Índice nesta página
- Incluir Córdoba no itinerário de viagem
- Pequeno-almoço no Café Trinidad
- Sinagoga de Córdoba
- Mezquita-Catedral de Córdoba
- Baños del Alcázar Califal
Incluir Córdoba no itinerário de viagem
Muitas pessoas que vêm visitar Córdoba, vêm apenas por umas horas. É uma daquelas cidades de ‘um dia’. E realmente ir e vir de outra cidade, por exemplo de Sevilha é bastante fácil e rápido. O problema é que um dia não dá para ver tudo. Por outro lado, também acho que mais de dois dias é desnecessário. Nós passámos dois dias e meio em Córdoba e vendo bem as coisas podíamos ter feito tudo em dois dias, incluindo visitar a cidade-palácio Medina Azahara.

Normalmente quem vem a Córdoba por um dia vem conhecer aquilo que nós visitámos neste nosso segundo dia, a Mezquita-Catedral de Córdoba e o Alcázar de los Reyes Cristianos. Sendo ambos os locais mais populares tínhamos comprado os bilhetes com alguma antecedência, o da Mezquita com entrada marcada às 11 horas e do Alcázar à 1:30. Os bilhetes para visitar a Mezquita-Catedral custaram 13 euros por pessoa. A entrada para o Alcázar de los Reyes Cristianos é gratuita, no entanto é necessário marcar hora da visita, o que podem fazer através do seguinte link: https://museosdecordoba.sacatuentrada.es/es/. Nós comprámos os bilhetes que davam entrada tanto para o Alcázar como para os Baños del Alcázar Califal, os quis tiveram um custo de 7.16 euros por pessoa.
Pequeno-almoço no Café Trinidad
Começando o nosso dia era primeiro preciso tomar o pequeno-almoço. Pouco passava das 9 da manhã quando estávamos a trocar os cartões que o senhorio nos tinha deixado pelo pequeno-almoço. O café Trinidad, um café bastante tradicional, estava bastante cheio àquela hora matinal. Na verdade, cada vez que passámos por ali, o café estava sempre com bastante clientela. Devido talvez à sua localização, pois em frente fica a Escola Superior de Arte e Desenho (Escuela de Arte y Superior de Diseño).
Para o pequeno-almoço, eu escolhi café e uma ‘tostada con queso’ enquanto que o meu marido pediu chocolate quente e uma ‘tostada con jamón’. A tostada é basicamente uma torrada. Ambas as ‘tostadas’ vinham acompanhadas com um molho de tomate esmagado para barrar no pão e comer com o queijo ou com o jámon, respectivamente.

Enquanto aqui estivemos reparámos que a ‘tostada con jamón’ era a mais pedida pelos locais. Também vimos que o tomate que ficava no frasquinho se juntava a outros tomates de outros frasquinhos. Mas isto era feito à frente de toda à gente, por isso calculámos que a práctica seja aceite entre os clientes. Também experimentámos pôr o azeite da garrafa que estava na mesa por cima do tomate, e digo-vos que o azeite era de excelente qualidade e que realmente elevou aquela simples torrada.
No dia seguinte, para um pequeno-almoço diferente, pedi uma ‘tostada com marmelada’ que veio também com manteiga. E o que eu descobri – pão com manteiga e marmelada! Eu sei é triste, toda a gente já experimentou, mas pronto eu nunca tinha comido. E acho que de tudo o que comi nesta viagem foi esta mistura que mais me marcou! Se forem como eu e tiveram a perder esta delícia fica aqui a dica e não deixem para quando vierem a Espanha, experimentem hoje mesmo.
Sinagoga de Córdoba
Depois do pequeno-almoço que nem sequer 20 minutos demorou voltámos ao centro histórico da cidade, desta vez para visitarmos a sinagoga de Córdoba que abria às 9 da manhã.


A sinagoga fica no bairro judeu conhecido como la Judería e a sua visita é gratuita. O edifício da sinagoga está anexado à antiga muralha da cidade. A arquitectura no seu interior é de estilo Mudéjar, o qual falámos quando visitámos a Casa del Rey Moro em Ronda. A sinagoga foi construída entre 1314 e 1315 e foi local de prática da religião hebraica até 1492, ano em que os judeus foram expulsos da cidade a mando dos reis católicos de Espanha. Foi apenas em 1876 que os trabalhos de conservação e restauro se iniciaram, e em 1885 esta sinagoga foi declarada Monumento Nacional.


A visita inclui apenas uma sala, a sala das orações, coberta por bonitos e complexos trabalhados esculpidos nas paredes. Pela sala estão espalhados vários pontos informativos a indicar as frases esculpidas nas paredes e o seu significado.
A visita à sinagoga acabou por ser bastante rápida. Em seguida, fomos em direcção à Mezquita-Catedral de Córdoba, aproveitando para passar por outras ruas do centro histórico, as quais não tínhamos visto no dia anterior, incluindo uma ‘Colonia Felina Protegida’ mantida por voluntários.

Mezquita-Catedral de Córdoba
Entrada
Caminhando devagar acabámos por chegar ao bonito Patio de los Naranjos. Apesar de ainda não serem 10 da manhã, a hora em que o edifício abria, já havia muitas pessoas a passear por ali. Como a nossa entrada estava marcada para as 11 perguntámos aos empregados que estavam a vender os bilhetes naquela manhã se podíamos entrar mais cedo. Eles não nos deram certezas, mas disseram para perguntar à entrada quando a mezquita-catedral abrisse.
Às 10 horas, quando abriu a mezquita-catedral lá perguntámos e felizmente deixaram-nos entrar, mas sem faltar o comentário que estavam a deixar-nos entrar bastante mais cedo. Suponho que seja uma das vantagens de viajar em janeiro, como há menos turistas as regras são menos rígidas.

E mal entrámos sentimos logo que estávamos num local cheio de história, um local onde duas religiões muito diferentes viviam lado a lado, a muçulmana e a cristã. Não vou dar aqui uma longa lição de história sobre a mezquita-catedral, apesar de história e cultura associadas a este local ser o que não falta.
Website oficial da Mezquita-Catedral de Córdoba: https://mezquita-catedraldecordoba.es/
Breve história
A origem deste local começa em meados do século VI quando se ergueu a Basílica Visigótica de São Vicente. Ainda há vestígios desta basílica, os quais podem ser visitados na área sobre São Vicente.
Mais tarde, em 756, Córdoba torna-se num emirado (território árabe) independente declarado por Abderramán I, o primeiro emir de Al-Andalus. Com esta mudança de poder e de religião, a basílica é transformada na mesquita de Aljama onde se faziam as rezas muçulmanas. Esta mudança de basílica para mesquita não aconteceu apenas por interesse religioso, mas também político.


Quando o seu filho, Abderramán II, tomou o poder, Córdoba tornou-se o grande centro político e cultural com faustosas construções a serem erguidas durante este período. Nesta altura, a mesquita ganhou 8 novas naves na parte sul, tal como uma extensão do pátio das abluções.
Em 929, Abderramán III é proclamado califa nascendo assim o Califado de Córdoba. Foi aqui que a cidade atingiu o seu apogeu social, cultural e económico. A cidade-palácio Medina Azahara é construída para ser tanto residência do califa como a sede da sua administração. Darei mais pormenores à frente quando falar da nossa visita às ruínas da cidade. Em relação à mesquita, Abderramán III mandou construir um minarete (usado para anunciar a hora da oração) que se pensa ter tido 47 metros de altura.


O filho de Abderramán III, Alhakem II, homem muito religioso manda ampliar pela segunda vez a mesquita. Isto não só devido ao seu fervor religioso, mas também associado ao crescimento da fé muçulmana na cidade .
Penso que já se tenham apercebido do padrão, cada emir que subiu ao poder durante o perído Al-Andalus, mandou construir ou ampliar uma parte da mesquita para mostrar o seu poder e para acomodar a população muçulmana que ia crescendo em Córdoba à medida que a cidade prosperava.

A quebra do poder muçulmano aconteceu em 1146, quando o exército cristão entrou em Córdoba. Após a conquista, uma missa cristã foi realizada dentro da mesquita na qual teve a presença do rei de Espanha, Afonso VII. Desde então que a religião cristã tem adicionado a sua parte a este edifício. Em 1371, foi construída a capela real onde os túmulos dos reis Fernando IV e Afonso XI permaneceram até 1736. Mais tarde, em 1489, foi construída a nave de estilo gótico seguindo a estrutura de uma basílica. Em 1523, foi construída o transepto em forma de cruz com 3 naves. Durante o século XVI foi também construída a torre sineira enquanto que os Patios de los Naranjos foram re-organizados.
A visita
O que se pode dizer no meio de toda esta história? Que tanto a religião muçulmana como a cristã moldaram a famosa Mezquita-Catedral de Córdoba. No total, existem 7 capelas cada qual com o seu santos e com as suas obras de arte.


O que é mais interessante e o que torna este edifício único é que se tenha mantido a arquitectura original da mesquita. É evidente que a religião católica se entranhou na mesquita, mas ao mesmo tempo respeitou o seu valor cultural e histórico. Tanto a arquitectura do transepto da capela maior como a arquitectura árabe do Mihrab são impressionantes.
Como devem imaginar este espaço é enorme com imensos detalhes. Demos várias voltas até estarmos satisfeitos com aquilo que tínhamos visto durante aquela hora e meia.
Baños del Alcázar Califal
Antes de irmos visitar o Alcázar fomos primeiro ver as ruínas dos Baños del Alcázar Califal que ficam entre a parte histórica de Córdoba e o Alcázar de los Reyes Cristianos. Estes baños são resultado de uma mistura de vários estilos arquitectónicos, já que as várias salas foram construídas em diferentes períodos. A primeira parte foi construída durante o reinado de al-Hakam II (961-976), como baños pertencentes ao Palácio do Calife. No século XII, este tornou-se no palácio dos Almorávides y Almohades e desde a reconquista, em 1236, o palácio dos reis cristãos até o abandonarem em 1338. Infelizmente do palácio califal não há vestígios.
Os baños del Alcázar Califal eram para uso do próprio califa, da sua família ou para reuniões políticas. Nestes banhos era onde o Califa recebia os cuidados estéticos, físicos e terapêuticos.


Os baños del Alcázar Califal eram formados por diferentes salas por onde se ia passando por uma certa ordem, que era a seguinte:
- Primeiro o Bayt al-Maslaj ou vestiário onde as pessoas deixavam as suas roupas
- Em seguida, passavam para o Bayt al-Barid, ou sala fria, onde se dava a renovação espiritual através do contacto com a água. Nos banhos árabes, a limpeza não era através da imersão dos corpos na água, mas sim através dos vapores, suores e fricção. Na sala fria, eram onde se recebia panos e solas de cortiça para evitar queimaduras nos pés e quedas devido ao piso escorregadio
- Da sala fria passava-se para o Bayt al-Wastany ou sala temperada. Esta era a sala mais importante com abóbadas suportadas por arcos e pilares em forma de colunas. Nesta sala também havia zonas para a limpeza corporal e era aqui que o califa recebia os cuidados diários de higiene e estética. Por vezes este salão recebia visitantes importantes e era local de reunião política da corte cordobesa
- A última sala, Bayt al-Sajun, ou sala quente tinha duas pias, uma à esquerda que fazia de banheira enquanto que à direita havia um jacto de água que funcionava como chuveiro. O piso e as paredes eram aquecidos pelo calor que provinha do forno e da caldeira espalhado através de canos de cerâmica. Nesta sala decorreram alguns acontecimentos trágicos durante a guerra civil que pôs um fim ao Califado. Um deles foi o assassinato do califa Alí Ibn Hammud por três dos seus escravos e outro foi a captura e a execução do califa Abd al-Rahmán V pelas mãos do povo de Córdoba
Durante a visita pode-se também ver várias peças do período do califado como é o caso de um relógio de sol e o fragmento de um sarcófago romano.
Quando saímos das ruínas dos banhos, mais ou menos às 11:45, decidimos descansar um bocadinho num dos bancos do jardim que ficava mesmo ao lado. Apesar do dia estar solarengo, a temperatura era baixa o suficiente para ser agradável estar ali ao sol. Por ali crianças brincavam e famílias conversavam e riam entre si. Para nós era férias, mas para os locais era mais uma terça-feira.
Passado um bocado decidimos experimentar a nossa sorte no Alcázar de los Reyes Cristianos e tentar entrar mais cedo. Talvez fosse o mesmo que na Mezquita-Catedral. E não foi que também nos deixaram entrar?
Para o próximo post
Como já devem calcular para a próxima semana fica a visita ao Alcázar de los Reyes Cristianos, e também ao palácio de Viana. No final, falarei da procura quase desperada por comida num dos centros comerciais da cidade e o nosso último jantar em Córdoba.