada esquina, em cada canto, há um bocadinho para descobrir, para olhar, para respirar cada paisagem. Quando comecei a ver o que fazer em Veneza o primeiro aviso foi ‘preparem-se para se perderem, mas rapidamente voltarão a encontrar-se’, neste pedaço de paraíso onde nem sequer o Google Maps tem lugar. E sim, perdemo-nos, encontrámo-nos, explorámos, aventurámo-nos e encantámo-nos naquela que é a cidade mais pitoresca de Itália.

Mas por ser uma cidade tão adorada, procurada, amada, está a sofrer com o turismo. Milhões de pessoas a percorrer as ruas de uma ilha que está aos poucos a afundar-se, que um dia deixará de existir se não se criar uma acção de protecção. E está a começar essa mesma acção, a partir de Abril de 2024, os turistas começam a pagar 5 euros cada vez que queiram entrar na cidade. Muitos são os que dizem que 5 euros não vai parar o turismo alarmante, mas suponho que se tenha de começar por algum lado. Aliás é imperativo começar agora se queremos que Veneza continue presente no mundo futuro.

Ao invés de tudo o que eu acabei de escrever, o meu sonho não passava por visitar Veneza, mas há algo especial em conhecer esta cidade na altura do Carnaval, mesmo que seja só uma vez na vida. E foi essa a razão de termos vindo a Itália no final de janeiro. O Carnaval decorreria entre 3 e 13 de fevereiro, mas os preços da acomodação já estavam a preços alarmantes para estas datas. Mesmo na parte de Veneza dentro de Itália continental (duvido que seja este o termo correto), onde a acomodação costuma ser mais económica. Por isso fomos no fim-de-semana antes, 27 e 28 de janeiro, o fim-de-semana do chamado pré-carnaval, altura em que se começam a ver mascarados a vaguear pelas ruas e quando decorre o cortejo de início da época carnavalesca, concebida pela grande frota de barcos que parte de uma ponta do Grande Canal passando pela ponte Rialto. Este ano durante o fim-de-semana também haveria espetáculos de rua. O tema do Carnaval muda todos os anos, este ano, em 2024, o tema era ‘A incrível jornada de Marco Polo’, o grande explorar dos mares de origem italiana numa homenagem ao 700º aniversário da sua morte.


Chegar a Veneza

O aeroporto mais perto de Veneza é o aeroporto internacional Marco Polo. Podem chegar a Veneza de autocarro apanhando-o no aeroporto até Venezia Mestre, a estação que fica na parte continental de Veneza, e depois o comboio para Venezia St Lucia, a estação que fica na ilha de Veneza (esta é a tradicional parte da cidade, e da qual me estarei a referir neste post). Em Veneza não é permitida a circulação de carros, onde a forma mais cómoda e fácil de transporte é o aquático. Os ‘autocarros aquáticos’, os chamados Vaporetto, ligam as várias partes da cidade, percorrendo os diversos canais, sendo possível apanhar um Vaporetto do aeroporto para Veneza. Se por outro lado é possível visitar Veneza a pé? Sim é, aliás foi o que fizemos, mas lembrem-se de que para ir de A a B tem que se passar por C, D, E,… e por isso se tiverem o tempo contado os vaporetto serão a melhor opção. Neste momento cada viagem de Vaporetto fica a 7 euros mas há vários passes que podem comprar e que permitem andar as vezes que quiserem de Vaporetto durante um determinado período de dias (dependendo do pass que comprarem): https://www.veneziaunica.it/en.


Onde ficar

Há duas opções, uma é mais económica, mas a outra para além de mais cómoda, permite ter uma melhor experiência da cidade. Ficar em Veneza Mestre invés de em Veneza central normalmente fica mais em conta financeiramente e é onde muitos decidem ficar, pois a viagem de comboio entre Venezia Mestre e Venezia St. Lucia é rapidíssima, apesar de não saber bem as regras que vão entrar em vigor agora com a taxa de entrada adicionada. Não sei se para aqueles que ficam em Venezia Mestre terão de pagar 5 euros todos os dias que quiserem entrar em Veneza, ou se haverá alguma espécie de acordo. Nós arranjámos um hotel dentro da ilha de Veneza, no distrito de Cannaregio, mesmo em frente ao rio; o hotel Vecellio, um hotel de 3 estrelas com pequeno-almoço incluído. Marcámos um quarto com vista para o rio e apesar do quarto gritar por umas obras de restauro, o hotel (e o quarto) conseguiram ir de encontro às nossas expectativas, até mais, porque sendo uma cidade rodeada por canais, aliás as estradas são os canais de água, as fundações das estão constantemente imersas por água. Tínhamos lido muitas histórias de pessoas que encontraram camas com percevejos ou madeira carujada, ou quartos com níveis de limpeza a deixar muito a desejar.

Vista do nosso quarto com uma paragem de vaporetto mesmo àa frente do hotel

Foi com algum alívio que o nosso quarto não sofria de tais males. Cada noite custou-nos cerca de 100 euros mais a taxa da cidade. O nosso quarto devia ser a ‘preciosidade’ do hotel, porque a rececionista perguntou-nos umas quantas vezes se gostávamos do quarto como se esperasse que ficássemos completamente impressionados. Não ficámos, mas como disse sentiu-se algum alívio, especialmente depois de puxar os lençóis para trás e não ver bichinhos a rastejar (claro, isto depois da rececionista já ter saído do quarto). O sistema de pequeno-almoço incluía uma lista que todos os dias preenchíamos escolhendo o que queríamos para a manhã seguinte. A escolha incluía entre croissants, sandes, cereais, iogurtes, cafés, chás e chocolate quente. Podia-se pedir a quantidade que se quisesse de cada item da lista.

Uma das minhas sugestões, e de muitos viajantes que passaram pela cidade, é que tentem ficar alojados na ilha de Veneza, conhecer Veneza durante a noite, já sem as ondas de turistas a percorrer as ruas foi uma das melhores experiências que tivemos.


As primeiras impressões

Durante os 2 dias e meio passados em Veneza, o nevoeiro pouco nos largou, o que podia ter sido chato, mas para dizer a verdade acho que até adicionou um ar mais misterioso a Veneza. Talvez porque tinha visto há pouco tempo ‘Haunting in Venice’ este tempo adequava-se a essa vibe de mistérios. Até chegámos a comentar a certa altura que se alguém caísse à água durante a noite, ninguém o encontraria até o dia seguinte.

Mal começámos a percorrer as ruas da cidade rapidamente nos apercebemos o porquê dos avisos sobre as pessoas perderem-se e não haver um GPS que os levasse pelas ruas certas. É que ias ruas são tão estreitinhas, de tal forma que em algumas mal dá para passar duas pessoas ao mesmo tempo. Esqueçam lá a ideia de carros, realmente era impossível. O que há muito são pontes, pontes à esquerda, à direita, ao centro, pontes que servem de entrada para casas e prédios. Quem nunca desejou ter uma ponte privativa como entrada de casa? Bem, em Veneza é bastante fácil de se arranjar! Outra coisa que há muito são pessoas, mas por todo o lado até chegar a um ponto de ser maçador. Dos 6 distritos que Veneza está dividida os mais desafiadores são o de San Polo e San Marco, que ficam mais no centro. Nas zonas de Cannaregio e Dorsoduro, zonas um bocadinho menos turísticas, é mais fácil respirar e apreciar a cidade sem ter de ter o cuidado constante de não pisar os calos a alguém. E foi mais na zona de Cannaregio que ficámos nesta primeira noite. Depois de instalados no nosso (maravilhoso, de acordo com a rececionista) quarto e de uma inspeção de conclusão favorável às condições sanitárias e biológicas deste, eis que saímos, já na mira da comida. Mas primeiro, porque havia ainda uma réstia de luz decidimos passar no bairro judeu, conhecido como o Ghetto.

Praça principal do bairro judeu

O Ghetto existe desde 1516 e é hoje considerado o bairro judeu mais antigo do mundo. Infelizmente já nesta altura os judeus sofriam com a discriminação tendo sido confinados a esta zona de Veneza pela República Veneziana. No entanto em 1797 quando o exército francês comandado por Napoleão Bonaparte ocupou a cidade, a separação do Ghetto com o resto da cidade dissolveu-se. Fomos até à praça principal, mas afinal os restaurantes já estavam fechados tal como as sinagogas, sendo que uma delas até estava em obras. Acabámos por não voltar a esta zona por falta de tempo, mas fica aqui a dica de um local cheio de história.  Se vierem durante o dia encontrarão certamente padarias aberta que valerão a pena experimentar como a chamada Panificio Giovanni Volpe.

Eu tinha esta padaria apontada para experimentarmos, mas afinal não aconteceu. Aliás tinha muitos locais apontados, todos eles locais que não nos levariam um braço ou um rim. Digo isto porque Veneza é conhecida por ser extremamente cara e é preciso atenção principalmente nos restaurantes e cafés nas zonas mais turísticas. Por exemplo, restaurantes com menus sem preços são um grande NÃO, porque no final pode chegar-vos uma conta com um valor exorbitante para pagar. E para nós, tal como tinha dito no post sobre Bassano del Grappa, esta era uma viagem de baixo custo, pelo menos o quanto possível. Durante a nossa estadia em Veneza, acabámos por realmente nunca jantar num restaurante, mas não foi por isso que a nossa experiência culinária não foi boa. Neste primeiro dia, quisemos experimentar um dos locais mais recomendados, o Fried Land, onde acabámos por provar duas iguarias locais; o cone de mar (fritto di mare) com camarões, peixinhos e lulas fritos na hora, que acabou por ser ainda melhor que o cone que tínhamos provado em Nápoles, e a massa com choco de tinta (pasta al nero di sepia), que apesar de ter uma aparência, pode-se dizer que estranha, tinha um sabor delicioso. A massa também feita na hora. O cone custou-nos 8 euros e a massa 7. O local é pequeno, não tem mesas, mas tem um pequeníssimo balcão com três bancos altos, que por sorte ficaram livres quando estávamos à espera da comida. Confesso que foi mais confortável comermos o nosso jantar sentados, do que comer no exterior ao frio. Se comerem ao ar livre, cuidado com as gaivotas, elas são predadoras de comida humana e não têm medo de tirar um olho a alguém para conseguirem surripiar uma argola de lula.

O Fried Land pareceu-nos ser um local bastante popular, apesar de não ser propriamente um restaurante. Isto porque durante o tempo que aqui estivemos não deixou de chegar mais e mais pessoas. Para acabar a noite fomos beber qualquer coisa e para ficarmos na zona, pois apesar de tudo, tínhamos acordado bastante cedo para aproveitar o dia em Bassano del Grappa (ver último post) fomos ao Bacaro Pub da Aldo (Bacaro Pub da Aldo Birre Da Tutto Il Mundo) onde há uma grande selecção de cervejas. Mas o que nos chamou à atenção foi o aperol spritz XL por 5 euros. Pelo mesmo preço também se pode pedir o campari spritz. Ambas são bebidas tradicionais de Itália, o campari com um sabor mais intenso, parecido digamos com o da água tónica, enquanto o aperol tem um sabor mais docinho. Como estava frio sentámo-nos numa das mesas dentro do café onde encontrámos vários jogos de tabuleiro. Decidimos jogar damas, ou melhor, eu decidi levar uma abada nas damas, e para lamber as feridas não só fui para mais um campari spritz como ainda pedi um frito de bacalhau com mozzarella.

Por volta das 10 horas da noite decidimos voltar para o hotel. Percorrer aquelas ruas durante a noite sem pessoas, apenas o silêncio a rodear-nos deu-nos a conhecer outro lado de Veneza.

E assim acabo este post com o resto a ser relevado nos próximos capítulos!

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