Bassano del Grappa

Bassano del Grappa não é uma cidade muito conhecida, mas a sua beleza é indiscritível. Bassano fica na parte noroeste de Itália, na zona de Veneto, a cerca de uma hora de comboio de Veneza, já a tocar nos pés dos Alpes. Podia-se pensar que o nome se atribuía à bebida italiana, a Grappa, que talvez em Portugal seja a aguardente a bebida mais parecida, mas na verdade o nome da cidade vem do monte Grappa que serve de sopé a Bassano.

A paisagem mais conhecida de Bassano del Grappa

Esta cidade teve um papel importante tanto na primeira como na segunda guerra mundial e se vierem a Bassano del Grappa procurem esta estátua do escultor local Severino Morlin dedicada aos alpini, as tropas de montanha pertencentes ao exército italiano. A estátua representa dois amantes a despedir-se porque ele, alpino, vai partir para a guerra.

Estátua de Severino Morlin

Nós só passámos um dia em Bassano del Grappa, apenas para conhecer a cidade, mas podem estender a vossa estadia se quiserem e visitar o monte Grappa e percorrer os muitos trilhos que partem ou passam por Bassano del Grappa. Nós não o fizemos porque tínhamos outros planos para a viagem, mas é algo que vale a pena considerar.

O aeroporto internacional Marco Polo é o aeroporto que fica mais próximo. Nós apanhámos o autocarro para Venezia Mestre (a paragem que querem é em Venezia Mestre não Venezia St Lucia, que é a paragem na ilha de Veneza) e depois o comboio para Bassano del Grappa. O bilhete de comboio ficou-nos em 6.35 euros cada um e a viagem demorou cerca de 50 minutos. Já tinha falado em outros posts sobre Itália, que os comboios são o meio de transporte mais bem organizado e confiável que encontrámos nas nossas viagens, normalmente os comboios chegam e partem dentro dos horários e as ligações para os vários pontos do país decorrem com bastante frequência durante o dia. Tal como aconteceu entre Milão e Lago Como e entre Pompeia e Nápoles, também o comboio de Venezia Mestre para Bassano del Grappa chegou e partiu a horas. Há comboios a fazer esta ligação a cada meia hora. A companhia de comboios em Itália chama-se Trenitália e podem adquirir os bilhetes através da aplicação ou comprar nas estações de comboios, o que temos feito. Não temos marcado on-line porque muitas vezes não sabemos ao certo as horas em que vamos apanhar o comboio, mas se forem mais organizados será talvez a melhor das opções, e escusam de estar a ouvir repetidamente a voz monótona das máquinas a avisar-vos que podem ser roubados e para terem atenção às vossas malas, bolsos, etc.

Nós não marcámos a acomodação com muita antecedência e por isso os preços em alguns dos locais já eram proibitivos. Mesmo em Bassano del Grappa em finais de janeiro. Marcámos a nossa noite com a Bacaria Bed & Breakfast, já fora do centro de Bassano. Mas também assim nos ‘obrigou’ a explorar mais a cidade e a não nos cingirmos apenas ao centro. Os donos da Bacaria tem um restaurante que fica mesmo em frente à acomodação, chamado de Bacaria da Dante, onde se toma o pequeno-almoço. O quarto era simples, limpo e numa zona super calma.

O pequeno-almoço do dia seguinte foi também simples, mas chegou para o que queríamos (nada vai bater o pequeno-almoço que tivemos em Pompeia). O pequeno-almoço incluiu café, chá, sumos, uma seleção de cereais e um croissant a cada um. Da minha experiência em Itália normalmente os croissants são muito doces e assim se tem logo pela manhã o chamado de sugar rush. Como agora é habitual em qualquer cidade que se visite é preciso pagar taxa da cidade (city tax). O quarto ficou-nos por volta de 90 euros, já com a tal taxa incluída. Aqui faço só o aviso que esta taxa, de valor diferente dependendo da cidade, é normalmente cobrada na altura da estadia. O conselho que tenho para vos dar é que tenham dinheiro para pagar esta taxa, pois por vezes o local não aceita pagamentos com cartão.


Chegámos a Bassano del Grappa quase às 8 da noite e por isso chegar e não chegar ao nosso quarto já eram quase 9 horas. Infelizmente na Bacaria da Dante (o restaurante) deixam de servir comida a partir das 9 e assim este local ficou fora de questão. Depois de uma pesquisa rápida de restaurantes abertos àquela hora fomos parar à Pizzeria Salernitana. E ainda bem que o fizemos…foi uma das melhores refeições da viagem, pelos preços e pela comida. Cada pizza ficou-nos a cerca de 6 euros, o que não é comparado com os preços nas cidades mais conhecidas, e as pizzas foram das melhores que já comemos em Itália.


Depois da refeição fomos explorar o centro de Bassano. O ponto mais alto, e o mais conhecido, é a Ponte Vecchio (Ponte degli Alpini) e a maravilhosa vista sobre as montanhas, o rio Brenta e a arquitetura da cidade. O mais incrível é que a vista não tem pessoas, uma paisagem aberta para adoradores e até não adoradores da natureza. A ponte feita de madeira já foi destruída e construída múltiplas vezes, algumas destruída devido a cheias, outras por mão humana e isto desde 1124! Em 1567, Andrea Palladio, um famoso arquiteto da época construiu a ponte tal como ela hoje se apresenta. Apesar de ter sido destruída e construída depois de 1567 foi sempre reconstruída seguindo a arquitetura original de Andrea. O seu nome ‘degli Alpini’ é uma homenagem aos Alpini, as tropas da montanha, que em 1948 reconstruiram esta ponte depois de ser destruída por uma bomba durante a segunda guerra mundial. As últimas obras de restauração aconteceram em 2021.

Depois da visita à ponte, passámos pela estátua que mencionei acima, a do escultor Severino Morlin, seguindo pelo centro histórico onde alguns cafés ainda cheios espalhavam música e animação pelas ruas. Durante este passeio e quando saímos da parte histórica não vimos quase ninguém até chegarmos à Bacaria Bed & Breakfast mas a sensação que tivemos foi a de segurança (às vezes ignorância tem as suas vantagens) mas pareceu-nos que Bassano é uma cidade pacata.


No dia seguinte levantamo-nos bastante cedo para poder visitar a cidade durante o dia antes de avançarmos com a nossa viagem. A nossa ideia era apanhar o comboio em Bassano por volta das 3-4 da tarde para a segunda cidade da lista. Assim tomámos o nosso pequeno-almoço, deixámos as malas na Bacaria, que nos deixou à vontade mesmo depois de termos feito o check-out para deixar as malas na acomodação sem ter nenhum valor acrescido.

Esta foi uma viagem de low budget, ou o mais possível, e por isso só fomos visitar os locais com entrada gratuita. Começámos pelo Tempio Ossario, um edifício pelo qual passámos várias vezes e qual imponência não passa despercebida a ninguém. A igreja foi concebida como catedral em 1934 mas tornou-se um ossário dos militares que morreram durante a primeira guerra mundial. A parte de cima, a igreja em si, contém uma exposição sobre a primeira guerra mundial e o papel do exército italiano, formando uma homenagem significativa àqueles que lutaram pelo país. A visita é gratuita, mas tem um significado cultura enorme como podem imaginar.

Em seguida passámos pela ponte nova a chamada de Ponte della Vittoria para uma paisagem que ainda achei melhor do que da ponte velha. É que aliás da ponte nova tem-se a paisagem das montanhas incluindo a ponte velha (vejam a primeira fotografia desta página). Fizemos o percurso junto ao rio entre as duas pontes até chegarmos ao centro histórico de Bassano.

Uma das margens do rio Brenta

Depois de mais umas fotografias tiradas da ponte velha, fomos para o Poli Museo della Grappa, um museu também ele de entrada gratuita, onde se dá a conhecer a história da Grappa, como ela é produzida, e as várias variedades que existem. Este museu, tal como o nome indica, é específica para a marca Poli Grappa que produz esta bebida desde 1898. A Grappa faz parte da cultura italiana, aliás não só apreciada nos tempos modernos mas já no Renascimento altura em que era usada para efeitos terapêuticos, quando a grappa era chamada de ‘água da vida’.

Se pedirem podem fazer uma degustação de grappa, eu ainda antes da viagem li no site oficial que a degustação custava 3,5 euros por 5 diferentes tipos de grappa, mas nós experimentámos duas e não nos foi cobrado nada. Provámos a grappa com sabor a mel e com sabor a mirtilos. A de mirtilos ficou a ganhar e agora olhando para trás devíamos ter arranjado um espacinho para trazer umas garrafinhas. Se virem Poli Grappa à venda em Portugal não deixem de escrever um comentário.

Para passarmos o resto do nosso tempo fomos passeando pelas ruas de Bassano, primeiro pelo castelo, o castelo degli Ezzelini, que agora é basicamente as suas muralhas, pela piazza Garibaldi ao pé da torre cívica e pela piazza Libertà, que marca o centro de Bassano. No final fomos ao jardim (Giardino) Parolini e ainda à livraria Palazzo Roberti, uma das livrarias mais bonitas onde já entrei. Na livraria há um salão para eventos e palestras, onde nas paredes se encontram vários frescos, mas é preciso pedir para puder entrar na sala. Não pedimos mais por vergonha, mas mesmo assim valeu a pena passear pelas várias salas desta livraria.


Quisemos almoçar antes de deixar Bassano e aproveitámos a oportunidade para experimentar a Bacaria da Dante onde comemos os nossos primeiros tramezzini, sanduíches tradicionais italianas feitas de pão branco sem côdea, recheadas e enroladas. Existem vários recheios com carne, peixe, legumes e ovos – cada tramezzino custa cerca de 1,5 a 3 euros, dependendo da loja que os vende e do recheio do tramezzino. Já não sei ao certo, mas acho que aqui cada um custava ou 2,5 ou 3 euros. Para acompanhar os tramezzini pedimos também um apperol spritz, o cocktail mais conhecido de Itália. Cada um custou 3 euros, o que foi um valor muito bom para a qualidade do cocktail.

Apperol spritz e tramezzini

Depois de um descanso a saborear a comida tradicional da zona de Veneto lá pegámos nas nossas malas e fomos de novo apanhar o comboio. Já agora nós fizemos o percurso a pé e ficou mais ou menos 30 minutos, mas também há a opção de apanhar um autocarro. Bassano del Grappa foi uma visita rápida, mas adorámos puder conhecer esta cidade, e de coração e estômagos cheios partimos para a nossa próxima paragem, Veneza.

Numa última nota sobre Bassano del Grappa:

Outros locais que talvez gostaria de ter visitado em Bassano, estes de entrada paga, seriam o museu cívico de Bassano e o museu Sturm. Mas como disse no início, se prolongarem a visita, não deixem de visitar o monte Grappa e percorrer um dos muitos trilhos da zona como por exemplo passear pelo Sentiero del Brenta.

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