Nápoles, Pompeia e ilha de Capri

Se querem apenas ler apenas a parte sobre Pompeia cliquem aqui, se querem só ler sobre ilha de Capri então aqui.

Hoje vamos falar de Nápoles – que cidade! que vibe! que gente! que atmosfera!

Nápoles será para sempre uma das cidades que nos marcou, chocou no início mas com tempo passou a ser vista com outros olhos e com um enorme respeito. Talvez tenha sido das muitas explicações sobre as origens e a cultura da cidade que fomos ouvindo durante os dias que aqui estivemos, mas se foi então conseguiram o seu propósito, o de explicar e fazer da confusão aceitação daquilo que é hoje a cidade de Nápoles.

A nossa visita a Nápoles foi meia que desfasada, visitámos a cidade depois de virmos do Monte Vesúvio já à tarde e no dia seguinte enquanto esperávamos para saber se o ferry partia ou não para a ilha de Capri. Depois de voltarmos de Capri foi acabar o dia em Nápoles e aproveitar uma parte do dia seguinte, o último, antes do nosso voo para visitar o restante. Acho que conseguimos ver os pontos principais mesmo que no final pareça que tenhamos visitado a cidade só de passagem.


1º Dia em Nápoles

B&B FreBI’s Home e primeiras impressões

Apanhámos o comboio para Nápoles (estação Napoli Centrale) de Pompeia e chegámos no início da tarde à cidade. Primeiro quisemos ir meter a tralha que trazíamos às costas no local onde tínhamos marcado a nossa primeira noite, o B&B FReBI’s Home. Enquanto andávamos em direcção à morada pretendida, Via Casanova, tivemos as primeiras impressões da cidade. E foi do tipo, ‘Mas onde é que viemos parar?!’. As ruas cheias de lixo, os prédios com mais aspecto de estarem prontos para a demolição do que parar albergar alguém e a confusão de trânsito, foi o choque total. Estávamos mesmo em Nápoles? O que se tinha ali passado? Tinha a cidade acabado de sair de uma guerra?

Aparentemente esta zona à volta da estação Napoli Centrale é uma das zonas menos seguras da cidade e onde a pobreza é mais evidente. E sim estas foram as nossas primeiras impressões, mas não melhoraram muito quando chegámos ao prédio do B&B. Subimos as escadas até ao último andar, um prédio a precisar de sérias remodelações. O proprietário tinha mandado já instruções por mail de como abrir a caixa-cofre onde estavam as chaves tanto para abrir a porta do prédio como a do apartamento. Encontraríamos a chave do quarto na porta deste. Já conhecíamos este tipo de sistema em que as chaves são colocadas num ‘cofre’ que fica na parede ao lado da porta do apartamento e o código é mudado ou todos os dias ou com regularidade suficiente para que os antigos hóspedes não possam reentrar no apartamento. O apartamento tinha sido renovado e o nosso quarto era de tamanho razoável, limpo e com as condições necessárias. Não reflectia de todo as instalações do prédio. Mal posámos as nossas malas fomos para o coração da cidade. Ainda não tínhamos saído da Via Casanova e já tínhamos reparado no barulho…em cada segundo havia pelos três a quatro buzinadelas das várias scootters, carros e carrinhas. Os condutores naquela cidade nunca devem ter as duas mãos no volante, mas NUNCA. Imagino na aula de condução em Nápoles o instrutor a dizer ‘colocas uma mão no volante e outra em cima da buzina e vais carregando a cada 5 segundos’. E isto acontece em qualquer ponto da cidade. É um barulho contínuo. E nas ruas estreitas da parte histórica por exemplo na Via dei Tribunali aprende-se a ser assertivo…é que não interessa se uma scootter vem em direcção a ti, tens de te meter à frente, seguir e nunca parar. O erro é parar. Há ali um acordo entre scootters e pedestres em que ambos circulam ao mesmo tempo e cada um se desvia apenas o suficiente para não ir parar com o focinho ao chão.

Porta Capuana (lado direto) e igreja de Santa Caterina a Formiello (edifício frontal)

É que até para o carro da polícia apitam! Na Via Casanova o carro da polícia não estava a circular o rápido o suficiente (aparentemente) e foi uma cacofonia imediata de várias buzinas. Ficámos logo ali avisados, se apitam assim para os carros da polícia é porque ninguém está livre da ira dos condutores.

Napoli Sotterranea

O primeiro sítio que queríamos visitar chamava-se Napoli Sotterranea – ou em português, Nápoles subterrânea. Não tínhamos bilhetes pré-marcados, mas mesmo assim entrámos na tour seguinte. No entanto, acho que os bilhetes comprados com antecedência são mais baratos. Para visitar é obrigatório a presença de um guia e compreende-se pois há túneis e zonas que ainda não foram explorados e são de acesso negado ao visitante. E já se sabe se não há controlo é exactamente para aí que as pessoas se vão meter. Não é uma crítica, simplesmente uma característica inerente ao ser humano.

Adorei a tour, no início estava com algum receio pois há uma parte da visita em que o túnel estreita bastante e é necessário primeiro agachar e depois andar de lado (tipo egípcio). Também é preciso lanterna, o que actualmente qualquer telemóvel tem. Mas mesmo sendo claustrofóbica não foi assim muito mau, a parte agachada é por uma questão de segundos e mesmo tendo de andar de lado o tecto é imensamente alto e isso ajuda imenso.

Este foi um dos pontos altos da viagem, o nosso guia era estudante de arqueologia e começou por explicar a origem daqueles túneis, como antes se encontrava ali lençóis de água e para aceder à água tinham-se aberto vários poços à superfície da cidade. Também explicou os problemas de saneamento numa altura em a água foi contaminada por fezes. Também que houve homens que vinham limpar os túneis e aproveitavam para assaltar as casas privadas entrando através destes tais poços. Que ainda hoje há casas na cidade que são de difícil venda porque se dizem ‘assombradas’ devido às visitas destes homens a quem as pessoas davam à sua presença um significado sobrenatural uma vez que desapareciam de repente (através dos poços). Incrível como a fama se prolongou ao longo do tempo. Também nos foi explicado que aqueles túneis, quando já sem água, se tornaram numa lixeira. No entanto, na segunda guerra mundial para servirem de bunkers todo o lixo foi removido. Há muito mais que é explicado durante a tour e foi aqui que entrámos chocados com o que tínhamos visto de Nápoles e saímos com um novo respeito pela cidade. Basicamente a cidade foi sendo construída por cima da cidade que antes ali se encontrava. As casas de hoje estão em cima de ruínas da cidade romana e da cidade que foi construída depois da cidade romana. A tour também inclui visita a uma casa onde a actual cave era antigamente parte de um teatro romano. Compra-se uma casa e ganha-se 3! Ou pelo menos ruínas de 2 e talvez um fantasma.

Símbolo do papel que túneis tiveram na segunda guerra mundial

Achámos isto incrível e não quero deixar de reforçar que a nossa ideia sobre a cidade mudou imenso. Aconselho mesmo a não perderem esta tour.

Duomo di Napoli

Em seguida fomos à catedral (Duomo di Napoli) e é uma das igrejas mais bonitas que já tive o prazer de visitar. Os frescos são espetaculares – as fotografias não lhe fazem justiça. A construção deste edifício sagrado iniciou-se no século XIII e hoje tem o nome oficial de catedral metropolitana de Santa Maria Assunta.

Esta catedral tem três naves com duas capelas laterais, a basílica di Santa Restitua e a Capella di San Gennaro. A entrada é gratuita, sendo apenas paga a entrada para o museu do tesouro de San Gennaro. Também é possível visitar a cripta onde no tecto se encontram trabalhados incríveis.

Comida e bebida tradicional

Depois destes dois fantásticos locais fomos ao Aperol Spritz, uma bebida muito apreciada em Itália e em Nápoles os preços eram mais apetecíveis como por exemplo 2 a 2,5 euros o copo. Um pouco por toda a parte da cidade encontram esta bebida.

Para continuar na prova da cozinha italiana quisemos experimentar um dos bolos mais conhecidos, a sfogliatella. Antes de irmos jantar quisemos ir ainda ao hotel e passámos por uma pastelaria que nos chamou a atenção chamada de Sorella (Antica Pasticceria Sorella dal 1920), onde escolhemos uma sfogliatella de pistacchio e ainda um bolo de tiramisu. De caixa na mão fomos para o quarto. Podíamos ter ficado na pastelaria, mas quisemos carregar os telemóveis e encontrar um local para jantar. Gostei bastante da sfogliatella com a sua casquinha crocante, mas mais ainda do bolo tiramisu.

Para jantar fomos outra vez para o centro histórico de Nápoles. Depois de um grande debate, decidimos experimentar um dos restaurantes mais conhecidos da cidade, o Gino Sorbillo. E era essa a intenção, mas afinal acabámos num restaurante com o mesmo nome ‘Sorbillo’ mas Antonio Sorbillo. É ‘engraçado’ como escolheram o mesmo nome da pizzaria mais conhecida da zona. É que a verdadeira pizzaria Sorbillo fica na mesma rua a cerca de 30 metros. A verdade é que devido a esta confusão com o nome há uma mistura de reviews referindo-se a um restaurante quando na verdade se queriam referir ao outro. E eu não experimentei a pizza da verdadeira ‘Sorbillo’ por isso não posso falar da qualidade, mas da pizzeria que experimentámos a pizza não era nada de especial. Na verdade, enquanto a pizza ia arrefecendo mais a massa da pizza ficava elástica, uma das críticas mais comuns às pizzas deste restaurante. Não sendo um verdadeiro fracasso, não foi a experiência que esperávamos, a da verdadeira pizza napolitana. Até na ilha de Capri a pizza que comemos foi melhor. Apesar de muitos comentarem sobre o mau atendimento, nós não tivemos essa experiência e o restaurante em si é bastante agradável, não fosse a mesa de miúdos aos gritos mesmo ao nosso lado. Concluindo, não digo para não virem, assim não terão a fila de uma hora à espera de mesa como no Gino Sorbillo, mas não esperem de ficarem maravilhados com a comida.

Para ajudar a digestão fomos dar uma volta pela cidade até à Piazza Dante e pelas outras ruas do centro histórico até ser hora de voltarmos para o nosso quarto.

Piazza Dante

2º Dia em Nápoles

No dia seguinte fomos tomar o pequeno-almoço cedo para apanhar o ferry para Capri (o que aconteceu muito mais tarde do que esperávamos – ver secção sobre Capri) mas também não dava para dormir. Sendo o quarto virado para a Via Casanova o barulho era tremendo. Toda a noite os carros e scooters não pararam de apitar. Não faço ideia como as pessoas vivem ali, ou furam os tímpanos de desespero ou usam uns super tampões. É impossível aquela lengalenga do ‘depois de um tempo já nem noto’ porque o barulho é constante e verdadeiramente maçador. O pequeno-almoço não foi mau, havia umas sandes de fiambre e de salame com maionese, que apesar de não soar apetecível para pequeno-almoço atingiu o ponto. Com um croissant de chocolate para adicionar extra energia estava na hora de abalarmos.

Pequeno-almoço no B&B FReBI’s Home

Faço aqui um aviso que agora é bastante comum em todas as acomodações dentro das cidades cobrar ‘taxa da cidade’ ou ‘city tax’. Quando marcarem os vossos locais para dormir, seja em que plataforma for confirmem se o valor que estão a pagar inclui o tal city tax ou se têm de pagar na altura em que estiverem hospedados. Nós tivemos de pagar em Pompeia e em Nápoles. E também tivemos que pagar em Milão quando fomos em janeiro e agora em Veneza que está previsto para finais do próximo janeiro. Em alguns locais aceitam pagamento com cartão, mas outros como em Pompeia, apenas aceitam dinheiro.


Castel Nuovo e Castel dell’Ovo

Saímos então do B&B e pusemo-nos a andar pela cidade desde a Via Casanova até ao porto. Foram cerca de 45 minutos a andar bem, mas deu para conhecer outras zonas da cidade como por exemplo o monumento Vittorio Emanuele II e o Palazzo dell’Immacolatella. Depois de nos dizerem que o ferry das 9 estava cancelado e para voltar a verificar mais tarde, por volta das 11 e meia, decidimos explorar a zona de Nápoles agora junto da costa. Começámos pelo castelo mais perto, o Castel Nuovo que naquele dia se encontrava fechado. Tirámos as fotografias ao seu imponente exterior e seguimos pelo jardim ‘Giardini del Molosiglio‘, onde se têm uma bonita vista da costa napolitana. Continuando pela costa fomos até ao Castel dell’Ovo, mas estava tanto vento que os pingos vindos das ondas do mar chegavam até nós. Este castelo também se encontrava encerrado para visitas. O porquê de estes castelos estarem encerrados não soubemos na altura, mas também não tínhamos muito tempo para entrar e os explorar como deve ser. Mas aconselho o passeio pela costa independentemente se acabarem ou não por visitar algum dos castelos, ou outros edifícios como o palácio real ou o teatro de São Carlos.

Deixo aqui apenas com uma breve descrição de ambos os castelos começando pelo Castel Nuovo, o castelo da cidade, construído entre 1279 e 1282. Foi inicialmente habitado por Carlos II de Nápoles, sofrendo mais tarde vários danos na altura da invasão húngara em 1347 e francesa em 1494. O Castel dell’Ovo é mais antigo do que o Castel Nuovo, tendo este sido construído em 1128. Este edifício teve vários papéis como o defensivo, prisional e residencial para a família real. A visita é gratuita, apesar de o termos encontrado encerrado (de momento encontra-se temporariamente encerrado para renovações) mas é impossível perdê-lo, um castelo a entrar pelo mar dentro.

Castel dell’Ovo

Museo Capella Sansevero e Chiesa del Gesù Nuovo

Um dos locais que quisemos visitar mas que no final não conseguimos foi o Museo Capella Sansevero, conhecido por uma estátua em particular, o ‘Cristo Velato‘ (Cristo Velado). Não o conseguimos visitar por ser um dos locais mais procurados de Nápoles e os bilhetes no dia em que o quisemos visitar tinham já esgotado. A estátua em mármore em tamanho real (humano) representa Jesus Cristo morto coberto por uma mortalha transparente feita do mesmo bloco do da estátua. Neste museu e capela existe muito mais para ver como por exemplo as esculturas das dez Virtudes. O bilhete de entrada para o museu custa 10 euros e podem-no adquirir através do site oficial: https://www.museosansevero.it/. É evidente que a compra atempada destes é aconselhada.

Como não conseguimos visitar o museu fomos explorar as ruas ali à volta, acabando por entrar na Chiesa del Gesù Nuovo (igreja do Novo Jesus). A visita é gratuita e é uma das igrejas mais importantes da cidade sendo talvez a mais bonita.

No século XV foi construído ali um edifício que funcionou como palácio. Este tornou-se famoso pela sua beleza interior devido aos variados e fantásticos frescos. Este palácio tornou-se um grande exemplo do Renascimento Napolitano e do Barroco. A igreja sofreu várias alterações durante o tempo e foi completamente reconstruída no século XVI. Durante a segunda guerra mundial, esta igreja sofreu danos severos quando uma das bombas atravessou o tecto sem detonar. A bomba ainda hoje se encontra na igreja. A última grande obra de restauração aconteceu em 1975 e é hoje um dos locais muitos procurados por visitantes e cristãos.

Agora nós cheios de fome e ainda a querer colocar as malas no quarto antes de ir jantar decidimos que estava mais do que na altura de comer qualquer coisa. E foi assim que experimentámos mais uma das delícias da comida Napolitana, também esta considerada como ‘comida de rua‘ (street food) – a pizza portaflogio, uma pizza margherita dobrada. Estas pizzas são vendidas por toda a cidade e é uma opção brilhante para quem quer algo rápido e continuar a seguir caminho. Com a fome com que estávamos soube-nos pela vida.

Pizza portafoglio

B&B Tecla

A nossa última noite foi passada no B&B Tecla. Como o tínhamos reservado pelo trip.com tal como em Capri, tivemos de contactar o dono para nos abrir a porta. Aconselho mais uma vez a fazerem-no com antecedência e não apenas quando chegam à porta para entrar, como nós. Felizmente os donos encontravam-se nas redondezas e a espera demorou menos de 10 minutos. Este é um bom local para quem é fanático por histórias de terror e quer vivê-las na vida real, porque o edifício era mesmo um cenário ideal para filmes com fantasmas. Nós ainda hoje pensamos que o local era antes um mosteiro ou uma cavalaria ou um outro qualquer edifício de grandes dimensões transformado em apartamentos, mas deixando a estrutura original. A única coisa que se destacava era o elevador que tinha um ar bastante mais moderno do que as grandes e altas portas de madeira carunchosa.

Vista do quarto laranja no B&B Tecla
Vista do quarto laranja no B&B Tecla

Talvez tenha sido o local para dormir mais fracote de toda a viagem, especialmente depois de andarmos durante a noite à luta com uma melga, mas pelo lado positivo o quarto tinha uma bonita paisagem para a Basilica dello Spirito Santo e para a colina onde a cidade se estendia até às catacumbas de San Gennaro. Mas atenção não estou a dizer que o B&B Tecla não é um local que não deva ser considerado, afinal a cama era enorme e o quarto estava limpo e agradavelmente decorado. É deveras um local com as suas peculiaridades.

Mais comida tradicional

Sendo a nossa última noite em Nápoles tínhamos que escolher da nossa longa lista de comidas o que queríamos ainda experimentar. Uma das coisas que não queríamos perder eram os cones – ‘cuoppo’. Talvez os mais conhecidos são os de peixe (di mare) que incluem camarão, lulas, mexilhão e anchovas. Também há o cuoppo di terra com croquetes, arroz, curgete. E depois existem várias variações. Tudo isto é frito, por isso não esperem uma coisa leve para o coração. Nós comemos o cuoppo di mare na Pizzeria e Friggitoria Del Purgatorio. E gostámos bastante, eu apesar de estar um bocado receosa dos peixinhos, acabei por gostar imenso. E um cuoppo deu bem para os dois, já que isto não era o jantar apenas a entrada. E aproveito para mostrar na imagem abaixo a característica oferta da comida de rua em Nápoles que inclui pizza frita (que experimentámos em Pompeia), frittata (que nunca chegámos a experimentar) e a pizza portafoglio.

Para jantar fomos ao restaurante Tandem para comer o famoso ragù napolitano, que na sua essência é carne com um molho de base de tomate muito saboroso. Nós pedimos a sandes de ragù chamada de Cuzetiello mas o pão era um bocadinho rijo demais, por isso aconselho a provarem o ragù mas com massa ou gnocchi. No entanto, não deixem de provar o ragù. Existem vários restaurantes da cadeia Tandem espalhados pela cidade de Nápoles, basta encontrarem o mais perto. Nós não tínhamos feito reserva mas sendo uma segunda-feira à noite o restaurante não estava movimentado e rapidamente arranjámos mesa.

Para acabar a noite fomos a um dos bares com a melhor selecção de bebidas da cidade, OAK Napoli Vino e Birra Artigianale. O bar é bastante pequeno mas ainda assim encontrámos dois bancos num dos balcões e uma lista imensa de bebidas. Pareceu-nos um lugar bastante popular e um bom local para passar ali um bocado.

Durante a noite tivemos uma luta à procura de uma melga mas sem barulho constante das buzinas o que foi um plus depois da nossa última noite em Nápoles na Via Casanova. De manhã tomámos um pequeno-almoço leve no B&B e partimos para as nossas últimas horas em Nápoles. Havia dois sítios que queríamos visitar, duas catacumbas, e descobrimos depois que na compra do bilhete para uma delas se pode visitar a outra sem valor acrescido. Esta oferta ou promoção tem uma validade de um ano se não conseguirem visitar os dois locais no mesmo dia. Começámos pelas catacumbas di San Gaudioso. Estas encontram-se no Quarteirão Stella, que há cerca de 10 anos era uma das zonas mais perigosas da cidade e um grande foco da máfia italiana, a Camorra. Isto mesmo nos foi explicado durante a tour. Sim, porque para visitar tanto umas catacumbas como as outras, é obrigatório participar numa tour com guia. Ambas as catacumbas são propriedade do Vaticano e portanto não é permitido filmar.


Catacumbas de San Gaudioso

Primeiro talvez é importante saber quem foi San Gaudioso?

San Gaudioso, também conhecido como o Africano, foi bispo de Abitina na Tunísia, tendo chegado a Nápoles depois de ser expelido do seu país. Em Nápoles, San Gaudioso contruiu o mosteiro de Caponapoli, introduziu a Regra de Santo Agostinho no mosteiro, instruções escritas sobre a vida monástica desde o século V até aos dias de hoje, e foi também o responsável por transferir parte das relíquias de Santa Restituta para Nápoles, que hoje se encontram na catedral da cidade. Apesar de não ser certo, pensa-se que San Gaudioso morreu entre 451 e 453 DC sendo sepultado no cemitério que ficava fora das muralhas da cidade. A sua sepultura tornou-se rapidamente local de devoação.

Posteriormente, as catacumbas tiveram de ser ampliadas e são hoje as segundas maiores de Nápoles. Durante o século XVII neste local encontravam-se principalmente sepulturas de aristocratas e clero. Envolvido nas sepulturas havia primeiro um processo de drenagem – os cadáveres eram furados e colocados em nichos para que perdessem os fluidos. Ainda hoje se podem ver os frescos das sepulturas pintados por Giovanni Balducci, um artista que se recusou a ser pago e por sua vez pediu para ser enterrado nestas catacumbas. O fresco que mais me marcou foi o da morte com os vários elementos em cada canto inferior. O seu significado: ‘ a morte está acima do poder, da coroa, do conhecimento e do tempo’.

No final da visita, tivemos o prazer de visitar ‘Il Presepe Favoloso’ – o presépio fabuloso – acreditem que só esta peça artística vale a pena a visita. Cada vez que olham para o presépio encontram mais um pormenor super interessante, naquele que é uma peça cultural da vida quotidiana combinado com um dos mais importantes eventos católicos, o nascimento de Jesus.

Catacumbas di San Gennaro

Sobre as origens de San Gennaro há algumas incertezas, mas pensa-se que nasceu por volta de 272 DC e que foi bispo de Benevento. San Gennaro foi preso durante o século IV por professar a fé cristã e foi morto por decapitação em 305 DC. O sangue de San Gennaro foi preservado em dois frascos.

E sabem que mais? Este sangue ainda hoje tem um grande impacto. Pois de acordo com a tradição em determinadas datas, 19 de setembro, 16 de dezembro e o primeiro sábado de maio, o santo faz um milagre, o seu sangue transforma-se em líquido. De acordo com a tradição, se o sangue não se liquefizer um desastre iminente vai acontecer. Se liquefizer, o dito ‘milagre’, então há um bom presságio. Verdade ou talvez não, mas as últimas vezes que não se liquefez foi em 1939 e 1940 que coincidiu com o início da segunda guerra mundial e novamente em setembro de 1943 altura em que Itália foi invadida pelos nazis. Também em 1980 quando Irpinia, localizada a 50Km de Nápoles foi atingida por um terramoto devastador. Última vez em 2020, um aviso mais ou menos atrasado do COVID? Como disse o guia, muitos sabem que não é real, ou pelo menos há várias dúvidas sobre a sua veracidade, mas faz parte da cultura naquela parte do mundo e isso tem que se respeitado, acreditemos nós ou não.

As catacumbas de San Gennaro tem dois pisos, o núcleo original remonta ao século II DC. Provavelmente começou por ser o túmulo de uma família nobre, que cedeu espaço à comunidade cristã, para também ali serem sepultados. Esta catacumba segue uma estrutura reticulada. Também aqui existe uma pia batismal encomendada pelo bispo Paulo II que se refugiou nestas catacumbas e realizou eventos cristãos como o baptismo neste mesmo local, quando tais actos eram proibidos. O piso superior, o local de sepultamento dos bispos, iniciou-se no século V quando os restos mortais de San Gennaro foram movidos para estas catacumbas. Devido aos seus restos mortais a catacumba superior tornou-se um local de peregrinação.

Estas duas tours são indispensáveis e estão apenas disponíveis devido ao grande esforço que têm havido nos últimos anos em transformar aquela zona da cidade numa zona mais segura, turística e assim melhorar a vida dos moradores que viviam, e certamente muitos ainda vivem sobre os domínios da Camorra. Em ambas as tours os guias mencionam, claro como parte do script, que são os turistas como nós que ajudam a melhorar aquela zona, ao participarmos naquelas tours, contribuímos para que os jovens que nasceram ali e que ali querem ficar o possam fazer, como por exemplo o aumento do turismo levou à possibilidade de terem contractos de trabalho permanente, expandir a equipa, etc. Penso que foi a primeira vez que ouvi falar do impacto positivo que o turismo pode ter, pois o negativo é imensas vezes discutido. E por isso faço aqui um apelo, se forem a Nápoles, não percam a oportunidade de visitar estas duas catacumbas, não só pela sociedade mas também porque são fascinantes, mostrando que as cidades romanas e gregas afastadas por milénios espreitam em vários pontos na cidade actual.

Depois de estas duas fantásticas visitas era altura de irmos para o aeroporto de Nápoles, e decidimos apanhar o autocarro. Confesso que não cheguei a perceber muito bem como funciona o sistema de autocarros na cidade. Mas chegámos ao aeroporto depois de uma viagem bem apertada. Já no aeroporto comprámos umas sandes com burrata e foi uma das melhores coisas que comemos na viagem. Vale tudo até ao momento da partida!


A voar em cima dos Alpes

Quem tenta fugir das multidões de turistas que assola todos os bocadinhos do planeta durante os meses de Verão, escolhe as suas férias para os meses menos procurados. São aqueles turistas que não têm filhos, não têm paciência para multidões e que preferem preços que não requeiram um rim para pagar os valores exorbitantes que só o Verão proporciona. Para nós os meses em alta, relativamente a viagens, costuma ser de novembro até inícios de junho, mas com grande foco entre novembro e fevereiro. Isto porque há aniversários e ocasiões especiais que pedem uma escapadinha para fora do país. Mas viajar nos meses mais propícios a chuva e frio leva sempre a grandes percalços. Quando acontecem o que é preciso é ter alguma flexibilidade e aceitar que nem sempre os planos correm como o esperado. Apesar de reconhecer que às vezes é preciso batalhar contra aquele sentimento de frustração.

Anfiteatro em Pompeia

E nesta viagem foi preciso muita luta. Mas no final foi uma boa viagem e como sempre prefiro ter ido a Itália, pela segunda vez em 2023, mesmo com precalços do que não ter ido de todo (dá para perceber o pensamento do ‘copo meio cheio’, nāo dá?). O ponto principal pelo qual escolhemos este destino foi Pompeia. E vimos Pompeia, por isso ao menos essa parte foi conquistada. Há medida que for mencionando os vários pontos pelos quais fomos passando, vou explicando os preparativos antes da viagem e como foi a experiência. Partimos numa sexta de manhã (bem cedo) e voltámos na terça a meio da tarde. A intenção ao chegar ao final desta viagem é o de voltar para visitar outros sítios e talvez termos oportunidade de fazermos o que não conseguimos desta vez.


Preparativos

  • Comprar os bilhetes. Em novembro não há grandes filas, mas para alturas com mais pessoas a querem também visitar Pompeia aconselha-se a comprar os bilhetes com antecedência. Comprámos os bilhetes no site oficial: http://pompeiisites.org/en/. Quando estiverem a fazê-lo o próprio website leva-vos para um outro (https://www.ticketone.it/en/artist/scavi-pompei/) onde poderão efetuar a compra. O preço do bilhete por adulto custa 22 euros. No website oficial podem verificar as horas em que abrem e em que encerram, uma vez que os horários sāo diferentes durantes os meses de Verão e os meses de Inverno.
  • Transporte. Os transportes em Itália são muito bons. E isto é algo de muito positivo deste país, para além de uma série de outras coisas claro. Tanto quando fomos ao Lago Como quando visitámos Milão, como agora do aeroporto de Nápoles para Pompeia, os transportes foram pontuais e partiam da estação com bastante frequência.

Para ir de Nápoles a Pompeia apanha-se o comboio em Napoli Centrale diretamente para Pompeia. Nós como partimos do aeroporto ainda tivemos de apanhar um autocarro para o centro de Nápoles. Podem apanhar o Alibus que são 5 euros e que sai do aeroporto a cada 15 minutos. Existem outros autocarros que talvez fiquem mais em conta, mas que param em todas as paragens e como estávamos um tanto como que apressados para podermos aproveitar Pompeia esta foi a melhor opção. Nós não tínhamos comprado os bilhetes nem de autocarro nem de comboio adiantadamente, mas podem comprar os bilhetes eletrónicos que provavelmente será mais rápido e mais cómodo. Antes de comprar tenham a certeza de que conseguem apanhar o comboio à hora que escolherem. Talvez assim, sem ter que ir às máquinas, não tenham que ouvir a mesma voz a avisar vezes sem conta sobre os potenciais roubos.

  • Acomodação: Ficámos na Maison De Luxe e não poderia recomendar mais este local. Acabou por ser o melhor sítio em que ficámos hospedados em toda a viagem! Como sempre usámos o booking.com para fazer a reserva: https://www.booking.com/hotel/it/maison-de-luxe.fr.html. A localização era ótima, fomos recebidos por uma senhora muito simpática, o quarto estava limpo e nāo se ouviu barulho durante a noite toda. Acreditem que a ‘falta de barulho’ faz muita diferença, especialmente comparando com a noite seguinte em Nápoles. O pequeno-almoço então fez-nos arregalar os olhos. A nossa mesa de pequeno-almoço dava e bem para 6 pessoas. Quando cheguei à sala pensei que essa era a mesa de onde se ia buscar a comida, mas não, afinal era a nossa mesa. Infelizmente eu de manhã não sou muito de doces, mas mesmo se fosse nunca tinha visto uma coisa assim. E ainda nos deram sacos de plásticos para levarmos a comida connosco. Nós só levámos dois bolos para o dia. Uma completa loucura de coisas boas numa mesa de pequeno-almoço!

Pompeia é uma cidade com uma atmosfera de vila, onde se guarda um grande tesouro cultural, a antiga cidade de Pompeia que foi devastada pelo vulcão do Monte Vesúvio. A antiga cidade de Pompeia faz parte do Património Cultural da Unesco e a preservação das suas estruturas permitem aos visitantes conhecer como era a vida no ano 79 Depois de Cristo (DC). Foi neste ano, no dia 24 de Agosto (não há um ditado em Portugal em que se diz que neste dia o diabo anda a solta?) que a erupção destrutiva do vulcão eliminou grande parte da vida humana na cidade de Pompeia preservando-a coberta por um manto de cinzas incandescentes. Ao contrário do que se pensa a erupção não aconteceu no vulcão Vesúvio, mas sim na montanha adjacente, o monte Somma. O vulcão Vesúvio dos dias de hoje resultou de erupções do monte Somma. Durante a erupção de 79DC que levou a terramotos, edifícios foram destruídos e a população esmagada pelos detritos vulcânicos que atingiu a cidade. Para aqueles que sobreviveram encontram um final terrível – asfixiação pelas nuvens de gases extremamente quentes que se libertaram. Foi neste manto de cinzas e pedras-pomes que a cidade permaneceu adormecida durante séculos. Conta-se que das 13.000 pessoas que viviam em Pompeia 15% a 20% morreu neste desastre.

Em 1748, um grande grupo de exploradores descobriram Pompeia debaixo da camada de cinzas e pedra-pomes. Ali encontraram uma sofisticada cidade greco-romana congelada no tempo. Villas, anfiteatro, teatros, praça central, casas, bordéis, lavandarias são apenas alguns dos muitos edifícios que foram sendo descobertos. E dentro destes edifícios encontraram os moldes feitos em cinzas agora endurecidas dos corpos humanos. A matéria biológica tinha desaparecido tendo sido ocupada pelas cinzas que mantiveram as formas dos corpos. O que é ainda mais incrível é que depois de tantos anos ainda exista 1/3 da cidade que não foi explorado. Para além do desejo de explorar mais, há uma prioridade que se sobrepõe, a necessidade de preservar o que já foi encontrado. Ainda em 2023 foram encontrados dois corpos de dois homens. Os restos mortais revelaram que estes dois homens não morreram asfixiados pelas cinzas, mas sim esmagados durante a destruição de edifícios.

Conseguem imaginar os segredos enterrados naquele 1/3 de cidade ainda não explorado? Quanto a isso só podemos esperar. E enquanto se espera nada como aproveitar para visitar as secções abertas ao público. E não é assim tão pouco como isso, mesmo depois de um dia a explorar chega-se ao fim sem se ter conseguido visitar todos os recantos e sem se ter visto todas as curiosidades.

Agora da minha experiência pessoal – o que encontrei foi diferente do que esperava? – Sim, em alguns aspetos, por exemplo pensava que tinham mantido os corpos dentro das casas onde estes foram encontrados. Mas é claro que não é preciso pensar muito que num local onde famílias percorrem com crianças aquelas ruas e pessoas mais suscetíveis a explorar Pompeia é preciso sensibilidade para não chocar, para a todos dar uma experiência única sem traumatizar. No entanto não se enganem, se procurarem irão encontrar aqueles que ficaram paralisados durante séculos por um vulcão que a população em 79DC nem sabia que existia até a destruição se abater sobre a cidade de Pompeia.

Algumas curiosidades extra:

  • Antes da erupção de 79DC, o vulcão não tinha entrado em atividade havia cerca de 1800 anos e por isso a população não sabia que estava a viver perto de um vulcão
  • Os corpos que se encontram em Pompeia não são mesmo corpos, mas sim moldes de gesso. Durante as escavações em 1860 aperceberam-se que os espaços vazios que continham os restos humanos eram as formas dos corpos. Para as preservar foi injetado gesso de forma a preencher os espaços vazios e assim preservar a forma dos corpos no momento da sua morte.
  • Outra cidade, esta mais pequena, que também foi devastada pela mesma erupção foi Herculaneum. Eu não tive oportunidade de a visitar, mas apesar de ser mais pequena, o seu estado de preservação é ainda mais notável do que em Pompeia. Uma sugestão para a vossa e para a minha próxima viagem ao Monte Vesúvio.

Nós decidimos ficar uma noite em Pompeia tanto porque achámos que voltar para Nápoles ia ser cansativo e porque queríamos visitar o Monte Vesúvio no dia seguinte. Mas é possível fazê-lo. A viagem de comboio entre Pompeia e Nápoles dura cerca de meia hora. Não aconselho é a tentarem fazer o Vesúvio e Pompeia no mesmo dia, vão ficar de rastos.


Agora em relação à comida! Para almoçar queríamos uma coisa rápida e Nápoles é conhecida pela sua tradicional comida de rua (street food). Como podem imaginar eu tinha uma grande lista de comidas que queria experimentar – e, apesar de não ter dado para tudo, começámos o almoço com uma pizza frita. Aviso já que a comida de Nápoles não é para um coração fraco. Mas anda-se muito, por isso quase que um contrabalança o outro. A comida é deliciosa e mesmo o que soa menos bom é delicioso como acabou por ser a pizza frita num estabelecimento mesmo em frente de uma das entradas para a antiga cidade de Pompeia, ‘Pizzeria da zio Carmine di fagà Adolfo e Paolo‘. Itália consegue o subtil sucesso que é a pizza frita o que não foi bem-sucedido durante a nossa estadia na Escócia cuja experiência não consistiu só em pizza (congelada) frita, mas também em Mars frito. Não se pode comparar experiências. A Escócia que se deixe estar com o seu black pudding e haggis. Para acabar fomos provar um gelado à pastelaria De Vivo, mas ficámos meio desapontados. Apesar do bom aspeto os gelados não eram nada de especial, aliás um dos gelados nem sequer muito sabor tinha. Uma pena, pois a expectative era enorme.

Depois de passearmos um pouco pela cidade, passando pela praça principal onde se encontra o Santuário de Nossa Senhora do Rosário e de uma paragem no nosso quarto, escolhemos o local para jantar e um bar para descontrair. Acabámos por ir ao bar antes e depois do jantar. Fomos ao Pub27, um bar com bom ambiente e uma boa coleção de bebidas, especialmente de cervejas. No dia em que fomos era o aniversário do bar e por isso havia promoções especiais para celebrar a data. É que já nem se quis experimentar mais nenhum bar. E o ambiente, a música e as bebidas puxavam-nos para ficar. Bebemos uma cerveja e depois fomos jantar, já com a ideia de voltar.

Acabámos no restaurante Le Delizie Pompei via Roma 83. Esta foi uma decisão escolhida já em Pompeia pela promoção que oferecem. Dois pratos, mais dois acompanhamentos, pão e uma garrafa de água a 15 euros. Acreditem que para a comida que foi valeu bem o preço. Nós experimentámos gnocchi alla sorrentina, tagliatelle alla bolognese, parmagiana di melenzane e scaloppina al limone. No início ainda andámos a mirar os doces, mas depois desta grande refeição já não havia espaço para mais!

No final do jantar mais uma ida para o pub27. Não ficámos até muito tarde que o dia seguinte começava cedo. Era a nossa ida até ao monte Vesúvio antes de irmos para Nápoles.


Monte Vesúvio

Com um pequeno-almoço de leões ou mais de transformar gladiadores em diabéticos de uma só assentada eis que nos víamos prontos para deixar Pompeia e partir até ao monte Vesúvio. Tínhamos já o percurso feito e as horas contadas. Quando estávamos a chegar à paragem de autocarro os empregados do posto de turismo que ficava ao lado da estação disseram-nos que o topo do Monte Vesúvio estava fechado devido ao mau tempo. No início duvidámos, sim tinha chovido no dia anterior, mas não tinha sido nada de especial (a nosso ver), para além que o dia se apresentava limpo e o sol brilhava. Mas perguntámos tantas vezes que acabaram por nos convencer. Sem plano juntámo-nos a uma daquelas excursões que incluía a subida ao vulcão. A excursão parava num miradouro, num local para provar limoncello e ainda ia ao cimo do vulcão, a zona onde fica o tal posto de turismo. Custou-nos 20 euros e não penso que tenha valido a pena. Já que estava fechado mais valia termos feito uma paragem para visitar Herculaneum. Eu não achei o miradouro nada de especial, apesar de haver imensas pessoas a tirar fotografias à costa napolitana. Mas suponho que se está num miradouro mais vale tirar a fotografia. Quanto à prova de limoncello foi interessante, havia limoncello de vários sabores, o meu preferido foi o de melão. Havia limoncello de queijo mozzarella que eu detestei, mas o meu marido disse que era bom, talvez seja eu que tenha mau gosto.

O posto de turismo de onde se parte para o topo do vulcão estava mesmo fechado. Foi uma grande desilusão e ficou assim marcado uma re-visita ao vulcão (esperemos que dessa vez aberto). E esta foi a nossa primeira desilusão da viagem (sim, porque houve mais). Se também planearem vir ao topo do Monte Vesúvio lembrem-se que têm de comprar o bilhete primeiro, ainda antes de entrar no autocarro. Estes são os preparativos a ter em conta para visitar a caldeira do vulcão do Monte Vesúvio.

  • Comprar bilhetes com antecedência. No posto de turismo no topo do vulcão onde se entra para o último trecho até à caldeira não vendem bilhetes e a conexão de internet é bastante fraca. Se vierem de carro dão de caras com este problema neste ponto. Se vierem de autocarro desde Pompeia como nós, o motorista só vos deixa entrar já com bilhete. comprado Para comprar os bilhetes visitem o website oficial: https://vesuviopark.vivaticket.it/
  • Os bilhetes têm hora marcada mas podem entrar 40 minutos antes e até 100 minutos depois da hora marcada
  • O autocarro para o Vesúvio desde Pompeia é o 808 e o custo do bilhete é 3 euros. O autocarro demora cerca de 50 minutos o que têm de considerar dependendo da hora que marcaram a visita à caldeira. Se essa parte estiver encerrada, como aconteceu quando o visitámos, o autocarro não vai à paragem que fica ao lado do posto de turismo.
  • Infelizmente não sei quanto tempo se demora a subir, a descer e a tirar fotografias. Espero que tenham a sorte que nós não tivemos, mas não se pode esperar sempre bom tempo quando se viaja em Novembro. Pelo que ouvi ir no Verão também tem as suas complicações, pois o calor é bastante forte.
Durante a excursão foi nos dito que se olharmos com atenção encontraríamos a cara de um homem. Consequem vê-la?

A ilha de Capri é um daqueles locais tirados directamente de um filme, paisagens magníficas, vilas pitorescas, resorts de sonho e villas majestosas. Para muitos Capri é uma viagem de um dia, mas nós decidimos que a ilha merecia passarmos ali uma noite para a explorar um pouco mais. Nem imaginávamos o quanto esta decisão iria ter um impacto imenso naquilo que iríamos conseguir visitar! Em novembro não sendo esta época alta era esperado que o número de turistas fosse reduzido, mas se o número era de facto reduzido nem quero imaginar (nem presenciar) Capri em época alta.

Mas começando do início – como chegar a Capri e os nossos preparativos iniciais

Pode-se ‘facilmente’ chegar a Capri a partir de Nápoles, mas também a partir de Sorrento apanhando o ferry. A ilha de Capri fica a sul do Golfo de Nápoles, mesmo em frente a Sorrento. Os ferrys partem várias vezes por dia em ambas as direções. A viagem demora cerca de 50 minutos para cada lado, se partirem de Nápoles. Se partirem de Sorrento a viagem será mais rápida.

Imagem retirada de: https://en.wikipedia.org/wiki/File:Capri_and_Ischia_map-es.svg

Os nossos preparativos iniciais foram três:

  • Acomodação: Apesar da altura do ano, ou seja, mesmo em novembro a escolha não era muita ou melhor era mas não para o preço que estávamos dispostos a pagar. A ilha de Capri é composta por duas vilas principais, Capri, a que dá o nome à ilha (ou vice-versa) e a que fica mais perto do porto chamado de Marina Grande, e Anacapri que fica da outra ponta da ilha. E foi em Anacapri que decidimos ficar.E foi em Anacapri que decidimos ficar. O local escolhido foi Relais Villa Anna, e apesar de ser classificado como um estabelecimento de 3 estrelas aparenta ser melhor do que o padrão, incluindo piscina, quartos recentemente renovados num local calmo, bonito e sem barulho. Fica a mais ou menos 10 minutos a pé do centro de Anacapri. Nós marcámos através do trip.com como tínhamos cashback. Mas se também o fizerem lembrem-se antes do dia do check-in de confirmar se precisam de contactar o proprietário, porque o trip.com marca o quarto através de terceiros o que pode criar alguma confusão. Por exemplo quando chegámos e falámos com os proprietários disseram-nos que nos tinham tentado contactar, mas não tinham os nossos contactos e que até tinham contactado a Expedia. No entanto nós tínhamos feito a reserva através do trip.com e claro está que a Expedia não tinha os nossos contactos. Bem, um imbróglio, mas os proprietários foram 5 estrelas, puseram-nos à vontade e deram-nos várias indicações para restaurantes e como chegar a diversos pontos da ilha. O nosso quarto era espaçoso, limpo e o pequeno-almoço apesar de não ter sido como o de Pompeia (que também foi meios que exagerado) foi bastante bom.
  • Visita de barco à volta da ilha: Uma das atrações principais, que não se pode perder na ilha de Capri é fazer uma tour à volta da ilha para conhecer as muitas grutas escavadas na rocha, as falésias imponentes e uma gruta em especial, chamada de gruta azul. É possível visitar o interior da gruta azul, mas apenas de barco. Só se pode comprar os bilhetes à entrada e podem não escolher ir numa tour e ir ao local da gruta azul e visitar apenas esta gruta. Nós como queríamos conhecer um pouco mais, marcámos uma tour à volta da ilha. Se vierem na altura menos procurada a compra adiantada dos bilhetes não é assim tão urgente, mas se vierem por exemplo nos meses de Verão comprem os bilhetes assim que marcarem a viagem ou poderão não ter oportunidade de o fazer. Nós comprámos os nossos bilhetes através deste website: https://www.capri.com/en/l/capri-boat-tours, onde podem escolher qual das excursões mais vos agrada.
  • Bilhetes de ferry: Claro que talvez o mais importante é comprarem os bilhetes do ferry. Nada será feito se não chegarem a Capri – talvez escolher uma excursão que vá a Capri a partir de Nápoles, mas o preço talvez não seja tão apetecível. Nós escolhemos a empresa Caremar, mas há várias que fazem o percurso entre portos. Vou deixar apenas o site aqui e vou já já de seguida falar da nossa experiência e vocês decidem se também querem ou não usar esta empresa. Nós comprámos os bilhetes por aqui: https://shop.caremar.it/en/. Mais uma vez, se forem em novembro provavelmente não terão problemas em termos de bilhetes esgotados, principalmente se tiverem alguma margem de manobra relativamente a horas de partida, mas durante o Verão aconselho vivamente a irem um bocadinho mais preparados, já com bilhetes na mão.

Agora a nossa experiência em Capri

Tal como aconteceu no Monte Vesúvio, também em Capri encontrámos várias eventualidades com as quais não estávamos a contar. A primeira foi logo de manhã para apanhar o ferry em Nápoles. Uma grande tempestade era esperada para aquele dia e disseram-nos logo que não haveria NENHUM ferry a partir de Nápoles para Capri durante o dia. Tudo nos caiu, é que nem sequer tínhamos sítio para dormir naquela noite. Mas o que é preciso é ter cabeça fria. Fomos confirmar a um dos guichet e disseram-nos que ‘achavam‘ que o ferry tinha sido cancelado. Perguntámos o que podíamos fazer, disseram-nos para pedir o reembolso através do website do Caremar. Como não gostei do ‘achava‘ fomos ao local oficial onde iríamos apanhar o ferry. Ah, já agora é melhor mencionar que teve de ser um taxista a informar-nos que não era ali que se apanhava o ferry, mas na ‘Porta di Massa‘, que ficava a 5 minutos dali. Fomos então para o local correto onde havia ecrãs com os vários ferrys para os diferentes destinos. Não havia nada a confirmar que o nosso tinha sido cancelado, mas reparámos que nenhum dos ferrys tinha realmente saído do porto. Fomos ao guichet e aí é que começa a verdadeira experiência do atendimento ao cliente italiano. Atende-nos um homem sentado na cadeira com a posição de quem está antes no sofá a ver televisão. Diz-nos que está o ferry das nove da manhã (o ferry que tínhamos marcado) está cancelado, que o mar está demasiado revolto e que não sabia de mais nada. Para um reembolso contactar a empresa através do website (parece que ele não sabia que trabalhava para essa mesma empresa). Vimos então no ecrã que havia outros ferrys marcados para mais tarde, voltámos ao guichet para perguntar se podíamos voltar mais tarde e se algum dos próximos ferrys saísse se poderíamos usar os mesmos bilhetes. Desta vez atende-nos um rapaz mais novo que nos diz que com aqueles bilhetes não dava, que tinha que se pedir um reembolso, mas para ir verificando que talvez os próximos saíssem se o mar amainasse. Enquanto este rapaz nos está a dar alguma informação que se aproveite, o do lado, o primeiro que nos atendeu, começa a mandar vir com o rapaz a perguntar o que ele estava para ali a dizer. Jóia de homem.

Então até às 2 da tarde foi voltar à hora para qual estava marcado o próximo ferry e confirmar se esse partia ou não. Felizmente só havia ferry ao meio-dia e outro às 2. Enquanto esperávamos íamos visitando umas partes de Nápoles rente à costa. O do meio-dia não partiu, mas o das 2 sim. Felizes com os bilhetes da mão entrámos no ferry. Pensámos que chegaríamos antes das 4 e que ainda dava para fazer alguma coisa. Infelizmente estivemos mais de 1 hora dentro do barco antes de finalmente partir e já chegámos de noite à ilha. Mas o mar estava bravo. Em relação aos primeiros bilhetes já mandámos uns 5 e-mails e AINDA estamos à espera do reembolso. Mas pronto, sempre chegámos à ilha de Capri. E a viagem é bastante bonita, se não forem no ferry mais rápido, que esse é todo coberto, mas se forem no mais lento este tem uma parte a descoberto onde podem ir tirando fotografias à costa desde Nápoles a Sorrento. E a chegada a Capri é um sonho. Quando chegámos já estava lusco-fusco e apanhámos logo a primeira camioneta que saía para Anacapri. A paragem de autocarro fica mesmo ao lado do porto na Marina Grande.

Chegando a Anacapri fomos de seguida a pé até à Relais Villa Anna. Quando chegámos não sabíamos onde era entrada, nem vimos ninguém que nos pudesse receber, entregar as chaves do quarto, etc. E depois de um dia daqueles a paciência já não era muita. Ainda por cima o número de telefone que tínhamos na reserva não funcionava, mas se também vos acontecer verifiquem no website do Relais Villa Anna, que foi o que fiz e assim entrámos em contacto com o proprietário que nos recebeu de uma forma muito simpática. Ele tinha-nos tentado ligar pois não sabia se conseguiríamos chegar à ilha devido ao mau tempo. Aconselhou-nos dois restaurantes, Il Boccone e La Tablita, e mal nos repusemos decidimo-nos pelo ‘Il Boccone’ por ser o mais perto. Na verdade não fazia muita diferença, Anacapri é uma vila e o centro histórico é bastante pequeno. Os preços na ilha de Capri, não apenas em Anacapri, não se comparam àqueles que encontram em Nápoles ou em Pompeia. Mas o restaurante foi uma boa escolha, escolhemos pizzas e eram bastante boas. Acho que o dono do restaurante preferia que tivéssemos escolhido massas e pratos que aumentassem a conta no final, mas para o fim deste dia, as pizzas eram o que precisávamos.

Depois do jantar fomos dar uma volta por Anacapri, focando-nos mais na zona histórica. Afinal não teríamos muito tempo para vê-la durante o dia, mas senão tívessemos escolhido passar ali a noite provavelmente nunca teríamos visitado a ilha. Para além do mais tínhamos a tour de barco marcada para a manhã seguinte na Marina Grande. Mas deu para perceber que Anacapri é uma zona onde as pessoas vivem bem e onde se sente a característica vibe da bella vita italiana. Mesmo de noite gostei imenso de passar pelas ruazinhas.

No dia seguinte, depois de uma noite bem repousada, e de um bom pequeno-almoço, decidimos que para explorarmos um pouco da ilha íamos a pé de Anacapri até Marina Grande. Ainda se demora cerca de 1 hora e pouco de Anacapri mas tivemos assim oportunidade de parar em pontos panorâmicos e descer a famosa Scala Fenicia com os seus 921 degraus que até o século XIX era a única maneira de chegar a Anacapri por terra.

Já na Marina Grande entrámos no barco depois de encontrarmos a nossa excursão. Mas mais uma vez tivemos que engolir um sapo, a gruta azul estava fechada devido ao estado do mar. Apesar da tempestade do dia anterior ter passado e de o dia estar lindíssimo, o mar estava demasiado revolto para ser seguro entrar pela pequena passagem. Mesmo assim, valeu a pena a viagem pela costa, e tirámos imensas fotografias. No entanto, houve quem se sentisse mal e passasse a viagem toda a vomitar. Eu estive quase o caminho todo com um medo irracional (será que era assim tão irracional?) que a mulher largasse o saco com o vómito e este voasse pelo ar.

Como a gruta azul estava fechada a excursão acabou mais cedo e tivemos tempo para visitar a vila de Capri. Primeiro fomos até ao Giardini di Augusti, um pequeno jardim botânico com vista para o mar de entrada gratuita. Apesar de estarmos em Novembro havia várias flores e todo o ambiente era digno de um quadro.

Passámos por uma pequena banca e comprámos granita da qual tinha ouvido falar muito. Havia vários sabores, mas escolhemos a tradicional de limão e foi o que nos valeu enquanto explorávamos aquele bocadinho de ilha, pois o sol raiava com força e as lembranças da tempestade dissipavam-se a cada momento. Como ainda tínhamos tempo até o nosso ferry de volta a Nápoles fomos fazer um dos trilhos a Piazzetta delle Noci até à costa. Um trilho mergulhado nas ruas calmas da ilha. Pelo menos assim foi quando o percorremos.

No final, ficaram algumas coisas para ver daquilo que tínhamos pensado inicialmente como por exemplo as Villas Jovis e Lysis e o famoso teleférico até ao topo do Monte Solaro. Apesar de todas as inconveniências ficámos felizes por termos visitado Capri, uma ilha que na segunda metade do século XIX se tornou um popular refúgio a artistas, escritores e celebridades. Mas não foi só recentemente que Capri se tornou uma ilha procurada por muitos, também durante o Império Romano os Imperadores Augustus e Tiberius viverem neste pequeno pedaço de sonho guardado ao longe por Nápoles e Sorrento.