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Pincães (3.11KM)
O nosso objetivo ao parar em Pincães era o de visitar a cascata, a cascata de Pincães. O percurso para chegar à cascata a partir da aldeia de Pincães é de mais ou menos 3Km (ida e volta) não sendo possível chegar à cascata sem ser a pé.
- Estacionamento
A nossa ideia inicial era a de estacionar o carro mais ou menos no fim da Rua da Casa Nova, dentro da aldeia de Pincães, e percorrer o caminho de terra a pé, mas não foi possível. Isto porque num esforço de melhorar a qualidade de vida dos habitantes da aldeia e para impedir o estacionamento inapropriado de viaturas a circulação destas, dentro das estradas da aldeia, está apenas autorizada a moradores ou naturais da região. Não sendo nem uma coisa nem outra, estacionámos o carro no parque de estacionamento na rua principal, na estrada N308, ao pé do cemitério de Pincães. Assim também tivemos a oportunidade de conhecer um pouco mais a fundo o centro da aldeia.


- Vida em Pincães
Em Pincães, a vida rural é a predominante sendo o fumeiro e a produção de mel duas atividades bastante importantes para a região a nível económico. E ao percorrer as ruas da aldeia sente-se que estamos no meio do campo, onde se vive maioritariamente entre o gado e a agricultura. É também um local onde a religião católica ainda é dona e senhora – encontrámos uma aldeia onde o silêncio era apenas cortado pelo som da missa da manhã de Domingo que ouvimos a sair da janela de uma das casas.
- Trilho para a cascata de Pincães
O trilho para a cascata não está sinalizado com tanta frequência como em alguns outros trilhos no Gerês, contudo as indicações vão sendo encontradas espaçadamente pelo caminho. Depois de passar pelas ruas da aldeia, segue-se pelo caminho estreito de terra, levando-nos para dentro da floresta. Pela caminho encontra-se a levada que serve como companhia durante a maior parte do percurso. Também se encontra moinhos de água que estão agora em desuso. O caminho não é difícil de percorrer, sendo a parte mais difícil nos últimos 250 metros, onde a subida pelos pedregulhos é bastante acentuada. Para algumas pessoas esta subida é ainda mais desafiadora ao não usarem calçado adequado para a tarefa em mãos.
- A cascata e lagoa de Pincães


Se visitarem a cascata de Pincães durante um dia de calor podem mergulhar na lagoa alimentada pela cascata. A nós bem nos apeteceu, mas depois do grande pequeno-almoço que tínhamos comido na Guest House Fojo dos Lobos (ver último post) as consequências de nos atirarmos à água gelada não seriam as melhores. E foi com muita pena que não o fizemos, acabando por voltar para trás, passando novamente pela levada e pela aldeia até ao carro.
Ponte da Misarela (2.96Km)
A paragem seguinte, a ponte da Misarela também conhecida por Ponte de Mizarela ou Ponte do Diabo (devido a uma lenda, ver em baixo) acabou por se tornar numa maior aventura do que aquela que esperávamos. E foram vários fatores que reuniram as condições para a aventura acontecer.

- Primeira paragem
A primeira decisão foi o local onde estacionámos o carro. Pensámos que o melhor ou mais apropriado lugar para deixar o carro seria depois da ponte que passa por cima do Rio Cávado, na estrada CM1021. O nome do local indicado no Google Maps, ‘Parkplatz Ponte da Misarela’, foi a razão pela qual escolhemos este sítio. Saímos do carro e tivemos de começar a subir para o ponto onde se teria acesso ao ‘Trilho para a ponte da Mizarela’. Depois de quase 10 minutos a subir, descobrimos que podíamos ter deixado o carro mais acima e que escusávamos de ter feito aquela subida.
O segundo fator foi o facto de não termos feito uma boa pesquisa sobre o trilho circular PR5 – MTR, o trilho da Ponte da Misarela, porque se o tivéssemos feito saberíamos que no total o trilho percorria uma distância de 11.35Km.

Sem saber, pensando que chegaríamos à ponte num instante, começámos a percorrer o caminho estreito de terra onde as condições iam piorando à medida que avançávamos. Eu como de costume, estava a ver no mapa do GPS o quanto ainda nos faltava andar para chegar à ponte e foi quando me apercebi que não só ainda estávamos bastante longe como era do outro lado da ponte onde havia alguns pontos de interesse como o miradouro e a calçada romana. E este foi o terceiro fator, ao percorrermos cerca de meio quilómetro decidimos voltar para trás e deixar o carro mais perto da ponte da Misarela, possivelmente ao pé da capela da Misarela.
- Segunda paragem
Fomos todos lampeiros a pensar que estávamos a ser muito espertos. Enfiámo-nos no carro, atravessámos novamente a ponte sobre o rio, depois passámos por uma ponte mais estreita ao lado central hidrelétrica de Vila Nova e começámos a subir pela estrada que nos daria acesso à aldeia. Foi quando chegámos que nos defrontámos com um problema – tal como em Pincães aqui também as ruas dentro da aldeia eram apenas para circulação de viaturas pertencentes a moradores ou naturais da região. Sendo assim, tivemos de deixar o carro no ‘parque de estacionamento da Ponte da Misarela’ – que como o nome indica é onde os turistas devem deixar o carro. Ao sairmos demos-nos conta que estávamos ao lado do recinto de festas e que a festa devia decorrer naquele fim-de-semana pois havia imensos miúdos e graúdos com fatos de escuteiro a circular por ali, altifalantes dos quais se ouvia a esperada música pimba e as ruas enfeitadas com fitas de papel multicoloridas. Bem que devíamos ter calculado que era uma altura especial para a aldeia pois quando percorríamos o trilho do outro lado do rio ouvimos a missa alto e bom som.


Resignados, afinal não íamos poupar muitos quilómetros às pernas, descemos as ruas da aldeia que se transformaram num caminho de terra batida. Mas o caminho fazia-se bem e acabámos por chegar ao miradouro. Daqui tinha-se uma fantástica paisagem da ponte ao fundo rodeada de colinas altas verdejantes (ver imagem em cima). Deleitados, depois da fotografia tirada claro, seguimos caminho, tendo comentado o cheiro a bode que se fazia sentir. Era um cheiro intensificado característico do queijo de cabra. Poucos minutos passaram quando descobrimos a razão do cheiro: um bode de cornos enormes a mascar erva na berma da estrada.
- Encontro com gado caprino
O meu marido, mais conhecedor da vida rural, disse logo que se passássemos do outro lado da estrada não ia haver problema nenhum. Eu não estava muito confiante. O meu marido passou, mas quando o fez o bode fez uma espécie de uma marrada, pondo a cabeça a jeito de forma a dar a marrada com a ponta bicuda dos cornos. O meu marido passou, agora quase a fugir, e teve que rapidamente se afastar, porque um segundo ataque viria com toda a força como o bufar do bode indicava. E talvez não seja do conhecimento comum, mas quando um bode marca um alvo, ataca-o vezes sem conta. Houve já vários incidentes onde pessoas ficaram seriamente feridas ou que morreram devido a serem alvos de ataques de bodes.
Não sabíamos o que fazer, eu definitivamente não ia tentar passar pelo bode, nem o meu marido no sentido contrário. Ainda me meti pelo meio do mato colina acima e houve certa altura que nem sabia onde estava a meter os pés pois as ervas davam-me pelos ombros. Tudo para de repente me vir de frente com mais cabras e outro bode, este mais pequeno. E daqui não conseguia descer para a estrada principal, apenas por um caminho que ia dar mesmo aonde o bode estava pois este, entretanto tinha começado a avançar pela estrada em direção ao meu marido. Confesso que nesta altura estava em pânico, as minhas mãos tremiam e já estava para me atirar para a estrada. O meu marido é que me chamou a razão, de que me ia aleijar se me atirasse pela colina abaixo. O bode continuou pela estrada em direção ao meu marido, que nesta altura estava meio escondido por uma curva. Eu cheguei então à estrada pelo tal estreito trilho, mas estávamos na mesma situação, tínhamos o bode a separar-nos. Quem acabou por resolver a coisa foi o meu marido que arranjou um pau de madeira grande, género cajado, e apareceu com ele a ‘mandar vir’ com o bode, a mandá-lo sair da estrada. Penso que mais do que as ordens e o refilar foi o pau que fez sucesso pois o bode subiu a colina para junto do resto do gado, deixando a estrada livre para eu passar.

Eu agora a escrever isto até me rio, mas na altura acreditem que rir era a última coisa que me passava pela cabeça. E claro que durante o resto do caminho, sempre de pau na mão, não fosse haver mais encontros indesejáveis, passando pela calçada romana, semelhante à calçada portuguesa no Trilho da Preguiça, fomos sempre a falar do que se tinha acabado de passar. E chegámos à ponte da Misarela. Mas não nos esqueçamos que tínhamos de fazer o caminho de volta; e se o bode estivesse outra vez no meio do caminho? Mas soubemos ainda na ponte que não ia estar porque o bode ia guiando as cabras pela colina abaixo e já o víamos da ponte. Ao longe, mas aproximando-se a pouco e pouco.
Foi nos explicado mais tarde que os bodes estão mais violentos em maio quando é a altura da criação do gado caprino (quando as cabras estão saídas em jargão rural), sendo também a razão para o cheiro intenso a bode. Afinal o bode estava só a mostrar que era o macho alfa.
Felizmente no caminho de regresso o bode já estava mais abaixo, longe da estrada, e não houve mais eventos peculiares até chegarmos ao carro.
- Ponte da Misarela e as invasões francesas

A ponte da Misarela foi um dos locais mais pitorescos que visitámos no Gerês. Uma paisagem digna de ser retrata vezes sem conta em fotografias e pinturas – a colina verdejante, a ponte de pedra com 13 metros de altura construída na Idade Média e a poderosa cascata.
A ponte da Misarela foi palco de um dos episódios importantes da história de Portugal. Durante as invasões francesas, o exército francês sitiado no Porto ao saber do risco de um ataque iminente das forças aliadas decidiu abandonar a cidade e fugir para Espanha. E o caminho fazia-se através da Ponte da Misarela. Contudo, as tropas de Napoleão depararam-se não só com a passagem obstruída, mas também com o exército inimigo que contava com cerca de 400 homens. Os franceses na ânsia de atravessarem a ponte avançaram a todo o custo levando a que neste confronto homens fossem atirados para o abismo e mulas e cavalos aterrorizados fossem mutilados, abatidos ou lançados à ravina, quando se recusaram a atravessar a ponte. Depois de várias tentativas frustradas, o exército francês acabou por passar pela ponte e seguir em direção a Montalegre para chegar à fronteira com Espanha. Interessante é que a ordem que tinha sido dada ao exército português era o de destruir a ponte, para impedir a passagem dos franceses, o que foi recusado pelos homens do exército naturais daquela região. Concordaram sim em levantar barreiras, construir obstáculos de grandes dimensões para impedir a passagem, mas não destruí-la. Se não fossem esses portugueses hoje não haveria ponte da Misarela.
- Lenda da Ponte da Misarela
Reza a lenda que a ponte foi construída pelo diabo e por isso a ponte também é conhecida por ponte do diabo. Eu por esta altura não sei se foi ou não, mas se foi aquele bode de cornos enormes foi certamente nomeado como guardião da ponte.
Assim é a lenda:
Um fugitivo deparou-se com uma zona intransponível do rio quando fugia das autoridades. Encurralado, evocou o diabo para o ajudar a atravessar aquela zona, oferecendo-lhe em troca a sua alma. O diabo rapidamente aceitou o pacto e fez aparecer do nada uma ponte de pedra para o fugitivo atravessar. Depois de passar para o outro lado do rio, o fugitivo ouviu um estrondo e quando olhou para trás viu a ponte a ruir para assim os seus perseguidores não o conseguirem apanhar.
Mais tarde, o homem arrependeu-se de ter oferecido a sua alma ao diabo e procurou um padre que o pudesse ajudar. O padre voltou ao local onde o fugitivo tinha passado e tal como este evocou o diabo e ofereceu-lhe a sua alma. O diabo aceitou e fez aparecer de novo a ponte. Nesse momento o padre tirou do bolso uma garrafinha com água benta com a qual benzeu a ponte enquanto recitava a reza dos exorcismos. O diabo fugiu espavorido deixando intacta a ponte, a ponte da Misarela.