Carnaval, a celebração
Para o nosso segundo dia a explorar Veneza estava marcado um evento muito especial relacionado com o Carnaval. Mas primeiro vamos ao porquê de o Carnaval calhar sempre em datas diferentes. O porquê de a data mudar todos os anos. Porque o Carnaval ou melhor a sua origem está relacionada com a Páscoa e com ela a Quaresma, e por isso o dia de Carnaval, a terça-feira gorda, muda de acordo com a data da Páscoa, exatamente 47 dias antes da Páscoa. A data da Páscoa também muda não é verdade? Isto porque a Páscoa é dependente da lua – a Páscoa calha sempre no primeiro domingo depois do equinócio que dá início à Primavera.
O Carnaval sendo um símbolo de liberdade, de festa e celebração faz sentido que aconteça mesmo antes de se dar início à Quaresma, período com as suas muitas restrições que incluem o não comer carne à sexta-feira. Lembro-me bem desta regra visto que isto era seguido em casa dos meus pais e por isso bastante presente na minha infância.
O Carnaval em Veneza não acontece em apenas um dia, mas em 10. Começa 10 dias antes da terça-feira gorda. Em 2024 o período carnavalesco decorreu entre o 3 e o 13 de fevereiro. Durante estes dias há vários eventos diários como competições de máscaras, procissões, teatros de ruas, enfim um leque diverso de celebrações por toda a cidade de Veneza.


Claro que esta época é bastante procurada pelos turistas e como tal bastante mais cara principalmente quando falamos em acomodação. No entanto depois de uma pesquisa descobrimos que o cortejo aquático que abre o Carnaval acontece no fim-de-semana (Domingo) anterior ao início do período oficial. Mas atenção que as celebrações só decorrem no fim-de-semana, durante a semana volta tudo à normalidade até ao começo dos 10 dias de Carnaval. Como os preços eram bastante mais acessíveis neste fim-de-semana acabámos por escolher visitar Veneza de 27 a 28 de janeiro.
Se quiserem visitar Veneza no Carnaval do próximo ano, deixo-vos este website que nos ajudou imenso a organizar a nossa viagem: https://www.visit-venice-italy.com/carnival-venice-italy-programme.html


E eis que o Carnaval começa
O cortejo normalmente começa às 11 da manhã e parte de Punta della Dogana subindo o Canal Grande até à Ponte Rialto, onde a Pantegana acontece – o momento especial em que o rato enorme feito em papel se abre libertando um imenso número de balões coloridos pelo ar.
Não é difícil de adivinhar que a zona ao pé da ponte Rialto fica a abarrotar de pessoas para assistir ao espetáculo e por isso ou terão de vir umas horas mais cedo para estarem mesmo ao pé da ponte ou então têm de desbravar a multidão para encontrarem um cantinho onde consigam ver o desfile.
Neste nosso dia como o desfile começava às 11, depois do pequeno-almoço fomos passear pela cidade. Finalmente se via céu azul depois de dois dias de nevoeiro. Fomos até à ponte Rialto só para ver o que se passava por lá e claro que encontrámos um mar de gente mesmo aquela hora. Mas aproveitámos para ver a ponte. A ponte Rialto é a ponte mais famosa de Veneza tendo sido construída entre 1588 e 1591. A ponte Rialto é conhecida pela sua arquitectura e localização central no Canal Grande, o canal que atravessa a cidade. Como ainda era cedo e não quisemos estar à espera do cortejo que só chegaria aqui por volta das 11:20 fomos passear pela Piazza San Marco, que com sol, ganhou um outro brilho.


Fomos ainda até à zona da cidade onde ia começar o cortejo, apenas para espreitar, mas rapidamente chegava a hora de irmos para a ponte Rialto. Afinal nós também queríamos ver a Pantegana. Lá conseguimos um cantinho mais abaixo no canal ainda com vista para a ponte apesar das muitas estacas de madeira que nos tiraram a maior parte da vista. Mas conseguimos ver o cortejo e o grande diálogo daquele que fazia de Marco Polo, o grande navegador italiano. Também conseguimos ver os balões, apesar de terem sido bem menos do que esperava. Mas realmente o Carnaval segue as mesmas normas em todo o lado, apesar de todo o lado místico em Veneza, há também muita palhaçada e isso reflectiu-se neste cortejo (não é de forma alguma uma crítica, apenas uma contestação).
Museo Correr
Quando o cortejo acabou voltámos para a piazza San Marco para visitar o Museo Correr. Não nos tínhamos dado conta no dia anterior, mas o bilhete para entrar no Palazzo Ducale também dava acesso a este museu. No bilhete dizia que era válido para o dia da compra mas perguntámos à entrada e disseram-nos que podíamos entrar uma vez que o bilhete tinha sido comprado nas últimas 24 horas.


O Museu Correr é o museu da cidade, também conhecido como o museu cívico de Veneza, onde é contada a história da cidade desde a sua fundação até se tornar parte de Itália no século XIX. Ligado a este museu encontram-se o museu arqueológico e a biblioteca Marciana, também estes disponíveis para visita.
Tramezzini & Frittelle


Saímos do museu eram quase duas da tarde e foi quando começámos a explorar as bonitas e pitorescas paisagens do distrito de Dorsoduro. Fomos descendo em direcção à Ponte dell’ Accademia para aproveitar o bom tempo e assim puder apreciar a paisagem. Enquanto íamos andando decidimos comer qualquer coisa. Começámos pelo Bar alla Toletta para provarmos os Tramezzini; escolhemos quatro com recheios diferentes e claro está acompanhados por um aperol spritz. Os valores deste cocktail são bem mais elevados em Veneza do que os que encontrámos em Nápoles, que chegavam a custar entre 2 a 2.5 euros, mas a qualidade não tem comparação. Em geral o aperol spritz em Veneza fica entre os 4 e 4.5 euros. Mas repito, o preço compensa. Claro que a seguir entrámos na loja ao lado, Pasticceria Toletta, para mais uma virada de frittelle, os doces de Carnaval dos quais falei no post anterior.


Ponte dell’Accademia & Fondamenta Zattere


Quando saímos da pastelaria fomos em direcção à ponte dell’Accademia, mas o tempo tinha começado a mudar, o céu tinha-se tornado cinzento e não demorou muito a ser acompanhado pelo nevoeiro, este já nosso conhecido. E foi assim que quando finalmente chegámos à ponte, não tivemos a sorte de apreciar toda a paisagem. Mas a cidade é tão bonita que mesmo com nevoeiro a beleza perdura.
Uma das coisas mais famosas para se fazer em Veneza é andar de gôndola. Quando visitámos a cidade um passeio de gôndola custava 80 euros por 30 minutos. Confesso que não vejo muito o interesse, mas sei que o problema sou eu, pois este negócio é concorrido de tal forma que até chegámos a presenciar um engarrafamento de gôndolas. Se gostavam de fazer algo assim mas acham que o preço é ridículo podem apanhar as chamadas gôndolas traghetto que custam 2 euros. Estas gôndolas são serviços públicos mais para ajudar os moradores da cidade que têm de atravessar de uma margem para a outra do canal. Estas gôndolas não fazem viagens longas, apenas conectam as margens opostas já que a pé pode-se demorar mais de meia hora. As traghetto são uma boa opção se querem fazer um ‘certo’ nas viagens de gôndola em Veneza.

Um dos locais que estava na nossa lista para ver o pôr do sol era a Fondamenta Zattere Ai Saloni. Mas nunca nos calhou a sorte de conseguirmos ver o sol ao fim do dia. Ainda viemos aqui passear, mas o nevoeiro estava cerrado. No entanto percorremos a rua até ao pico e aproveitámos para visitar a Basilica di Santa Maria della Salute, que para nossa surpresa, era de entrada gratuita. Esta famosa basílica faz parte da paisagem mais conhecida de Veneza. A basílica foi construída como celebração e agradecimento à Virgem Maria pelo fim da peste no século XVII. A primeira pedra foi colocada a 1 de abril de 1631 e 50 anos depois foi solenemente consagrada pelo patriarca. A dupla cúpula da basílica é a sua particularidade arquitectónica mais conhecida onde no topo da maior encontra-se a estátua da Virgem Santa Maria com o bastão de capitana do mar.


Ospedale Ss. Giovanni e Paolo
Como o nevoeiro por esta altura não nos deixava ver grande coisa acabámos por ir jantar bastante cedo. Fomos primeiro ao hotel, o que nos levou mais de 40 minutos, já que fomos a passo de turista. Ainda entrámos num hospital, sim eu sei que parece estranho, mas à entrada do Hospital Civil Ss. Giovanni e Paolo encontram-se bonitas colunas de mármore apoiando um tecto de madeira. Estes são os restos da Scuola Grande di San Marco que ali existia antes de se tomar um hospital em 1815. A Scuola Grande di San Marco fazia de sede para várias instituições de caridade e religião que durante o século XIII tiveram um papel fundamental na história e desenvolvimento da música.
Pizzeria da Zorma


Para jantar não quisemos ir a nenhum restaurante propriamente dito, mas sim experimentar uma pizzeria que ficava ao pé do nosso hotel e que estava muito bem avaliada. A ideia era depois de comermos fazer uma espécie de rally tascas na zona de Cannaregio mas focada em aperol e campari spritz. A pizzeria só faz serviço de takeaway, mas tal como no Fried Land encontrámos um balcão com uns bancos que serviram de mesa. O nome deste local é Pizzeria da Zorma e está avaliado em 4.8 no Google. As pizzas são feitas na hora, mas não em forno de carvão pois esses são proibidos em Veneza. Mas os preços são realmente atrativos. Tal como as pizzas deliciosas. Escolhemos duas pizzas diferentes para dividirmos e depois de alguma indecisão pedimos a carbonara e a giulia. No entanto, ficou-se com alguma curiosidade em relação à pizza tedesca com salsicha e batata frita. Pode parecer estranho, mas a tedesca e a carbonara foram as pizzas que tiveram mais saída enquanto aqui estivemos. Claro que a maior parte dos clientes estavam a usar o serviço de takeaway estando sempre a entrar e a sair pessoas. Ao contrário do que se possa pensar Veneza não é o local aclamado pelas melhores pizzas, mas estas foram uma ótima surpresa. O preço de uma pizza de tamanho normal fica entre os 5 e os 8 euros.
Aperol & Campari Spritz em Cannaregio
Para começarmos a noite fomos primeiro à Birreria Zanon já que as reviews eram bastante boas em relação tanto à bebida como à comida. Mas ficámos bastante desanimados, foi um dos piores aperol spritz que já bebi. E nem era por ter pouco álcool, estou-me mesmo a referir à fraca qualidade da bebida.


Em seguida voltámos ao bar da primeira noite, Bacaro Pub da Aldo, para mais um aperol mas este sim com muito mais qualidade. Mas não nos ficámos por aqui. Na verdade, nesta rua existem imensos bares, alguns deles sempre cheíssimos tal como um bar de vinhos e um café com um conceito giro que junta livraria e bistro. Foi no terceiro bar que acabámos por ficar onde a música e o ambiente nos agarraram. O bar chamava-se Bacaro ae Bricoe. Aqui também se vende as famosas cicchetti, como aliás na maior parte dos bares. Aperol spritz e campari spritz à sua vez foram chegando à nossa mesa. Boa música, boa conversa, boa bebida. O que mais se quer na última noite numa das cidades mais bonitas não só de Itália, mas do mundo?


E foi num manto de nevoeiro que voltámos para o nosso hotel para uma última noite em Veneza. Uma vez na vida, uma memória para sempre.