Ilha da Madeira

A ilha da Madeira: a nossa grande viagem de 2023. Todos os anos há sempre uma viagem que é considerada a grande viagem, não por significar mais que as outras, mas por ser a mais longa e normalmente a menos comum. Este ano escolhemos a Madeira. Em 2022 foi o Alasca, em 2021 a road trip pela Irlanda, em 2020 os Açores e 2019 a Noruega e assim por aí fora até 2017 quando a nossa primeira viagem à séria levou-nos à Islândia. Todas estas viagens estão neste blog e podem clicar nos nomes dos diferentes países que vos levarão à respectiva viagem. Mas estou a divagar – 2023 – a Ilha da Madeira.

Dia de tempestade na Madeira – Mesmo assim lindíssima

A Ilha da Madeira é um destino bastante conhecido, acredito que muitos já a tenham visitado e que tenham feito e visitado, durante a vossa viagem, coisas diferentes que nós – talvez melhores ou piores – porque há pelo menos trilhos suficientes para passar na ilha uns belos meses. Nós tivemos uma semana. E fica já aqui a informação que vamos de certeza voltar à Madeira para visitar a cidade do Funchal que infelizmente acabámos por não ter tempo para explorar como deve ser como por exemplo o jardim botânico. Um fim-de-semana destes pego no marido e lá vamos nós!

Do que vi da Madeira, posso dizer com toda a franqueza que é um sítio único. É uma ilha lindíssima para visitar onde merece que se desfrute ao máximo da imensa e bonita natureza, mas também um local que se pode facilmente tornar uma dor de cabeça. Agora para quem – perguntarão vocês. Eu sei que não perguntaram, mas eu vou dizer na mesma.

  • Para quem tem medo de voar
  • Para quem tem medo de alturas
  • Para quem sofre de claustrofobia (guilty!)
  • Para quem não gosta de andar
  • Para quem enjoa no carro (ou até para quem não enjoa)
  • Para quem tem medo de tempestades

Acho que pelo menos apanhei os principais grupos de pessoas cuja ansiedade vai facilmente subir acima dos níveis aceitáveis. Eu vou explicando aos poucos o porquê.

Quais foram os preparativos para a viagem? – ainda antes de sabermos bem ao que íamos. Vocês também são daqueles que pensam que uma semana dá para ver tudo e depois quando fazem o itinerário percebem que precisavam de pelo menos o dobro do tempo? A nós acontece-nos imenso. Mas foi uma semana e só uma semana. Primeiro de tudo foi preciso marcar voos, acomodação e carro. Porque se quiserem visitar a ilha é aconselhado alugar um carro. Podem sempre tentar fazer através de excursões ou transportes públicos, mas há certos lugares que são mais escondidos ou não param nos locais que querem visitar. Com o carro ficam com mais liberdade. E também mais abertos à aventura.


Voos

De Inglaterra há voos directos para o Funchal a partir do aeroporto de Stansted com uma duração aproximada de quase 4 horas. 6 horas se o serviço estiver a trabalhar como o normal ou seja, pelo menos uma hora de atraso. De Portugal há voos directos desde Lisboa e Porto. De Faro não há voos directos. De Portugal os voos demoram cerca de 2 horas.

Para verem voos usem: https://www.skyscanner.net/

E chegou a hora de irmos ao nosso primeiro grupo mencionado acima – pessoas que têm medo de voar.

O aeroporto da Madeira, agora também conhecido como o aeroporto internacional Cristiano Ronaldo é considerado meio que perigoso no que diz respeito à aterragem. A pista foi alargada em 2000, mas ainda assim a aterragem pode ser dramática. Primeiro – de um lado uma grande encosta do outro o oceano Atlântico que pode adicionar turbulência à aterragem uma vez que as rajadas de vento podem ser fortes e principalmente imprevisíveis. A pista foi alargada ou melhor alongada uma vez que não havia condições para uma aterragem completamente segura. No entanto, a pista foi construída sobre o mar. Apenas este pensamento pode provocar calafrios aos mais susceptíveis de viajar pelo ar. Nada como uma aterragem com o avião de lado para dar início a umas férias únicas.

Em várias ocasiões os voos são cancelados, desviados ou atrasados devido a ventos fortes, tempestades (o que aconteceu connosco, mas a experiência aterradora fica para o final da viagem). No entanto, quando chegámos já de noite e a chover, a aterragem foi suave e quase banal. Às 11 horas da noite o aeroporto estava quase vazio e como já era tarde fomos de Uber para o hotel. No entanto, existem durante o dia várias camionetas que ligam o aeroporto às várias partes da ilha.

Dia em que o aeroporto da Madeira fechou devido ao mau tempo

Hotel

Aqui acho que fizemos mal. Não porque o hotel era mau, nada disso. Mas escolhemos ficar toda a viagem no mesmo hotel e digamos que a ilha ainda é grande o suficiente para fazer sentido ficar em vários sítios durante a viagem, especialmente quando essa viagem inclui fazer a volta à ilha. Sinto que perdemos muito tempo apenas a conduzir porque estávamos numa ponta da ilha e tínhamos de voltar para a outra para regressar ao hotel. De qualquer das formas, o hotel onde ficámos foi uma boa escolha – Santa Cruz Village Hotel. Decidimos não ficar no Funchal para nos ser mais fácil ir buscar e deixar o carro no aeroporto. O Santa Cruz Village Hotel é um hotel de 4 estrelas com piscina, estacionamento e pequeno-almoço incluído. O quarto que nos calhou era grande, havia algum barulho, mas não o suficiente para ser desconfortável e em geral confortável para o que esperávamos.

O pequeno-almoço era muito bom – continental com diferentes tipos de pães, queijos, charcutaria variada e frutas. Mas também se podia escolher na hora omeletes, ovos cozidos, salsichas, panquecas, etc. Sei que a senhora que fazia estes pedidos era fantástica porque estava sozinha a realizar em tempo útil todos os pedidos de todos os hóspedes. Eu fiquei completamente fã das suas omeletes de queijo e cogumelos. O que posso apontar como negativo foi o estacionamento porque não havia espaços suficientes, muitas vezes chegámos e era difícil estacionar o carro ou sair com o carro de manhã. Houve até uma ocasião que não havia espaço e também não havia ninguém na recepção por mais de meia hora. Mas isto foi uma pequena coisa que não diminui a nossa experiência neste hotel. A localização era perfeita e adorámos Santa Cruz.


Aluguer de carro

Santa Cruz fica a cerca de 5 minutos de carro do aeroporto. Pedimos um táxi que nos ficou a cerca de 12 euros, mas temos que ver que 5 e tal euros já estavam marcados mal entrámos no táxi.

Alugámos o carro com a empresa Insularcar. Talvez não seja a empresa mais conhecida e eles até nem balcão têm no aeroporto. Tivemos que marcar hora para ir buscar o carro para o senhor estar lá para nos receber e o mesmo aconteceu quando entregámos o carro. No entanto, os senhores que nos receberam, tanto de uma vez como da outra foram super simpáticos, sem problemas, sem pagamentos inesperados. Tenham atenção porque algumas empresas pedem depósitos de quantias absurdas. Pedimos claro está um carrito dos mais baratos e foi um Renault Clio que nos calhou. Mas como disse sem problemas.

2 túneis em menos de 30 segundos!

De manhã, de carro na mão e de pequeno-almoço tomado a Madeira abria-nos as suas portas. E apesar de a previsão do tempo ser chuva para toda a semana, o céu apresentava-se azul com umas nuvens à distância. O decorrer completo do primeiro dia será para outro post, mas deixo-vos com outro grupo de pessoas que podem ter alguma dificuldade na Madeira – pessoas que enjoam no carro. E até mesmo para aquelas que por normal não enjoam. Mas atenção que neste momento a Madeira está muito melhor em relação a isto. Em vez de haver apenas estraditas pelo meio das vilas e cidades agora há uma rede de túneis que percorre o interior das montanhas. Contem passar quase tanto tempo dentro de túneis como no exterior quando percorrem as vias rápidas.

As condições das vias rápidas são óptimas e rapidamente se chega a qualquer lado. Ou melhor dizendo a qualquer lado que fique na costa, já que as vias rápidas dão a volta à ilha junto à costa. Agora quando falamos em atravessar a ilha pelo seu interior ou querer chegar a um lugar que não seja junto à costa, respirem fundo. São curvas e contracurvas seguidas imediatamente por curvas e contracurvas. Na Madeira foi a minha primeira vez. A primeira vez que enjoei num carro. Olhei só para um exemplo destes pequenos troços de caminho. É que nem dá para ir rápido porque as curvas são tipo 90º. São múltiplos de 180º em curvas durante 30 minutos. O meu conselho é que pratiquem rally antes de virem ou então não se safam. E claro que com isto adicionem mais 1 hora ou assim a qualquer percurso que queiram fazer durante o dia em que tenham de andar às voltas. Vejam só aquelas linhas amarelas a dar nós de pescador.

Mas não se enganem – a Madeira deixou-nos muitas memórias boas, as que apenas uma viagem maravilhosa nos pode dar.


1º Dia – Parte Nordeste da ilha

O nosso primeiro dia na Madeira, depois de um bom pequeno-almoço tomado no hotel Santa Cruz Village e de termos o nosso carro que fomos buscar ao aeroporto, começava imediatamente. Durante esta nossa semana na Madeira queríamos visitar a ilha toda e por hoje concentraríamo-nos na parte mais a Nordeste. Começámos na Ponta de São Lourenço, pois não há viagem à Madeira que não incluía este local. A maior parte do caminho até à Ponta de São Lourenço é feito pela via rápida – VR1 – e se partirem do Funchal fica a cerca de 40 minutos de caminho. Nós estando já no aeroporto estávamos mais perto.

Estacionamento há pouco ou melhor há pouco estacionamento nas áreas designadas para tal, depois podem seguir o exemplo de todos os outros que tal como nós estacionaram à beira da estrada. E assim começámos o nosso primeiro trilho PR8 – Vereda da Ponta de São Lourenço. São 3 Km para cada lado, 6 Km no total. Este é um trilho com paisagens fantástica do mar e rocha. O trilho é relativamente fácil, apesar de ter subidas e descidas, e ser oficialmente considerado com ‘Moderado’ em termos de dificuldade. A Ponta de São Lourenço é considerado como Reserva Natural da Madeira e alberga uma flora rara e fauna diversificada.

Na Madeira, sempre que forem andar por trilhos ou visitar locais no meio da natureza levem sapatos e roupa confortáveis e falo mesmo de calções, calças de fato-de-treino, uma t-shirt e ténis. E talvez um casado leve, mas impermeável – o tempo pode mudar rapidamente e também pode cair água em várias partes do percurso. Levem sempre uma mochila com vocês com água (indispensável), snacks, protetor solar (mesmo no Inverno) e fato-de-banho/biquíni/calções porque há em cada esquina oportunidades para um mergulho. Estas 4 coisas são muito importantes dando mais ênfase à água porque durante o caminho raramente há a possibilidade de arranjar água que não seja a que levaram com vocês. Nós comprámos 2 garrafas de litro e meio no supermercado e andávamos sempre a enchê-las quanto tínhamos oportunidade.

Com este aparte digo-vos para se deslumbrarem com a visita à Ponta de São Lourenço onde muito mais pessoas estão a fazer o mesmo percurso que vocês. Durante o caminho até encontrámos um guia turístico com quem estivemos à conversa e que nos foi dando umas dicas sobre o que não perder para os nossos próximos dias na ilha. Depois de voltarmos para o carro, com um calor arrasador, pusemos o nosso GPS em funcionamento e seguimos para o Miradouro da Portela. A imagem abaixo mostra a belíssima paisagem sobre a cidade de Porto da Cruz, o mar e a natureza circundante.

E com esta paragem rápida fomos ao próximo miradouro – o Miradouro do Guindaste. Para mim este foi um dos miradouros que ficou mais marcado na memória, principalmente as secções do miradouro com chão de vidro de onde se podia olhar para o mar e rocha que ficava mesmo debaixo dos nossos pés. Mesmo sabendo que não vamos cair, fica aquele friozinho no estômago quando damos o primeiro passo. Para quem tem medo de alturas, como o caso do meu companheiro de viagem, ainda é mais difícil dar o primeiro passo. Foi talvez aqui a primeira vez que comentámos o azul do mar na ilha da Madeira, um azul turquesa intenso com águas tão límpidas que parece quase artificial.

Já em Santana o que vínhamos visitar é um dos locais mais conhecidos da Madeira – As Casas Típicas de Santana. Aquelas casas coloridas de telhado em bico são imagens muito usadas em livros, postais, etc., usadas como ícones identificativos da Madeira. Estas casas típicas fazem parte do património da Madeira, com um papel cultural como histórico muito importante para a ilha. A maior parte dos visitantes vão as Núcleo das Casas Típicas onde numa delas se vendem produtos típicos da região.

Estas casas são tipicamente feitas de madeira, um material barato e abundante na região e de colmo, este proveniente das plantações de cereais como trigo e centeio, usada para o telhado. A madeira era usada para manter a temperatura do interior das casas, enquanto o formato inclinado dos telhados permitia uma drenagem eficiente das águas da chuva, ou seja, tinha um feito de impermeabilidade. Estas casas normalmente eram divididas em dois andares, o de cima usado como sótão para o armazenamento de produtos agrícolas e o piso térreo usado como habitação.

Não havendo muito parque disponível junto às casas, estacionámos o carro numa das ruas transversais em Santana e depois fomos a pé, aproveitando também para esticar as pernas e ver um bocadinho da cidade. Nós antes ainda tínhamos ido ao supermercado Continente para umas compras de última hora e há uma destas casinhas típicas mesmo no jardim em frente do supermercado. Fica aqui a dica se quiserem tirar uma fotografias num ambiente com menos densidade populacional à volta.

Sendo isto 3 horas da tarde ainda tínhamos tempo para as nossas primeiras levadas. Eu já explico o que são levadas. Menciono apenas que pelo caminho e aqui à volta de Santana existem imensos miradouros, todos eles com vistas espetaculares, mas o que vocês vão descobrir é que toda a ilha da Madeira é um constante miradouro. Como acabam por andar sempre a subir e a descer montanhas podem parar o carro onde vos bem entender, tendo em conta que não é proibido parar naquele sítio, e conseguem ter uma vista tremenda à vossa frente.

Agora as levadas…o que são?

A maneira mais fácil de explicar é a seguinte: um canal de transporte de água que segue junto a um percurso pedestre. E esta á a definição mais fácil de perceber. As levadas foram construídas a partir do século XV devido à necessidade de transporte de grandes quantidades de águas desde as zonas onde a água da chuva e fontes naturais eram mais abundantes (zona Norte da ilha) para onde a água era mais escassa (zona Sul). A água era assim ‘levada’ para zonas de plantação e poços. As levadas e os seus trilhos são atualmente pontos muito procurados para passear e entrar em contacto direto com a natureza. Lembram-se quando no post anterior disse que a Madeira pode criar alguma ansiedade a pessoas que têm medo de alturas e a pessoas que têm medo de sítios fechados? É porque é bastante comum que em certas partes dos trilhos o caminho se torne muito estreito e onde um dos lados do caminho desça a pique. Para além disso, alguns destes trilhos passam por dentro de túneis, sendo necessário o uso de lanternas. E atenção, há túneis onde espaço não é assim muito vasto.

Mas quem adora adrenalina – fantástico. Para pessoas com medo de alturas – traumatizante. E não pensem que não é sem razão, já que existem vários acidentes e mortes em algumas destas levadas TODOS OS ANOS. A levada que fizemos no dia de hoje era uma das mais fáceis, o caminho era a direito e bastante fácil de percorrer, mas a que fizemos no dia a seguir é uma daquelas onde mais pessoas escorregaram para a morte. Mas disto falarei mais quando chegar a altura. O que conselho que dou é simples – vão, mas vão com cuidado e respeito pela natureza.

Voltando ao nosso itinerário específico para o de hoje – estacionámos à frente do restaurante Ribeiro Frio no Parque Natural de Ribeiro Frio que fica em – não adivinham – Ribeiro Frio. Antes de seguirmos viagem fomos à nossa primeira poncha da viagem – sim houve várias! A poncha, se não souberem, é uma das bebidas mais conhecidas da Madeira feita com aguardante de cana-de-açúcar, açúcar ou mel e limão ou laranja ou ambas. Mas há algumas variações – a poncha do Pescador por exemplo é a poncha com limão, a poncha regional é normalmente com laranja, a poncha de maracujá é como o nome indica com maracujá e a poncha de tangerina. Estas são as mais tradicionais, mas há locais que vão mais longe e já fogem à tradição como a poncha de frutos vermelhos e de morangos. Não se enganem no entanto – a poncha é bastante forte e bastou-nos uma para irmos mais quente mas o PR 11 Vereda dos Balcões.

Como disse acima este trilho é de nível fácil com uma distância de 1,5Km para cada lado (3 Km no total). O trilho culmina no Miradouro dos Balcões com uma vista magnífica. Este miradouro é um ótimo local para observação de aves, e há vários passaritos bastantes amigáveis, especialmente se tiverem comida à mão. Imagino que quem seja entendido no assunto esta neste momento a ranger os dentes com o termo ‘passaritos’- vá o bis-bis, mas também há o papinho e o melro-preto e o pombo-trocaz.

Chegava a altura de voltar para o hotel e encontrarmos um sítio para jantar. Para primeiro dia queríamos uma coisa local e foi por isso que fomos jantar à Taberna do Petisco. Foi aqui que comemos o nosso primeiro bolo do caco – sim também houve muitos desses durante a nossa estadia na Madeira e apesar de alguém me ter dito que era pão de alho e que não sabia o que tinha de especial (eye roll), eu fiquei logo ali completamente perdida de amores por este pão. Tal como o nome indica, este restaurante é mais de petiscos e escolhemos o prato de polvo e de camarão. Ambos muito bons, mas talvez tenha gostado mais do de camarão.

Outra descoberta foi a cerveja/cidra tradicional da Madeira da marca Coral. E provavelmente verão muitas fotografias destas bebidas no curso destes posts sobre a Madeira. Posso-vos já dizer que se come muito bem na Madeira.

Para ajudar com a digestão fomos dar uma volta pela costa, junto ao mar, e acabámos a noite num café de família na praça de Santa Cruz, o Prego.

Um primeiro dia cheio de promessas desta ilha que seria a nossa casa por uma semana inesquecível.


2º Dia – Da levada das 25 fontes às piscinas naturais do Seixal

Para quem quer fazer um itinerário seguido pela Madeira, por exemplo Este – Norte – Oeste – Sul vai ficar um bocado confuso com o nosso. Porque acabou por não ser nada assim. E por duas razões – havia aviso de tempestade para a metade do penúltimo dia e para o último dia da nossa estadia. Portanto o que queríamos visitar que envolvesse caminhar ao ar livre tinha de ser feito antes da chegada da tempestade. A segunda razão foi o facto de termos ficado no mesmo hotel durante toda a nossa estadia. Se por um lado como disse logo de início achei que perdemos tempo a viajar para as diversas pontas da ilha, por outro lado deu-nos liberdade para escolhermos o nosso destino e alterarmos planos com o conviesse.

Uma paragem ao calhas e tem-se esta paisagem – Madeira, um miradouro constante

O nosso destino para hoje era uma das levadas mais escolhidas pelos turistas, pelos melhores motivos – a Levada das 25 fontes. Quando estivemos na Ponta de São Lourenço à conversa com o guia turístico ele, aconselhou-nos a deixar o carro no parque de estacionamento ao pé do túnel e fazer o percurso que inclui em parte de o trajeto passar por dentro de um túnel, uma vez que assim o caminho seria sempre a direito. Isto seria bem melhor em vez de deixar o carro onde todos deixam e depois andar por uma grande descida até ao trilho da levada e depois uma grande subida o que faz perder muito tempo. Pois fomos tão espertos que inicialmente tínhamos no GPS para o parque de estacionamento certo. Conclusão: mudámos o trajeto e fomos deixar o carro exatamente onde o senhor tinha dito para não o fazer. E sim, a descida é como o outro, agora subir aquilo tudo foi uma estafa. Então assim o que digo é deixem o carro no parque de estacionamento com a morada do Google Maps: ER211, 9370, Portugal e não no QV39+28, Calheta, Portugal. É um favor muito grande que vos estou a fazer. No entanto, se forem como nós e se enganaram também há a opção de pagar bilhetes para as carrinhas que fazem essa parte da travessia (subida/descida).

Levada das 25 fontes: vale a pena fazer este percurso?

Sabem que vou dizer que sim. Aliás este dia foi um dos melhores da viagem. No entanto, para o meu marido que tem medo de alturas foi bastante marcante e não pelas melhores razões. O trilho chama-se PR6 – Levada das 25 fontes e contem com cerca de 3-4 horas para completarem o percurso nos dois sentidos. Para cada lado são 4.3Km e a dificuldade é ‘moderada’. Eu adorei fazer o percurso que vos leva por dentro da floresta até o culminar da lagoa e da cascata das 25 fontes. Há alguns sítios para paisagens panorâmicas brutais da floresta Laurissilva. E não pensem que ter a oportunidade de entrar dentro desta floresta não é especial. A floresta Laurissilva é a floresta húmida subtropical da Madeira com cerca de 20 milhões de anos e que tal como um fóssil vivo, preserva as características de tempos tão remotos como por exemplo as árvores da família das Lauráceas. Esta floresta foi em 1999 considerado como Património da Humanidade pela UNESCO. A floresta Laurissilva ocupa cerca de 15 mil hectares, principalmente na parte Norte da ilha.

Devido à beleza indiscritível deste percurso este é um dos mais procurados por caminhantes. E talvez por isso também é palco de vários acidentes. Em algumas zonas o caminho torna-se bastante estreito, por vezes só dá para uma pessoa passar, e se não se tiver cuidado é possível escorregar para o penhasco numa descida mortal de mais de 50 metros. Se fizerem uma pesquisa rápida conseguem encontrar vários artigos sobre pessoas que escorregaram. Não é de forma alguma para desencorajar, apenas para respeitar a natureza. Principalmente a natureza numa forma tão crua como a desta floresta.

Depois desta grande aventura o resto do dia foi mais passear de carro. Fomos até ao Miradouro da Garganta Funda. Do estacionamento (ou melhor, meio da estrada) até ao Miradouro foram mais ou menos 15 minutos a andar. Este miradouro dá-vos uma paisagem que junta montanha, mar e uma cascata com 140 metros de altura.

Em seguida mais um miradouro com uma imensa vista para a costa, a Ponta do Tristão. Um outro ponto muito procurado (e com razão) são as piscinas naturais da Madeira. O local mais conhecido são as piscinas naturais de Porto Moniz. A entrada são 3 euros por cabeça para adultos e para crianças acima dos 3 anos. A entrada é gratuita para crianças com menos de 3 anos e metade do preço para estudantes ou adultos com mais de 65 anos.

Nós, no entanto, fomos para as piscinas naturais do Seixal. São gratuitas, menos conhecidas e por isso menos pessoas e ainda assim espetaculares. Adorámos nadar debaixo do arco de formação rochosa. O único cuidado é a entrar dentro da água – o chão é muito escorregadio. Todos os que entraram para a água enquanto lá estivemos (incluindo nós) fizeram um tipo de dança com o corpo e braços no ar e houve mesmo quem caísse de cu. Em seguida a paragem foi no Miradouro do Véu da Noiva. Deste miradouro vê-se uma elegante cascata.

E chegava a hora de jantar – ou melhor algo entre um almoço muito tardio e um jantar talvez cedo para a maioria. A 5 minutos de distância do Miradouro do Véu da Noiva em São Vicente fica o restaurante Caravela. Por sinal também é em São Vicente que se encontram as famosas grutas de São Vicente, mas encontram-se encerradas temporariamente. Ainda não sabíamos, mas foi neste restaurante foi onde tivemos a melhor refeição de toda a viagem.Começámos com um bolo do caco com manteiga e ervas e lapas grelhadas. Para acompanhar nada como uma brisa de maracujá, o sumo tradicional da ilha. Ambos tínhamos tido uma má experiência quando comemos lapas pela primeira vez nas ilha das Flores, nos Açores, e por isso estávamos reticentes. Mas sem medos. Neste restaurante passei a adorar este petisco. Também diria que foi aqui o nosso melhor bolo de caco.

Para prato principal escolhemos picadinho – e uma dose dá MUITO bem para duas pessoas. E ambas têm de comer bem para atacar aquela travessa. O picadinho é tradicionalmente com carne de vaca, mas também pode ser de frango, temperada com alhos e louro. Existem várias receitas e nós até voltámos a comer o picadinho noutro local e os sabores eram bastante diferentes. Este ganhou. Para acabar bem a refeição foi um semifrio de maracujá. Escolhemos sempre esta sobremesa nos restaurantes que fomos nos dias seguintes, mas este, deste restaurante, foi o melhor. Não tenho de voltar a dizer – adorámos este restaurante e saímos com grandes sorrisos…e barrigas cheias.

Em direção ao nosso hotel íamos passar por um local muito sugerido – a Taberna da Poncha. Fica numa rua a descer e estava cheíssimo. A poncha deste local, sim foi a melhor de toda a viagem, mas a grande descoberta foi a nikita. Uma bebida menos conhecida que a poncha, mas também ela tradicional da Madeira. Parece ser uma mistura estranha já que a nikita é feita essencialmente com cerveja (Coral) e gelado de ananás. Completamente perdida por esta bebida. E nós bebemos a nikita em vários locais, mas a melhor foi a da Taberna da Poncha. Neste momento podia voar até à Madeira e ir às praias do Seixal, jantar no restaurante Caravela e passar o serão na Taberna da Poncha a beber nikitas e seria uma pessoa realizada.

Como ainda tínhamos de conduzir até ao hotel não podemos apreciar muito da nikita ou da poncha. Voltámos para Santa Cruz, estacionámos o carro no hotel e fomos passar um bocado do serão ao restaurante Pizza Café com uma esplanada mesmo junto à costa. Já mais à noite acabámos o dia no restaurante snack bar, o Prego. Mais umas rodadas de Coral.

Mais uma paisagem enquanto se conduz pela Madeira

E o que tenho a dizer da Madeira depois deste dia? Que venha mais um…


3º Dia – Pico do Areeiro & Pico Ruivo

Paisagem durante o percuro PR1.2

Quando se fala em levadas na Madeira há uma que tem foco principal, por ser mais longa, a mais desafiadora e como tal a mais procurada. PR1 – Vereda do Areeiro – 7Km a começar no Pico do Areeiro até ao Pico Ruivo. Um trilho através dos picos mais altos da Madeira. Mas não é para todos e definitivamente não era para nós. Ou melhor, depois da experiência na ilha do Pico, nos Açores, ainda houve bastante discussão se íamos ou não o fazer, mas depois de vermos alguns vídeos foi decidido por unanimidade que não. Em alternativa fizemos a Achada do Teixeira – 6Km, 3Km para cada lado, que começa na Achada do Teixeira e acaba no Pico Ruivo. É um trilho muito mais fácil de fazer e que apanha a última parte do trilho PR1. Este trilho chama-se PR1.2 – Vereda do Pico Ruivo. Não digo que não há esforço envolvido, especialmente na parte final do trilho, mas é bastante mais fácil que o PR1. As paisagens durante o percurso são espetaculares, um trilho acima das nuvens. Fazer ida e volta contem com mais ou menos 2 horas a 2 horas e meia – 3, se quiserem fazer uma paragem na casa montanha transformada em café que fica no local onde se cruzam os dois percursos, PR1 e PR1.2.

A ideia era depois irmos ao ponto de começo – Pico do Areeiro. Assim apesar de não fazermos o percurso, tínhamos visitado os pontos de chegada e partida. Se quiserem fazer o PR1 não se esqueçam que este não é um trilho circular, ou seja, se deixarem o carro numa ponta têm ou que fazer o percurso todo de volta ou apanhar um táxi.Se fizerem o PR1.2 há um parque de estacionamento gratuito, tal como o parque de estacionamento no Pico do Areeiro se fizerem o percurso PR1.

Antes de irmos ao Pico do Areeiro, fomos à levada de nível mais fácil – Um caminho para todos – um percurso de 2Km, que começa no Pico das Pedras até às Queimadas. Nestes percursos há uma coisa interessante – é que a distância destes trilhos não significa o mesmo para cada um deles. 2Km no PR1.2 não tem nada a ver com 2Km no caminho para todos. É uma experiência completamente diferente.

Fizemos o caminho para todos e é um trilho mesmo para todos, para aqueles que têm problemas de mobilidade, para quem leva crianças e bebés, ou para quem as pernas estejam a pedir descanso. No parque florestal das Queimadas encontram-se casas-de-banho, um café, mesas para comer e um viveiro com várias aves. Deste parque florestal parte o trilho PR9- Levada do Caldeirão Verde que dizem ser este um dos trilhos mais bonitos da Madeira. No entanto, depois da experiência nas levadas das 25 fontes, fomos pesquisar e ficámos a saber que o caminho para além de ser mais difícil também inclui mais problemas para quem tem medo de alturas. Foi então retirado do nosso trajeto. O parque de estacionamento aqui é pago, mas na verdade nós sem sabermos tínhamos deixado o carro na outra ponta do caminho para todos e acabámos por não pagar nada por estacionamento.

Parque florestal das Queimadas

Enquanto estivemos no pico do Areeiro havia bastante nevoeiro, mas também estávamos no terceiro ponto mais alto da Madeira, a 1818 metros de altitude – o ponto mais alto é o Pico Ruivo que conta com 1861 metros. Vimos várias pessoas a chegar do PR1 e foi neste momento que confirmámos que tínhamos decidido pelo melhor. A dor na cara das pessoas era bastante visível. Até vimos um rapaz que chegou e já via com as pernas à banda – sabem quando se andou tanto que já nem se consegue bem por uma perna à frente da outra? Quando chegou ao pé da família que esperava por ele, ele apenas fechou os olhos. Eu olhei para o meu marido e ambos sentimos a dor do rapaz – um momento profundo.

Ponto seguinte como tinha dito acima foi o Pico do Areeiro. Estacionámos o carro – apesar de o parque de estacionamento ser gratuito o uso das casas-de-banho não o é. Na verdade, esse foi um dos pontos comuns nas levadas que visitámos e que quisemos ir à casa-de-banho – o seu uso não é gratuito. Aconselho a terem umas moedas sempre convosco que também com notas não se amanham.

Como havia imenso nevoeiro e mal se via o que nos rodeava – mesmo assim tivemos um vislumbre de um trilho estreito com escapas altíssimas dos dois lados do caminho – decidimos que já tínhamos visto tudo o que queríamos. A bola branca da figura acima à esquerda é a Estação de Radar Nº4 da Força Aérea Portuguesa. Esta estação está operacional 24 horas todos os dias do ano e o seu objetivo é defesa área nacional.

Fomos até ao Miradouro da Eira do Serrado – e este parte do percurso entre o Pico do Areeiro até ao Miradouro foi o pior de toda a viagem – o caminho era feito todo às curvas estreitíssimas. Uma coisa que só mesmo visto. Então com nevoeiro e chuva nem se fala.

Miradouro da Eira do Serrado

O miradouro fica mesmo ao lado da Estalagem da Eira do Serrado que tem uma piscina interior com uma vista espetacular para a serra. É um local bonito, apesar do difícil caminho para aqui chegar, mas de onde a vista dos quartos deve de ser sem dúvida espetacular. Chegava assim o meio da tarde e a hora de irmos a um restaurante que queríamos experimentar, agora já na zona do Funchal – o Beer Garden. Foi o nosso segundo picadinho, uma vez que as reviews que li de antemão afirmarem que o molho era de comer e chorar por mais. Desta vez, para ser diferente do que tínhamos provado no dia anterior, no restaurante Caravela, escolhemos o picadinho de frango. Acompanhado com uma nikita e bolo de caco foi uma refeição perfeita para depois de um dia sempre a andar. O Beer Garden tem uma variada escolha de cerveja belga, sendo uma escolha ótima escolha para quem é apreciador desta bebida. E o molho confirma-se – delicioso.

Picadinho de frango

De barriga cheia estava na hora de voltarmos para o nosso hotel – Santa Cruz Village – para tomarmos um banho (depois das várias caminhadas estávamos bem precisados) – e de nos venturarmos por Santa Cruz. Tenho a dizer que gostámos imenso de explorar Santa Cruz. Houve dois sítios que ficaram como nossos preferidos e onde acabámos sempre os nossos serões – o Pizza Café – pela paisagem da esplanada do mar e das ilhas desertas e o restaurante snack bar – O Prego. E foi no Prego que ficámos a saber de algo que mudaria completamente o nosso trajeto do dia seguinte!

Já agora sobre as ilhas desertas – não tivemos oportunidade de as visitar, mas é possível fazê-lo através de excursões de barco que partem do Funchal. As ilhas desertas estão localizadas no prolongamento da Ponta de São Lourenço e são três: O ilhéu Chão, a Deserta Grande e o Bugio. Está na nossa lista para uma viagem futura à Madeira. Porque acreditem – quem visita a Madeira não o faz só uma vez.


4º Dia – A Floresta do Fanal e o Festival no Funchal

Este dia foi completamente diferente do que tínhamos planeado inicialmente. De tal forma de que todos os locais visitados apenas um constava na lista inicial. Este era o último dia antes da tempestade e apesar de na altura pensarmos que havia um exagero desmedido à volta da tal tempestade organizámos tudo de maneira que nos dias seguintes fôssemos visitar o menos possível.

Começámos pela Floresta do Fanal. Eu nem acredito que a tínhamos deixado de fora quando fizemos o itinerário ainda em casa. A floresta do Fanal é uma floresta mágica com o seu constante nevoeiro e árvores centenárias de feitios propícios à imaginação. A floresta do Fanal faz parte da floresta Laurissilva, onde o nível conservação da floresta indígena é impressionante. Há vários trilhos à volta da floresta, havendo por exemplo como opções o PR13 – Vereda do Fanal ou o PR14 – Levada dos Cedros. Se fizerem o PR13 terão oportunidade de caminhar no Paúl da Serra, o planalto mais longo da Madeira.

Para chegar à floresta do Fanal fomos ver qual o melhor caminho. Depois de 3 dias às curvas na Madeira já sabíamos que tínhamos de escolher qual era o melhor caminho invés ao caminho que era ´mais rápido´. Porque na Madeira a distância até pode ser menor mas ao andar às curvas demora-se o dobro do tempo do que aquele que o GPS estima.

Quando chegámos à floresta do Fanal não havia nevoeiro, mas rapidamente este apareceu e adensou-se. Caminhar na floresta com o nevoeiro envolvente e as vacas a pastar sem pressas tornou a experiência realmente do outro mundo. Talvez ainda mais impressionante seja a quantidade de rãs que habitam a lagoazita onde o som é quase ensurdecedor.

O próximo ponto de paragem, já em direção ao Funchal, foi a cascata dos Anjos. E não podíamos perder este ponto. Esta cascata é especial porque cai em cima da estrada, ou seja, podem ter a experiência de conduzir por debaixo de uma cascata ou atirarem-se a pé para debaixo dela (para debaixo da cascata, não do carro). Fomos ver a cascata, mas não conduzimos em cima dela porque nos foi avisado pelo madeirense no primeiro dia, na Ponta de São Lourenço, que já tinha havido vários acidentes em que rochas tinham caído e partido para-brisas. Para não arriscar deixámos o carro um bocadinho mais atrás e fomos a pé até esta cascata fenomenal. Fizemos em seguida uma paragem no Miradouro da Ponta do Sol, mas como foi meio difícil estacionar não ficámos muito tempo.

E em direção ao Funchal. Agora o que havia no Funchal? Nesta viagem descobri as vantagens de passar os serões num café de família onde a conversa em amena cavaqueira dá também algumas notícias surpreendentes. Então logo no primeiro ou segundo dia do nosso serão no snack bar O Prego ficámos a saber que nesse Domingo ia decorrer um festival patrocinado pelos hipermercados Continente – Festival Bom Para a Madeira.

A maior notícia para todos era que o Tony Carreira ia atuar ao vivo no final da tarde. Para nós foi saber que a meio da tarde o grupo os 4Litro iam atuar. Para quem não sabe os 4Litro são um grupo de 4 comediantes madeirenses. No canal de Youtube – cliquem aqui para ver – há imensos vídeos a satirizar a vida quotidiana madeirense, a fazer novas letras para músicas conhecidas, tudo para rir às gargalhadas. Nós não podíamos perder. Deixámos o carro a uns 20 minutos do centro do Funchal e descemos até à Praça do Povo. Mal sabíamos que a animação ia estar ao rubro – muitas barraquinhas a vender produtos regionais, gelados, bebidas e comida tradicional. Não podemos resistir a mais uma nikita e esta foi a segunda melhor de toda a viagem (a nikita da Taberna do Poncha está em primeiro). O espetáculo foi muito bom e valeu bem a pena a torreira ao sol durante quase uma hora. Não ficámos para o Tony Carreira, mas via-se a multidão a crescer ao aproximar-se da hora.

Nós decidimos ir jantar a um dos restaurantes mais conhecidos da Madeira – O Abrigo do Pastor. Porque não pode passar uma visita à Madeira sem experimentar a espetada regional. A carne era muito tenra e bastante saborosa. Não ficámos fãs do esparregado e do pão de batata-doce, mas gostei bastante do milho frito.

Ainda nos ofereceram uma poncha depois de um descuido com um café e foi a poncha mais forte que bebi – não só nesta viagem, mas em toda a minha vida. O Abrigo do Pastor é conhecido pela alta qualidade da carne que servem e bastante procurado por turistas e madeirenses.

Com isto chegávamos ao final do dia, um dia que foi planeado já na Madeira, mas um dia inesquecível por muitas razões.


5º Dia – A Madeira nas alturas e nas tempestades

Contávamos ainda ter algum tempo durante o dia para explorar a Madeira antes da tempestade chegar – a tempestade Óscar. Mas a tempestade no final foi uma coisa a sério e era o que se esperava pois havia avisos por todo o lado, não só na comunicação social mas nos locais onde passámos durante a manhã.

O primeiro local do dia foi a Fajã dos Padres. A Fajã dos Padres pode-se definir como um pequeno resort, mas mais rural. Para descer a falésia só de teleférico e quando descem encontram um lugar recluso com uma praia escondida e uma floresta de bananeiras e maracujás.

Também encontram um restaurante e se quiserem passar aqui a noite podem alugar um dos chalés disponíveis. Nós desta vez viemos apenas para passear e na compra do bilhete foi nos dito que contavam fechar mais cedo, por volta das 3, em vez das 7, por causa da tempestade, de outra forma deixaria de ser seguro de o fazer. E compreende-se principalmente quando se viaja naquele teleférico…a descida quase a pique que percorre os 300 metros de altura da falésia numa experiência espetacular, ou horrífica se tiverem medo de alturas. Nós infelizmente não tivemos oportunidade de fazer praia devido ao tempo, mas quando está sol e tempo mais ameno pareceu-me ser uma ótima escolha para quem procura um sítio mais acolhedor.

A segunda paragem foi num dos lugares muito procurados na Madeira – o Cabo Girão. Muito procurado porquê? Para além de ser um espetacular ponto de observação, o chão é de vidro e a descida da falésia quase vertical, criando uma experiência vertiginosa. Têm de se pagar para entrar para o observatório e tem um custo de 2 euros por pessoa. Nós nem sequer o fizemos porque a esta altura havia um nevoeiro cerrado acompanhado com uma súbita carga de água. Achámos que nos irmos molhar sem pudermos ver nada de paisagem não valia muito a pena. Tentando fugir à chuva fomos até ao Cristo Rei da Ponta do Garajau. A grande estátua de Jesus Cristo, de braços abertos, voltada para o mar é o começo de um miradouro com uma vista sobre parte da baía do Funchal e do património natural do Garajau. Sem esquecer de mencionar uma paisagem extensa do Oceano Atlântico.

Não ficámos muito tempo porque as nuvens de tempestade encontravam-se cada vez mais perto. E com isto tivemos de dar com o nosso dia por meio que encerrado. Acabámos por voltar a Santa Cruz, onde estivemos no restaurante Pizza Café a ver o mar, cada vez mais violento e as rajadas de chuva que sacudiam as árvores. A meio da tarde fomos ainda provar um bolo à Confetaria dos Nietos e em seguida fomos para o quarto do hotel.

Durante o final da tarde a tempestade piorou, todos os voos foram cancelados e a televisão inundava-se de notícias sobre o que se estava a passar na ilha. Neste dia todos os trilhos nas levadas foram encerrados, mas infelizmente ainda houve pessoas que acharam que as regras não se aplicavam a eles e enfiaram-se pela meio da floresta quando a tempestade estava em força. Nada como testar o poder da natureza e ao mesmo tempo a das forças de autoridade na Madeira. E nós que tínhamos voo no dia a seguir já a pensarmos o que nos ia acontecer se este fosse cancelado.

Quando a tempestade Óscar começou…

Para jantar e não querendo sair de carro, nem muito da zona, acabámos no restaurante Bom Jesus onde experimentámos o famoso peixe com maracujá e banana, começando pelo polvo como entrada – acho que era o polvo de cebolada – e para finalizar mais um cheesecake de maracujá. Da refeição adorámos – preferimos o peixe com maracujá, mas sem a banana e adorámos a entrada de polvo. Apesar do mau tempo acabámos bem o dia.

Com a tempestade muitos restaurantes e cafés fecharam bastante mais cedo (por volta das 7/8), mas para não acabar o dia ali, ainda fomos passar mais um bocado na esplanada coberta do Pizza Café. Olhar para o mar revolto e a tempestade envolvente, apesar de perigoso não deixa de ser fascinante. Já em direção do hotel parámos no restaurante a Bilheteira para uma nikita mas não ficámos convencidos. Mas foi nestes três estabelecimentos durante o final do dia que percebemos que os madeirenses estavam com bastante receio da tempestade e dos estragos que podia causar. E até o mar já nem estava azul ou esverdeado, tornava-se cada vez de uma castanho devido às enxurradas de água que arrastavam enormes quantidades de terra. E no final tinham razão, no final houve pessoas que ficaram desalojadas e inúmeros estragos pela ilha como podem ver aqui

O mar a tornar-se castanho

No dia a seguir tínhamos pensado entregar o carro e depois visitar o Funchal, uma vez que o nosso voo era às 6 da tarde. Acordámos com talvez menos vento, mas a chuva continuava. Fomos entregar o carro ao aeroporto e entrámos dentro do aeroporto para ver o estado do nosso voo, se a informação nos diria que tinha sido cancelado. E foi aqui que nos bateu a realidade de viajar. Muitas, mas mesmo muitas pessoas deitadas em colchões míseros de cor azul forte, espalhadas pelo chão. Estas eram as pessoas que tinham tido os voos marcados para o dia anterior e que tinham sido cancelados. Esperavam ali para saber quando podiam viajar. O cheiro dentro do aeroporto era a suor e humidade. Não é o que se idealiza quando se viaja. Foi ali naquele momento que descobrimos que viajar não é só glamour como pode rapidamente tornar-se uma situação muito difícil e naquele momento só esperávamos que nessa mesma noite não nos encontrássemos na mesma situação. No final foram cancelados 72 voos em menos 48horas. E as coisas adensavam-se – por exemplo isto era terça-feira e houve um casal de idosos que só teria voo disponível no próximo Sábado. Nós sem pudermos fazer nada até à hora – ainda perguntámos se sabiam se o nosso voo estaria atrasado ou não mas disseram que não saberiam nada até à hora do voo. No total, em dois dias mais de 20mil pessoas foram impossibilitadas de viajar.

Assim, mesmo com mau tempo, apanhámos o autocarro que parte do aeroporto até ao Funchal, o Aerobus que custam 8 euros ida e volta. Chegámos ao Funchal e ainda estava a chover. E continuou a chover todo o tempo em que estivemos na cidade. Aliás, acabámos por não ver nada de jeito no Funchal e foi por isso que no primeiro post disse que uma viagem até ao Funchal está na lista para planos futuros. Passámos no mercado dos Lavradores, pela catedral do Funchal, e pronto foi isso. Por isso, prefiro esperar até à próxima viagem para poder falar como deve ser do Funchal.

E fomos para o aeroporto. Quando chegámos no placar havia mais uns quantos voos cancelados – havia mais cancelados do que a partir da ilha. Mas por volta das 5 da tarde, como numa espécie de filme, as nuvens saíram da ilha e o sol começou a brilhar – assim de repente como se nada se tivesse passado. Muitas foram as pessoas que começaram a sair de dentro do aeroporto para olhar para o céu. Garanto-vos que foi mesma cena a filme. E nós por uma imensa quantidade de sorte embarcámos no nosso voo e saímos da ilha que nos deixou uma experiência incrível – muita coisa boa, muita coisa má e tudo por entremeio.

Leave a comment