Ilha da Madeira – Parte Nordeste

O nosso primeiro dia na Madeira, depois de um bom pequeno-almoço tomado no hotel Santa Cruz Village e de termos o nosso carro que fomos buscar ao aeroporto, começava imediatamente. Durante esta nossa semana na Madeira queríamos visitar a ilha toda e por hoje concentraríamo-nos na parte mais a Nordeste. Começámos na Ponta de São Lourenço, pois não há viagem à Madeira que não incluía este local. A maior parte do caminho até à Ponta de São Lourenço é feito pela via rápida – VR1 – e se partirem do Funchal fica a cerca de 40 minutos de caminho. Nós estando já no aeroporto estávamos mais perto.

Estacionamento há pouco ou melhor há pouco estacionamento nas áreas designadas para tal, depois podem seguir o exemplo de todos os outros que tal como nós estacionaram à beira da estrada. E assim começámos o nosso primeiro trilho PR8 – Vereda da Ponta de São Lourenço. São 3 Km para cada lado, 6Km no total. Este é um trilho com paisagens fantástica do mar e rocha. O trilho é relativamente fácil, apesar de ter subidas e descidas, e ser oficialmente considerado com ‘Moderado’ em termos de dificuldade. A Ponta de São Lourenço é considerado como Reserva Natural da Madeira e alberga uma flora rara e fauna diversificada.

Uma coisa que talvez tivesse já mencionado no último post quando falei de quais foram os preparativos para esta viagem é a preparação para os trilhos. Na Madeira, sempre que forem andar por trilhos ou visitar locais no meio da natureza levem sapatos e roupa confortáveis e falo mesmo de calções, calças de fato-de-treino, uma t-shirt e ténis. E talvez um casado leve, mas impermeável – o tempo pode mudar rapidamente e também pode cair água em várias partes do percurso. Levem sempre uma mochila com vocês com água (indispensável), snacks, protetor solar (mesmo no Inverno) e fato-de-banho/biquíni/calções porque há em cada esquina oportunidades para um mergulho. Estas 4 coisas são muito importantes dando mais ênfase à água porque durante o caminho raramente há a possibilidade de arranjar água que não seja a que levaram com vocês. Nós comprámos 2 garrafas de litro e meio no supermercado e andávamos sempre a enchê-las quanto tínhamos oportunidade.

Com este aparte digo-vos para se deslumbrarem com a visita à Ponta de São Lourenço onde muito mais pessoas estão a fazer o mesmo percurso que vocês. Durante o caminho até encontrámos um guia turístico com quem estivemos à conversa e que nos foi dando umas dicas sobre o que não perder para os nossos próximos dias na ilha. Depois de voltarmos para o carro, com um calor arrasador, pusemos o nosso GPS em funcionamento e seguimos para o Miradouro da Portela. A imagem abaixo mostra a belíssima paisagem sobre a cidade de Porto da Cruz, o mar e a natureza circundante.

E com esta paragem rápida fomos ao próximo miradouro – o Miradouro do Guindaste. Para mim este foi um dos miradouros que ficou mais marcado na memória, principalmente as secções do miradouro com chão de vidro de onde se podia olhar para o mar e rocha que ficava mesmo debaixo dos nossos pés. Mesmo sabendo que não vamos cair, fica aquele friozinho no estômago quando damos o primeiro passo. Para quem tem medo de alturas, como o caso do meu companheiro de viagem, ainda é mais difícil dar o primeiro passo. Foi talvez aqui a primeira vez que comentámos o azul do mar na ilha da Madeira, um azul turquesa intenso com águas tão límpidas que parece quase artificial.

Já em Santana o que vínhamos visitar é um dos locais mais conhecidos da Madeira – As Casas Típicas de Santana. Aquelas casas coloridas de telhado em bico são imagens muito usadas em livros, postais, etc., usadas como ícones identificativos da Madeira. Estas casas típicas fazem parte do património da Madeira, com um papel cultural como histórico muito importante para a ilha. A maior parte dos visitantes vão as Núcleo das Casas Típicas onde numa delas se vendem produtos típicos da região.

Estas casas são tipicamente feitas de madeira, um material barato e abundante na região e de colmo, este proveniente das plantações de cereais como trigo e centeio, usada para o telhado. A madeira era usada para manter a temperatura do interior das casas, enquanto o formato inclinado dos telhados permitia uma drenagem eficiente das águas da chuva, ou seja, tinha um feito de impermeabilidade. Estas casas normalmente eram divididas em dois andares, o de cima usado como sótão para o armazenamento de produtos agrícolas e o piso térreo usado como habitação.

Não havendo muito parque disponível junto às casas, estacionámos o carro numa das ruas transversais em Santana e depois fomos a pé, aproveitando também para esticar as pernas e ver um bocadinho da cidade. Nós antes ainda tínhamos ido ao supermercado Continente para umas compras de última hora e há uma destas casinhas típicas mesmo no jardim em frente do supermercado. Fica aqui a dica se quiserem tirar uma fotografias num ambiente com menos densidade populacional à volta.

Sendo isto 3 horas da tarde ainda tínhamos tempo para as nossas primeiras levadas. Eu já explico o que são levadas. Menciono apenas que pelo caminho e aqui à volta de Santana existem imensos miradouros, todos eles com vistas espetaculares, mas o que vocês vão descobrir é que toda a ilha da Madeira é um constante miradouro. Como acabam por andar sempre a subir e a descer montanhas podem parar o carro onde vos bem entender, tendo em conta que não é proibido parar naquele sítio, e conseguem ter uma vista tremenda à vossa frente.

Agora as levadas…o que são?

A maneira mais fácil de explicar é a seguinte: um canal de transporte de água que segue junto a um percurso pedestre. E esta á a definição mais fácil de perceber. As levadas foram construídas a partir do século XV devido à necessidade de transporte de grandes quantidades de águas desde as zonas onde a água da chuva e fontes naturais eram mais abundantes (zona Norte da ilha) para onde a água era mais escassa (zona Sul). A água era assim ‘levada’ para zonas de plantação e poços. As levadas e os seus trilhos são atualmente pontos muito procurados para passear e entrar em contacto direto com a natureza. Lembram-se quando no post anterior disse que a Madeira pode criar alguma ansiedade a pessoas que têm medo de alturas e a pessoas que têm medo de sítios fechados? É porque é bastante comum que em certas partes dos trilhos o caminho se torne muito estreito e onde um dos lados do caminho desça a pique. Para além disso, alguns destes trilhos passam por dentro de túneis, sendo necessário o uso de lanternas. E atenção, há túneis onde espaço não é assim muito vasto.

Mas quem adora adrenalina – fantástico. Para pessoas com medo de alturas – traumatizante. E não pensem que não é sem razão, já que existem vários acidentes e mortes em algumas destas levadas TODOS OS ANOS. A levada que fizemos no dia de hoje era uma das mais fáceis, o caminho era a direito e bastante fácil de percorrer, mas a que fizemos no dia a seguir é uma daquelas onde mais pessoas escorregaram para a morte. Mas disto falarei mais quando chegar a altura. O que conselho que dou é simples – vão, mas vão com cuidado e respeito pela natureza.

Voltando ao nosso itinerário específico para o de hoje – estacionámos à frente do restaurante Ribeiro Frio no Parque Natural de Ribeiro Frio que fica em – não adivinham – Ribeiro Frio. Antes de seguirmos viagem fomos à nossa primeira poncha da viagem – sim houve várias! A poncha, se não souberem, é uma das bebidas mais conhecidas da Madeira feita com aguardante de cana-de-açúcar, açúcar ou mel e limão ou laranja ou ambas. Mas há algumas variações – a poncha do Pescador por exemplo é a poncha com limão, a poncha regional é normalmente com laranja, a poncha de maracujá é como o nome indica com maracujá e a poncha de tangerina. Estas são as mais tradicionais, mas há locais que vão mais longe e já fogem à tradição como a poncha de frutos vermelhos e de morangos. Não se enganem no entanto – a poncha é bastante forte e bastou-nos uma para irmos mais quente mas o PR 11 Vereda dos Balcões.

Como disse acima este trilho é de nível fácil com uma distância de 1,5Km para cada lado (3Km no total). O trilho culmina no Miradouro dos Balcões com uma vista magnífica. Este miradouro é um ótimo local para observação de aves, e há vários passaritos bastantes amigáveis, especialmente se tiverem comida à mão. Imagino que quem seja entendido no assunto esta neste momento a ranger os dentes com o termo ‘passaritos’- vá o bis-bis, mas também há o papinho e o melro-preto e o pombo-trocaz.

Chegava a altura de voltar para o hotel e encontrarmos um sítio para jantar. Para primeiro dia queríamos uma coisa local e foi por isso que fomos jantar à Taberna do Petisco. Foi aqui que comemos o nosso primeiro bolo do caco – sim também houve muitos desses durante a nossa estadia na Madeira e apesar de alguém me ter dito que era pão de alho e que não sabia o que tinha de especial (eye roll), eu fiquei logo ali completamente perdida de amores por este pão. Tal como o nome indica, este restaurante é mais de petiscos e escolhemos o prato de polvo e de camarão. Ambos muito bons, mas talvez tenha gostado mais do de camarão.

Outra descoberta foi a cerveja/cidra tradicional da Madeira da marca Coral. E provavelmente verão muitas fotografias destas bebidas no curso destes posts sobre a Madeira. Posso-vos já dizer que se come muito bem na Madeira.

Para ajudar com a digestão fomos dar uma volta pela costa, junto ao mar, e acabámos a noite num café de família na praça de Santa Cruz, o Prego.

Um primeiro dia cheio de promessas desta ilha que seria a nossa casa por uma semana inesquecível.

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