Barcelona, uma cidade moldada pelo modernismo

Índice nesta página:

  1. Arquitectura modernista em Barcelona
    1. Antonio Gaudí, arquitecto modernista
      1. Quem era Antonio Gaudí?
  2. Casa Batlló
    1. Interior da casa Batlló
    2. Fachada da Casa Batlló
      1. Manzana de la Discordia
      2. A lenda associada à Casa Batlló
  3. La Pedrera ou Casa Milà

Arquitectura modernista em Barcelona

A Barcelona que conhecemos hoje foi moldada pelo modernismo, um movimento artístico que apareceu na Europa nos finais do século XIX, e se estendeu rapidamente pelos vários países. Actualmente, grande parte dos locais turísticos em Barcelona são exemplos de edifícios e monumentos criados seguindo este tipo de arquitectura. E isso deveu-se também à competição entre arquitectos modernistas promovida pelos prémios urbanos dados pela câmara municipal. Muitos destes edifícios, agora considerados como obras de arte, foram construídos no Passeig de Gracìa a rua que se tornou a espinha dorsal de Barcelona, onde todas as famílias com poder e estatuto na sociedade se queriam estabelecer. Este focos no Passeig de Gracìa resultou do Plano Cerdà, ambicioso projecto urbano aprovado em 1860 para elevar a cidade Barcelona cultural e artisticamente.

Park Güell, criação de Antonio Gaudí

O aparecimento e destaque do modernismo em Barcelona de forma tão prominente deveu-se a uma junção de vários aspectos históricos da época como a primeira Exposição Universal organizada em Barcelona em 1888, que foi um dos grandes motores para a construção de magníficos edifícios, a Revolução Industrial e o ‘Desastre del 98’ altura em que Espanha perde as suas últimas colónias como Cuba, Puerto Rico e Filipinas. Foi durante este período que muitos espanhóis que tinham emigrado para a América em busca de riqueza agora regressavam com vontade de fazer mudanças no seu próprio país. Por último, como factor condutor do modernismo podemos mencionar o movimento da Renaixença (Renascença em português), um movimento que exaltava os valores catalães. Este movimento mudou o pensamento geral na burguesia que se virou para a cultura, arte e arquitectura associado a um forte sentimento nacionalista.

Antonio Gaudí, arquitecto modernista

Um dos grandes arquitectos que tiveram um impacto enorme na cidade de Barcelona foi Antonio Gaudí. Mesmo que nunca se tenha ouvido este nome, certamente que o ouvirá mais do que uma vez quando se explora Barcelona. Aliás grande parte das atracções mais procuradas em Barcelona são criações de Gaudí (e com boa razão de ser). Entre elas conta-se La Pedrera (ou Casa Milà) e a Casa Batlló, que são o foco deste post, o Parc Güell e talvez a mais conhecida a inacabada La Sagrada Família. Nós visitámos estes dois últimos locais no dia seguinte e por isso falarei deles mais à frente.

Quem era Antonio Gaudí?

Antonio Gaudí nasceu a 25 de junho de 1852 numa província em Espanha e desde muito cedo que começou a ajudar no negócio de família na produção de caldeiras. Isto deu-lhe uma enorme percepção sobre espaço e volume que mais tarde aplicou nas suas obras. Desde muito novo que Gaudí tinha um fascínio pela natureza e pelas suas formas, o que se tornou o centro das suas criações. Não numa tentativa de imitar a natureza, mas de a celebrar de uma forma equilibrada e deveras fascinante. Alguns desses exemplos podem ser encontrados na Casa Batlló como os motivos marinhos e lareira em forma de cogumelo, que podem ver nas fotografias abaixo.

Em 1870 Gaudí muda-se para Barcelona para se formar em arquitectura, o que faz com sucesso em 1878. Foi a partir daqui que Gaudí começou o seu grande legado artístico. Mas apesar de aos longos dos anos a sua notoriedade ser cada vez maior, Gaudí com o tempo começou a isolar-se da sociedade. Ao contrário do Gaudí que durante a sua juventude frequentava vários eventos sociais tais como teatros, concertos e tertúlias, Gaudí começou-se a distanciar da sua vida social enquanto o seu fascínio em relação à religião e ao místico se tornava cada vez mais obsessivo.

Antonio Gaudí morre a 10 de Junho de 1926, atropelado por um eléctrico, enquanto caminhava em direcção à La Sagrada Família, projecto onde na altura punha todo o seu esforço. Inicialmente Gaudí não foi reconhecido devido ao seu aspecto descuidado e falta de documentação. A sua identidade foi descoberta já no Hospital de la Santa Cruz por um padre que trabalhava na La Sagrada Família. O enterro de Gaudí decorreu dois dias mais tarde na La Sagrada Família, e é aqui onde o seu corpo ainda hoje permanece.


Casa Batlló

Nós tínhamos escolhido os Los Tortìllez (ver post anterior) exactamente devido à sua proximidade ao Passeig de Gracìa. E foi por isso que depois da nossa refeição rapidamente chegámos à entrada da Casa Batlló. Como não tínhamos a certeza das horas em que estaríamos prontos para visitar a casa não tínhamos marcado os bilhetes com antecedência. Mas felizmente isso não foi um problema. Quando chegámos conseguimos marcar bilhetes para entrar dali a 15 minutos. O bilhete para a visita custou-nos 29 euros por pessoa.

A Casa Batlló fica no número 43 do Passeig de Gracìa no entanto este não é o edifício original. O primeiro edifício foi construído em 1877 numa altura em que ainda não havia electricidade na cidade. Em 1903 o edifício foi adquirido por Josep Batlló y Casanovas, um industrialista têxtil com várias fábricas espalhadas por Barcelona e um empresário de poder. E claro está, tal como ditava as regras da sociedade da altura, Passeig de Gracìa era a rua onde morar se se queria marcar a sua posição social. Josep Batlló contratou Antonio Gaudí em 1904 e deu-lhe ‘cartão verde’ para transformar por completo o edifício. Na sua ideia original, Josep queria que o edifício fosse deitado abaixo e re-construído de novo, mas Gaudí conseguiu evitar que isso acontecesse. Apesar de claro a transformação do edifício tê-lo tornado numa obra de arte que desde 2005 é considerado Património Mundial pela UNESCO.

Interior da casa Batlló

Primeiro vou falar da nossa visita à zona interior da casa e depois da fachada exterior que é indubitavelmente a parte mais conhecida do edifício.

Tal como disse acima a natureza tinha um papel central nas obras de Gaudí e aqui o é demonstrado. A entrada simples da casa pretende que o visitante se sinta debaixo de água com clarabóias que lembram carapaças de tartaruga. Esta sala termina numa escadaria que leva ao piso principal.

Aqui, primeiro passa-se por um espaço onde se encontra uma lareira em forma de cogumelo, espaço esse que fazia de escritório de Josep Batlló. Em seguida o visitante entra para a sala principal onde uma grande janela panorâmica com padrões marinhos tem um papel de grande relevância. Esta janela é talvez uma das partes mais conhecidas da casa.

Janela panorâmica do piso principal com padrões marinhos

Enquanto se sobe pelos vários andares do edifício começamos a notar pequenos pormenores que permitem o equilíbrio de luz e de ventilação nos vários pontos da casa. Por exemplo, note-se que os azulejos azuis vão escurecendo à medida que se vai subindo e as janelas ficando mais pequenas. Isto foi assim construído com o intuito de equilibrar a quantidade de luz que cada piso recebe. É importante aqui lembrar que esta era uma casa familiar e por isso tinha de ser funcional, o que era aliás uma das premissas deste projecto.

No último andar, a zona dos criados, encontramos uma simplicidade que se destaca dos outros pisos com vários arcos simples pintados de branco. Há quem acredite que estes arcos representam os ossos da caixa torácica de um animal.

No terraço superior para além da privilegiada vista sobre os vários edifícios da cidade, encontramos como principal construção as 4 chaminés policromadas projectadas de forma a evitar que o ar voltasse para dentro do edifício (imagens abaixo).

Quando descemos as escadas, depois da visita ao terraço superior, entrámos dentro de uma espécie de sala espelhada. As portas fecharam-se e pudemos assim experienciar um show de luzes e de imagens feitas a computador com as várias obras de Gaudí. Sem dúvida uma das experiências mais marcantes desta visita.

Durante a subida pelos vários andares um dos locais que não pudemos visitar por se encontrar em trabalhos de conservação e restauro foi o pátio.

Fachada da Casa Batlló

A fachada única da Casa Batlló representa Gaudí na sua imaginação livre inspirada pelos padrões e vida marinha.

Manzana de la Discordia

A fachada exterior é algo que não se deve perder numa visita a Barcelona. Entendo se não quiserem ou não estiverem interessados em visitar o interior da casa, mas o exterior merece ser contemplado.

Aliás, devido às competições organizadas pela câmara municipal de Barcelona, a casa Batlló faz parte de uma fachada de 5 edifícios todos eles exemplos do modernismo, todos eles criados por arquitectos da época. Este conjunto de edifícios é chamado de Manzana de la Discordia (o quarteirão da discórdia). Os edifícios são:

  • Casa Batlló de Antonio Gaudí – Número 43
  • Casa Amatller de Josep Puig i Cadafalch – Número 41
  • Casa Josefina Bonet de Marcel-li Coquillat – Número 39
  • Casa Mulleras de Enric Sagnier – Número 37
  • Casa Lléo Morera de Luís Domènech i Montaner – Número 35

Quando olharem para Casa Batlló não deixem de reparar na arquitectura dos outros edifícios daquela fachada.

A lenda associada à Casa Batlló

Apesar de Gaudí nunca ter mencionado tal facto há a crença popular que a fachada da Casa Batlló se baseia na lenda de Sant Jordi, o santo padroeiro da Catalunha. De uma forma muito simplificada a lenda conta que Sant Jordi matou o dragão com a sua espada para salvar a princesa e o povo da ira do animal.

Com base nesta interpretação, a coluna no topo do edifício simboliza a espada de Saint Jordi que está espetada no dorso do dragão, representado pelas várias escamas coloridas. Adicionalmente diz-se que as colunas que se encontram mais abaixo e tem aparência de ossos são homenagens às vítimas do dragão.

É justamente esta conexão entre a Casa Batlló e a lenda que ao longo da história a casa foi também conhecida como a casa dos ossos ou a casa do dragão.

Para saber mais sobre a Casa Batlló e a sua história vejam o website oficial: https://www.casabatllo.es/en/


La Pedrera ou Casa Milà

Outro edifício projectado e construído por Gaudì, também ele no Passeig de Gracìa, é a La Pedrera, também conhecido por Casa Milà. La Pedrera devido à sua face exterior que lembra uma pedreira a descoberto enquanto que Casa Milà é devido ao nome dos donos que adquiram a propriedade e quem contractou Gaudì, Pere Milà e Roser Segimon. Este edifício foi construído depois da Casa Batlló; a Casa Batlló foi construída entre 1904 e 1906, a La Pedrera foi construída entre 1906 e 1912.

Os bilhetes para visitar La Pedrera, tal como para visitar a Casa Batlló, custam 29 euros e por isso tínhamos decidido que íamos apenas visitar uma delas. A nós pareceu-nos que o interior da Casa Batlló era mais interessante apesar da história da Casa Milà ser bastante mais atribulada.

Fachada exterior de La Pedrera

Quando compraram a propriedade o objectivo do casal Milà era de viver no primeiro piso e de alugar os restantes quartos. O projecto começou em 1906, no entanto o processo não foi de todo sem contratempos já que Gaudí alterava constantemente o projecto incluindo o aspecto e a estrutura do edifício. Estas alterações frequentes, por um lado fez com que a construção do edifício tivesse um valor financeiro muito acima da estimativa orçamental prevista. Por outro lado, Gaudí borrifou-se (para não dizer pior) para os regulamentos da câmara municipal e construiu um edifício onde o volume do sótão e do terraço superior eram ilegais. Para mais um dos pilares da fachada acabou por ocupar parte do passeio do Passeig de Gracìa, sendo este outro incumprimento dos regulamentes municipais.

Claro que hoje em dia o edifício que ali se ergue é a prova que o incumprimento não levou a alterações da construção, mas isto porque o edifício foi certificado como o de ter um valor cultural e por isso não ter que se submeter às regras da câmara. Mas isto não ficou concluído sem que o casal Milà pagasse uma multa de 100.000 pesetas para legalizar a construção.

Como devem calcular tudo isto deu aso a várias discussões entre Gaudí e os donos da Casa Milà num confronto que acabou por chegar aos tribunais. Para além de ser assunto muito falado na sociedade. Como Gaudí ganhou o processo o casal teve que hipotecar a Casa Milà para pagar 105.000 pesetas ao arquitecto catalão que doou o dinheiro a um convento de freiras.

Mais impressionante ainda é que só quando Gaudí morreu, Roser Sigmon alterou toda a decoração do seu apartamento removendo as mobílias e os tectos falsos escolhidos por Gaudí, uma vez que nunca tinha gostado da decoração.

Seria de esperar que depois de tantas querelas entre o casal Milà e Gaudí incluindo ter de pagar uma multa de 100.000 pesetas, ao menos o apartamento fosse ao gosto do casal. O facto de Roser ter esperado que Gaudí morresse para o fazer mostra o nível de respeito que a sociedade tinha para com Gaudí.

Para saber mais sobre a Casa Milà e a sua história vejam o website oficial: https://www.lapedrera.com/


Próximo post: o famoso mercado La Boquería e onde comer a melhor paelha de Barcelona

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