No meio do fim-de-semana gótico em Whitby

Índice deste post

  1. Último post em Norfolk
  2. Sandsend
  3. Whitby
    1. Whitby’s Abbey
    2. St Mary’s church e os 199 steps
    3. Gothic weekend
    4. Whitby Brewery
  4. Check-in no The Witching Post Inn em Egton
  5. Próximo post

Último post em Norfolk

O último post foi o primeiro da road trip que fizemos em novembro, altura em que visitámos três zonas de Inglaterra. Primeiro, falámos de Norfolk, mais em específico da costa onde se pode ver os leões marinhos no seu habitat natural durante todo o ano. No entanto é mais especial esta visita durante os meses de inverno, altura em que estes animais dão à costa para dar à luz. Só em 2024/2025 contou-se com mais de 3000 bebés leões marinhos a nascerem em Norfolk. Falámos também de St Mary’s Lodge Bed & Breakfast onde ficámos instalados por uma noite antes de irmos para Yorkshire. Hoje vamos falar da segunda parte da viagem, a costa de Yorkshire, visita essa que se revelou mais surpreendente do que esperávamos.

Sandsend

Chegámos a esta pequena vila pecuária depois de 4 horas a conduzir de King’s Lynn, perto de Norfolk. Estacionámos na estrada principal antes mesmo de chegar ao centro da vila, parque esse que durante os meses de inverno é gratuito. Viemos a Sandsend por duas razões, para ver a parte da praia e da falésia e para irmos até a um pub que me tinha sido aconselhado por um colega.

Praia de Sandsend

Sandsend fica a cerca de 5km da cidade mais próxima, Whitby, sendo possível fazer o caminho a pé entre ambas. O percurso pode ser feito pela praia, se a maré estiver baixa, ou então pela estrada. Se o tempo estivesse melhor talvez tivéssemos sido tentados a fazer pelo menos parte do caminho, mas como o tempo não estava grande coisa ficámo-nos por Sandsend. Andámos pela praia até junto à falésia, mas como a maré estava a encher decidimos ir para o pub, o The Hart Inn, e beber qualquer coisa. Ficámos um bocado à conversa sentados na esplanada, antes de seguirmos caminho até Whitby.

Sandsend, Yorkshire

Acabámos por não ficar muito tempo em Sandsend mas também é preciso ter em consideração que já tínhamos chegado a esta vila perto da 1 da tarde. Como ainda queríamos ir até Whitby e visitar a abadia não pudemos ficar aqui durante muito tempo.  No entanto, mesmo assim conseguimos ficar a conhecer um pouco desta pitoresca vila de pescadores.

Whitby

As ruínas da abadia de Whitby

Chegámos a Whitby perto das 3 horas da tarde. Estacionámos o carro ao pé da Whitby Abbey (abadia) para visitarmos tantos as ruínas como o museu. Não deixámos o carro no estacionamento oficial já que este era pago, deixámo-lo antes estacionado numa das ruas ali perto onde era gratuito. Para visitar as ruínas aconselho a comprarem o bilhete online já que assim têm um desconto de 15%. O website oficial da Whitby Abbey, onde se pode adquirir os bilhetes é o seguinte: Whitby Abbey

Whitby’s Abbey

Hoje em dia o mosteiro do século VII encontra-se em ruínas, mas não deixa de ser um majestoso lugar para visitar. A história desde mosteiro começa em 657 quando a abadessa Hild fundou o mosteiro nas terras doadas pelo Rei Oswiu. No ano de 664, os líderes da Igreja reuniram-se aqui para o Synod de Whitby, uma reunião organizada para decidir a data da Páscoa. Foi durante esta reunião que se determinou seguir as prácticas romanas em vez das célticas, o que moldou a direcção da igreja em Inglaterra pela história. A Abadessa Hild morreu em 680 e pouco depois começou a ser venerada como uma santa.

Whitby Abbey

Este mosteiro foi abandonado em meados do século IX até que Reinfrid, soldado normando, se estabeleceu aqui nas ruínas do mosteiro. Em 1109, a comunidade adoptou a Regra de St Benedict (São Bento). A nova igreja era dedicada tanto a St Peter como a St Hild. Os monges viveram aqui até a supressão da abadia pelo rei Henrique VIII em 1539.

Para além da visita às ruínas também se pode visitar o museu que fica no mesmo recinto da abadia onde vários objectos da história de Whitby estão em exposição como cruzes anglo-saxónicas, manuscritos dos tempo medievais e até uma cópia rara e assinada por Bram Stoker, o autor do famoso livro Drácula.

Uma das partes culturais importantes que moldaram a cidade de Whitby foram as lendas e mitos associados a ela. Um exemplo é a história de St Hild. De acordo com a história, St Hild conseguiu remover as cobras que assombravam as falésias de Whitby. Ao fazê-lo foi homenageada por gansos que voavam sobre a sua cabeça enquanto os sinos perdidos da abadia ressoavam no fundo do mar.

St Mary’s church e os 199 steps

Mesmo ao lado da abadia encontrámos a igreja de St Mary erguida em 1110 rodeada pelas campas antigas do cemitério. Ao passar por este local fomos de encontro a outro ponto de interesse em Whitby, a escadaria dos 199 degraus (199 steps) também conhecida como as escadas da igreja (church stairs). Acho que não vale a pena dizer que há mesmo 199 degraus e posso confirmá-la pois fiz o caminho tanto para baixo como para cima. Apesar de haver algum debate sobre quantos degraus de facto existem.

St Mary’s church (igreja de St Mary) em Whitby

Toda esta parte das ruínas da abadia sobre as falésias imponentes, mais a igreja rodeada pelas lápides antigas e degradadas formaram na mente de Bram Stoker o cenário perfeito para o seu livro, o Drácula. Algumas das lápides deste cemitério erguem-se sobre túmulos vazios assinalando pescadores cujos corpos não voltaram a terra depois de partirem nas suas viagens. Os nomes destes túmulos foram significativos para o livro incluindo ‘Swales’ nome esse que Bram usou para a primeira vítima do Drácula. Para quem quer ler um pouco mais sobre a experiência de Bram Stoker em Whitby e como esta cidade inspirou o livro cliquem em: Drácula em Whitby

Vista de Whitby do topo dos 199 degraus

Ao passarmos pela igreja e pelo cemitério foi quando começámos a falar abertamente sobre a forma como algumas pessoas estavam vestidas. Já tínhamos reparado que havia algo ‘fora do comum’ na abadia. Havia pessoas mascaradas, no entanto o que chamou mais a atenção foi que a maioria usava roupa e maquilhagem de estilo gótico. E isto intensificou-se quando estivemos perto do cemitério. Não pensem que comentámos em tom de crítica, mas sim de curiosidade pelo grande número de pessoas que assim estavam vestidas. E foi enquanto descíamos os 199 degraus depois de pararmos um pouco para apreciar a bonita vista da cidade que descobrimos que tínhamos vindo visitar Whitby exactamente a meio do Gothic weekend (fim-de-semana gótico). Foi sem querer, mas adorei a coincidência, porque já tinha ouvido falar deste evento e puder estar ali ao vivo era uma oportunidade fantástica.  

Gothic weekend

Para quem nunca ouviu falar, o Gothic weekend acontece duas vezes por ano, em abril e no fim de outubro/inícios de novembro. Exactamente no fim-de-semana em novembro que viemos a Whitby!

O Gothic weekend começou em 1994. O incrível é que isto começou com um anúncio numa revista de música, a New Musical Express, de formar a chamar pessoas que tivessem interesses comuns e fossem apaixonadas pela cultura gótica. Em vez de isto ser um encontro de 15 amigos que se comunicavam através de cartas, os chamados pen-friends, foi antes um encontro gigantesco que contou com cerca de 200 pessoas. A partir desse primeiro fim-de-semana, o Gothic weekend adquiriu enormes proporções e hoje para além de acontecer duas vezes por ano, a cidade recebe visitantes com imensos eventos musicais, culturais e artísticos. Sempre a celebrar o gótico. E é impossível escapar ao ambiente que transforma completamente a cidade. E eu sei isto porque voltei a Whitby nesta mesma viagem quando o fim-de-semana gótico tinha terminado e a vibe da cidade era completamente diferente. Se me perguntarem se é melhor vir em abril ou em novembro, eu pessoalmente como ‘turista’ e não aficionada do gótico diria novembro. Não só temos nesta altura a adição do Halloween como os dias são mais curtos e mais frios, criando um ambiente mais aberto à imaginação. Se também estiverem interessados em conhecer esta parte cultural de Whitby vejam: Website oficial do Gothic weekend.

Church Street em Whitby

Continuando com a nossa tarde em Whitby, depois de descermos os 199 degraus andámos pelas bonitas ruas empedradas da cidade acabando por passar a ponte sobre o rio Esk. A nossa ideia era ver se era possível jantar no famoso Magpie Café. No entanto, quando chegámos à porta estava uma grande fila por isso o nosso plano foi imediatamente alterado. Faríamos uma reserva para o dia seguinte no Magpie Café para comer o famoso fish and chips (peixe frito com batatas fritas). Para não me adiantar muito vou apenas dizer que apesar da fama do restaurante esta não foi a melhor refeição da viagem.

Cais de Whitby

Antes de atravessarmos novamente a ponte e subir os 199 degraus ainda fomos a um pequeno jardim com uma belíssima vista sobre o cais de Whitby acompanhado no cimo da falésia pelas ruínas da abadia. Neste pequeno jardim também encontrámos outros dois pontos de interesse, os arcos feitos de osso de baleia (maxilar) – Whalebone Arch, e o Memorial ao Capitão Cook – Captain Cook Memorial.

Whitby Brewery

Como não íamos jantar ao Magpie Café decidimos comer qualquer coisa na Whitby Brewery (cervejaria de Whitby). Este local também tinha sido recomendado por um colega devido à variedade de cervejas que aqui são feitas. A Whitby Brewery fica no topo dos 199 degraus mesmo de frente às ruínas da abadia. Tanto é que sentados nas mesas do pátio podíamos continuar a admirá-las.

Whitby Brewery

Esta cervejaria é recente, tendo começado em 2013. Em 2016, devido à popularidade e crescimento da empresa mudaram-se para aqui, onde estão actualmente, uma vez que as dimensões da propriedade eram maiores. Quando chegámos à Whitby Brewery o local já estava bastante apinhado até porque estava para começar um concerto de música ao vivo. Não sei dizer se a música ao vivo é algo normal neste estabelecimento ou era apenas parte do Gothic weekend. Pedimos as nossas cervejas e não tendo sítio para nos sentarmos na parte interior viemos então para o pátio onde ainda havia várias mesas disponíveis.

Pizza e cerveja da cervejaria de Whitby

Para acompanhar a cerveja também pedimos uma pizza, a Prosciutto para dividir entre nós os dois. As pizzas do Whitby Brewery são feitas a forno de lenha e o serviço decorre todos os dias entre a 1 e as 7 da tarde. A única parte menos boa que talvez seja importante mencionar é que não há estacionamento nesta cervejaria, no entanto há estacionamento nas ruas ali à volta (que como disse acima foi a nossa opção quando chegámos para visitar a abadia). Estivemos por aqui durante cerca de 1 hora, até às 6 da tarde. Acabámos por não ficar mais tempo por duas razões; estava a arrefecer bastante para estarmos sentados na rua e ainda tínhamos de fazer o check-in em Egton, a vila onde íamos ficar nas próximas 3 noites.

Para visitar o website oficial da cervejaria cliquem em: Whitby brewery

Check-in no The Witching Post Inn em Egton

A distância entre Whitby e Egton é de 12km o que de carro leva cerca de 15 minutos. Para nós, Egton foi o ponto perfeito para a viagem, perto o suficiente da costa, mas já dentro do parque nacional, o qual queríamos explorar nos dias seguintes. Chegámos a este pub/pousada já era noite cerrada e fomos recebidos num ambiente bastante acolhedor. Recebemos as chaves do quarto que ficava no primeiro andar, acima do pub. Não tenho nada de mau a apontar sobre o nosso quarto, mas depois da experiência que tínhamos vivido em Whitby, se nos tivessem sugerido que o quarto era assombrado não tínhamos duvidado. Talvez um bocadinho. Mas nunca vimos nada durante a nossa estadia. A parte mais aterradora era mesmo a possibilidade de bater com a cabeça na rampa que subia para a casa-de-banho se não fôssemos com cuidado. No total The Witching Post Inn tem 3 quartos disponíveis para alugar, mas aviso que este lugar costuma estar lotado. E não é de admirar nós adorámos o local tanto devido à localização como a forma como fomos recebidos e tratados. No final já conhecíamos a história do dono, a história do pub, os problemas da vila e as practicalidades de viver em Egton. E mesmo depois de meses de termos feito esta viagem ainda falamos imenso em voltar a Egton, o que faremos assim que a oportunidade surja.

Como tínhamos comido a pizza na cervejaria em Whitby e não havia muita fome acabámos por fazer o mesmo para jantar, pedimos uma pizza do menu para partilhar. Das 4 opções disponíveis escolhemos a hotshot que se confirmou ser bastante picante (hot = picante). Durante o jantar verificámos que as primeiras aparências com que ficámos do The Witching Post Inn estavam certas – um pub local com um ambiente informal e acolhedor, onde todos se conhecem.

Antes de acabar este primeiro dia em Yorkshire, vou só falar da história deste pub: Em 1704 esta pousada fazia parte de uma quinta que incluía uma cervejaria. A cerveja que era aqui produzida tinha o objectivo de fornecer líquidos e calorias aos trabalhadores da quinta uma vez que o sistema de água era bastante abaixo dos padrões de higiene sanitária. Em 2012 a pousada que na altura se chamava Ye Old Horshoe encerrou e voltou a abrir em 2017 com um novo nome, The Witching Post Inn. Este nome foi escolhido devido ao ‘witch post’ (poste das bruxas) que se encontra à entrada do pub, o qual foi esculpido em madeira e posteriormente benzido por um padre.

Os ‘witch post’ são oriundos da época medieval e tradicionais desta zona do país, North York Moors, pois acreditava-se que estes postes protegiam as casas da entrada indesejada de bruxas. A história associada a este local por coincidência espelhou toda a experiência que estávamos a ter naquele dia com o fim-de-semana do Halloween (Dia das Bruxas) e da celebração gótica em Whitby.

O website oficial deste pub/pousada pode ser acedido em: The Witching Post Inn

Próximo post

Para a próxima semana vamos falar do pequeno-almoço que comemos no pub na manhã seguinte, dos dois primeiros trilhos que fizemos no parque nacional de North York Moors acabando o dia numa pitoresca vila com direito a experimentar um bolo típico.

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