A Madeira nas alturas e nas tempestades

Contávamos ainda ter algum tempo durante o dia para explorar a Madeira antes da tempestade chegar – a tempestade Óscar. Mas a tempestade no final foi uma coisa a sério e era o que se esperava pois havia avisos por todo o lado, não só na comunicação social mas nos locais onde passámos durante a manhã.

O primeiro local do dia foi a Fajã dos Padres. A Fajã dos Padres pode-se definir como um pequeno resort, mas mais rural. Para descer a falésia só de teleférico e quando descem encontram um lugar recluso com uma praia escondida e uma floresta de bananeiras e maracujás.

Também encontram um restaurante e se quiserem passar aqui a noite podem alugar um dos chalés disponíveis. Nós desta vez viemos apenas para passear e na compra do bilhete foi nos dito que contavam fechar mais cedo, por volta das 3, em vez das 7, por causa da tempestade, de outra forma deixaria de ser seguro de o fazer. E compreende-se principalmente quando se viaja naquele teleférico…a descida quase a pique que percorre os 300 metros de altura da falésia numa experiência espetacular, ou horrífica se tiverem medo de alturas. Nós infelizmente não tivemos oportunidade de fazer praia devido ao tempo, mas quando está sol e tempo mais ameno pareceu-me ser uma ótima escolha para quem procura um sítio mais acolhedor.

A segunda paragem foi num dos lugares muito procurados na Madeira – o Cabo Girão. Muito procurado porquê? Para além de ser um espetacular ponto de observação, o chão é de vidro e a descida da falésia quase vertical, criando uma experiência vertiginosa. Têm de se pagar para entrar para o observatório e tem um custo de 2 euros por pessoa. Nós nem sequer o fizemos porque a esta altura havia um nevoeiro cerrado acompanhado com uma súbita carga de água. Achámos que nos irmos molhar sem pudermos ver nada de paisagem não valia muito a pena. Tentando fugir à chuva fomos até ao Cristo Rei da Ponta do Garajau. A grande estátua de Jesus Cristo, de braços abertos, voltada para o mar é o começo de um miradouro com uma vista sobre parte da baía do Funchal e do património natural do Garajau. Sem esquecer de mencionar uma paisagem extensa do Oceano Atlântico.

Não ficámos muito tempo porque as nuvens de tempestade encontravam-se cada vez mais perto. E com isto tivemos de dar com o nosso dia por meio que encerrado. Acabámos por voltar a Santa Cruz, onde estivemos no restaurante Pizza Café a ver o mar, cada vez mais violento e as rajadas de chuva que sacudiam as árvores. A meio da tarde fomos ainda provar um bolo à Confetaria dos Nietos e em seguida fomos para o quarto do hotel.

Durante o final da tarde a tempestade piorou, todos os voos foram cancelados e a televisão inundava-se de notícias sobre o que se estava a passar na ilha. Neste dia todos os trilhos nas levadas foram encerrados, mas infelizmente ainda houve pessoas que acharam que as regras não se aplicavam a eles e enfiaram-se pela meio da floresta quando a tempestade estava em força. Nada como testar o poder da natureza e ao mesmo tempo a das forças de autoridade na Madeira. E nós que tínhamos voo no dia a seguir já a pensarmos o que nos ia acontecer se este fosse cancelado.

Quando a tempestade Óscar começou…

Para jantar e não querendo sair de carro, nem muito da zona, acabámos no restaurante Bom Jesus onde experimentámos o famoso peixe com maracujá e banana, começando pelo polvo como entrada – acho que era o polvo de cebolada – e para finalizar mais um cheesecake de maracujá. Da refeição adorámos – preferimos o peixe com maracujá, mas sem a banana e adorámos a entrada de polvo. Apesar do mau tempo acabámos bem o dia.

Com a tempestade muitos restaurantes e cafés fecharam bastante mais cedo (por volta das 7/8), mas para não acabar o dia ali, ainda fomos passar mais um bocado na esplanada coberta do Pizza Café. Olhar para o mar revolto e a tempestade envolvente, apesar de perigoso não deixa de ser fascinante. Já em direção do hotel parámos no restaurante a Bilheteira para uma nikita mas não ficámos convencidos. Mas foi nestes três estabelecimentos durante o final do dia que percebemos que os madeirenses estavam com bastante receio da tempestade e dos estragos que podia causar. E até o mar já nem estava azul ou esverdeado, tornava-se cada vez de uma castanho devido às enxurradas de água que arrastavam enormes quantidades de terra. E no final tinham razão, no final houve pessoas que ficaram desalojadas e inúmeros estragos pela ilha como podem ver aqui

O mar a tornar-se castanho

No dia a seguir tínhamos pensado entregar o carro e depois visitar o Funchal, uma vez que o nosso voo era às 6 da tarde. Acordámos com talvez menos vento, mas a chuva continuava. Fomos entregar o carro ao aeroporto e entrámos dentro do aeroporto para ver o estado do nosso voo, se a informação nos diria que tinha sido cancelado. E foi aqui que nos bateu a realidade de viajar. Muitas, mas mesmo muitas pessoas deitadas em colchões míseros de cor azul forte, espalhadas pelo chão. Estas eram as pessoas que tinham tido os voos marcados para o dia anterior e que tinham sido cancelados. Esperavam ali para saber quando podiam viajar. O cheiro dentro do aeroporto era a suor e humidade. Não é o que se idealiza quando se viaja. Foi ali naquele momento que descobrimos que viajar não é só glamour como pode rapidamente tornar-se uma situação muito difícil e naquele momento só esperávamos que nessa mesma noite não nos encontrássemos na mesma situação. No final foram cancelados 72 voos em menos 48horas. E as coisas adensavam-se – por exemplo isto era terça-feira e houve um casal de idosos que só teria voo disponível no próximo Sábado. Nós sem pudermos fazer nada até à hora – ainda perguntámos se sabiam se o nosso voo estaria atrasado ou não mas disseram que não saberiam nada até à hora do voo. No total, em dois dias mais de 20mil pessoas foram impossibilitadas de viajar.

Assim, mesmo com mau tempo, apanhámos o autocarro que parte do aeroporto até ao Funchal, o Aerobus que custam 8 euros ida e volta. Chegámos ao Funchal e ainda estava a chover. E continuou a chover todo o tempo em que estivemos na cidade. Aliás, acabámos por não ver nada de jeito no Funchal e foi por isso que no primeiro post disse que uma viagem até ao Funchal está na lista para planos futuros. Passámos no mercado dos Lavradores, pela catedral do Funchal, e pronto foi isso. Por isso, prefiro esperar até à próxima viagem para poder falar como deve ser do Funchal.

E fomos para o aeroporto. Quando chegámos no placar havia mais uns quantos voos cancelados – havia mais cancelados do que a partir da ilha. Mas por volta das 5 da tarde, como numa espécie de filme, as nuvens saíram da ilha e o sol começou a brilhar – assim de repente como se nada se tivesse passado. Muitas foram as pessoas que começaram a sair de dentro do aeroporto para olhar para o céu. Garanto-vos que foi mesma cena a filme. E nós por uma imensa quantidade de sorte embarcámos no nosso voo e saímos da ilha que nos deixou uma experiência incrível – muita coisa boa, muita coisa má e tudo por entremeio.

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